São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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SEGURANÇA

Associação aponta valor histórico de unidades

Anúncio de destruição de 100 mil armas causa reação de entidades

DA SUCURSAL DO RIO

A destruição de 100 mil armas, anunciada para domingo pelo governo do Rio, causou reação de vendedores, donos e colecionadores. A Associação Nacional dos Proprietários e Comerciantes de Armas move quatro ações judiciais e deve impetrar mais duas para tentar embargar o evento.
O relações públicas da entidade, Leonardo Arruda, diz que o objetivo é salvar armas históricas ou que poderiam ir para a polícia, além das ligadas a processos em curso. "Se o processo não acabou, a arma tem de ser preservada."
Com o material resultante da quebra das 100 mil unidades, será criada uma escultura pelo desarmamento. Mas o depósito da Dfae (Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos), da Polícia Civil, ainda tem de 110 mil a 130 mil unidades guardadas. No ano passado, a Dfae recebeu 11.692 armas. Em 1990, foram 6.561.
A Secretaria Estadual da Segurança obteve autorização do Tribunal de Justiça para destruir o que foi recebido até março de 96, mesmo com processo em curso.
No arsenal há revólveres da Guerra do Paraguai, fuzis, um revólver espanhol Defensor, usado pelo Exército nos anos 20, revólveres Ordonance (do século 19) e armas da revolta de Canudos.
"É palhaçada, um crime contra o patrimônio nacional", diz o museólogo Walter Merling, presidente da Associação Brasileira dos Colecionadores de Armas.
Merling disse que 5.000 das cerca de 20 mil armas que ele examinou possuem valor histórico.
O diretor da Dfae, Fernando Oseas Vasconcelos, disse que foram preservadas algumas armas -ele não sabe quantas- de valor histórico ou usadas em crimes de repercussão. A polícia pedirá ao Exército para ficar com elas.
Parceiro no ato pelo desarmamento, o coordenador do Viva Rio, Rubem Cesar Fernandes, considerou política a reação à destruição. "Esse pessoal reage porque quer vender arma."
Para policiais que trabalham no depósito, a saída das 100 mil armas foi um alívio, pois os galpões estavam superlotados e o trabalho ficava a cada dia mais difícil.
Segundo um policial, as armas ficaram lá muito tempo. "Quando vem alguém buscar arma velha, a gente diz que elas estão repousando nos braços do Exército e que a missa será domingo." (FERNANDA DA ESCÓSSIA)


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