São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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SAÚDE

Programa estadual, com medicamentos gratuitos, concorre com o do governo federal, que criou venda subsidiada

Farmácia tucana distribuirá remédios em SP

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem qualquer articulação com a prefeitura da cidade, gestora do sistema de saúde, e duas semanas depois do lançamento do programa petista Farmácia Popular, o governo tucano do Estado de São Paulo lançou ontem na capital o Farmácia Dose Certa. No próximo sábado, o PSDB realiza convenção para homologar a candidatura de José Serra à prefeitura.
Serão dez postos do programa estadual em estações do metrô. Distribuirão 40 tipos de remédio gratuitamente a usuários do sistema público de saúde.
Todos os medicamentos serão produzidos pela Furp (Fundação para o Remédio Popular), maior laboratório público do país, com sede em Guarulhos (Grande São Paulo). A idéia dos tucanos é abrir as farmácias dentro de 60 dias, em plena corrida eleitoral.
O governo estadual já tem um programa chamado Dose Certa, só que este distribui a cesta com 40 remédios a prefeituras de todo o Estado, sem a visibilidade dos quiosques que serão instalados no metrô. Na capital, o Dose Certa dá recursos para que a prefeitura compre medicamentos.
O programa federal Farmácia Popular, lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também tem dez unidades em subprefeituras da capital paulista. Vende 84 produtos, também fabricados por laboratórios públicos, mas a preços subsidiados e a toda a população -não importa se a receita é da rede pública ou privada.
Com o Farmácia Popular e o Farmácia Dose Certa, a cidade ganha duas redes "paralelas" à dos 386 postos de saúde da cidade, que sofrem da falta de itens.
"São projetos totalmente distintos, porque uma coisa é vender remédio, outra é distribuir gratuitamente", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ontem, durante o lançamento do programa, ao ser questionado se a iniciativa é uma contraposição ao Farmácia Popular. O programa federal tem sido criticado por vender remédios, o que contraria o princípio de universalidade do sistema público.

Alternativa
Durante o lançamento, o programa estadual foi apresentado como uma alternativa ao Farmácia Popular. Também foram feitas críticas à falta de medicamentos nas farmácias dos postos de saúde municipais. "O governo do Estado identificou um problema, principalmente aqui na capital, onde os postos de saúde, às vezes, não têm disponíveis os remédios para ser fornecidos às pessoas que passaram por consulta", disse o secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata.
"Se a pessoa, aqui em São Paulo, não conseguir o remédio no posto, no hospital em que ela fez a consulta, e se ela não tiver dinheiro para adquirir dinheiro na Farmácia Popular, poderá ter como alternativa a Farmácia Dose Certa, que dispensará os remédios gratuitamente", continuou o secretário estadual.
Durante o evento foi também anunciada a abertura de uma segunda fábrica da Furp, no interior de São Paulo.
"Isso, com certeza, vai reverter em benefício da população mais carente, que eventualmente precisa recorrer a farmácias populares", afirmou o superintendente da Furp, Edson Nakazome.

Planejamento
A disputa entre os programas fará com que exista uma sobreposição das redes em algumas regiões, como o centro da capital, onde já há uma Farmácia Popular no distrito Sé e, no futuro, haverá uma Farmácia Dose Certa na estação Sé de metrô.
Além disso, nenhum dos programas se propõe a resolver a falta de medicamentos básicos onde eles deveriam estar: nos postos de saúde perto das casas.
A aposentada Tieco Tacaguti, 61, já desistiu de ir ao posto de saúde próximo à sua casa, em Pinheiros (zona oeste), em busca de medicamento para dor.
Segundo Tacaguti, sua aposentadoria não permite comprar os medicamentos. "Falam sempre a mesma coisa. Que não tem."
De acordo com a presidente da Associação Paulista de Saúde Pública, Aurea Ianni, o município, por ter a gestão plena do sistema de saúde, deveria ser o responsável pelo planejamento dos serviços. Para Ianni, a maneira como os programas estão sendo implantados, sem entendimento, configura "uma disputa", com contornos eleitorais.


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