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SAÚDE
Programa estadual, com medicamentos gratuitos, concorre com o do governo federal, que criou venda subsidiada
Farmácia tucana distribuirá remédios em SP
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem qualquer articulação com a
prefeitura da cidade, gestora do
sistema de saúde, e duas semanas
depois do lançamento do programa petista Farmácia Popular, o
governo tucano do Estado de São
Paulo lançou ontem na capital o
Farmácia Dose Certa. No próximo sábado, o PSDB realiza convenção para homologar a candidatura de José Serra à prefeitura.
Serão dez postos do programa
estadual em estações do metrô.
Distribuirão 40 tipos de remédio
gratuitamente a usuários do sistema público de saúde.
Todos os medicamentos serão
produzidos pela Furp (Fundação
para o Remédio Popular), maior
laboratório público do país, com
sede em Guarulhos (Grande São
Paulo). A idéia dos tucanos é abrir
as farmácias dentro de 60 dias, em
plena corrida eleitoral.
O governo estadual já tem um
programa chamado Dose Certa,
só que este distribui a cesta com
40 remédios a prefeituras de todo
o Estado, sem a visibilidade dos
quiosques que serão instalados no
metrô. Na capital, o Dose Certa dá
recursos para que a prefeitura
compre medicamentos.
O programa federal Farmácia
Popular, lançado pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, também
tem dez unidades em subprefeituras da capital paulista. Vende 84
produtos, também fabricados por
laboratórios públicos, mas a preços subsidiados e a toda a população -não importa se a receita é
da rede pública ou privada.
Com o Farmácia Popular e o
Farmácia Dose Certa, a cidade ganha duas redes "paralelas" à dos
386 postos de saúde da cidade,
que sofrem da falta de itens.
"São projetos totalmente distintos, porque uma coisa é vender remédio, outra é distribuir gratuitamente", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ontem,
durante o lançamento do programa, ao ser questionado se a iniciativa é uma contraposição ao Farmácia Popular. O programa federal tem sido criticado por vender
remédios, o que contraria o princípio de universalidade do sistema público.
Alternativa
Durante o lançamento, o programa estadual foi apresentado
como uma alternativa ao Farmácia Popular. Também foram feitas
críticas à falta de medicamentos
nas farmácias dos postos de saúde
municipais. "O governo do Estado identificou um problema,
principalmente aqui na capital,
onde os postos de saúde, às vezes,
não têm disponíveis os remédios
para ser fornecidos às pessoas que
passaram por consulta", disse o
secretário de Estado da Saúde,
Luiz Roberto Barradas Barata.
"Se a pessoa, aqui em São Paulo,
não conseguir o remédio no posto, no hospital em que ela fez a
consulta, e se ela não tiver dinheiro para adquirir dinheiro na Farmácia Popular, poderá ter como
alternativa a Farmácia Dose Certa, que dispensará os remédios
gratuitamente", continuou o secretário estadual.
Durante o evento foi também
anunciada a abertura de uma segunda fábrica da Furp, no interior
de São Paulo.
"Isso, com certeza, vai reverter
em benefício da população mais
carente, que eventualmente precisa recorrer a farmácias populares", afirmou o superintendente
da Furp, Edson Nakazome.
Planejamento
A disputa entre os programas
fará com que exista uma sobreposição das redes em algumas regiões, como o centro da capital,
onde já há uma Farmácia Popular
no distrito Sé e, no futuro, haverá
uma Farmácia Dose Certa na estação Sé de metrô.
Além disso, nenhum dos programas se propõe a resolver a falta
de medicamentos básicos onde
eles deveriam estar: nos postos de
saúde perto das casas.
A aposentada Tieco Tacaguti,
61, já desistiu de ir ao posto de
saúde próximo à sua casa, em Pinheiros (zona oeste), em busca de
medicamento para dor.
Segundo Tacaguti, sua aposentadoria não permite comprar os
medicamentos. "Falam sempre a
mesma coisa. Que não tem."
De acordo com a presidente da
Associação Paulista de Saúde Pública, Aurea Ianni, o município,
por ter a gestão plena do sistema
de saúde, deveria ser o responsável pelo planejamento dos serviços. Para Ianni, a maneira como
os programas estão sendo implantados, sem entendimento,
configura "uma disputa", com
contornos eleitorais.
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