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Lula autoriza Aeronáutica a prender "sabotadores"
Prisões serão baseadas no regulamento militar, já que inquéritos militares são lentos
Ontem os aeroportos
enfrentaram o terceiro dia
consecutivo de atrasos de
vôos; prisão acirrou ânimos
entre os controladores
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse internamente
que "quer dar um basta" no
caos aéreo e autorizou o Comando da Aeronáutica a "endurecer" com os controladores
de vôo de tráfego aéreo.
Além dos inquéritos militares que já correm e são muito
lentos, a decisão é prender, com
base no regulamento disciplinar, os líderes, que são qualificados como "sabotadores". Em
caso de reincidências, isso pode
resultar em expulsão.
Oficialmente, o Planalto divulgou que Lula disse ao comandante da FAB, brigadeiro
Juniti Saito, que "a Aeronáutica deve tomar todas as medidas
que considerar adequadas para
estabelecer o fluxo e a normalidade do tráfego aéreo". Na
FAB, as medidas consideradas
"adequadas" são as prisões administrativas imediatas.
Conforme a Folha apurou, a
ordem de detenção do presidente da federação dos controladores, Carlos Trifilio, é apenas o início da onda de detenções. O argumento, no caso dele, foi dar entrevistas sem autorização e contra superiores.
Segundo o controlador Maurício Pereira, secretário da categoria em Guarulhos (SP), a
ordem de prisão de Trifilio e a
ameaça de endurecimento "entornaram o caldo e a situação
ficou insustentável". Os líderes
moderados, que defendem a
negociação com o governo, estariam sendo isolados pelos
mais radicais, que pregam um
confronto mais direto.
O presidente da associação
brasileira de controladores,
Wellington Rodrigues, teria sido inclusive vetado no Cindacta-1 "pelos que querem botar
fogo no circo", conforme relato
de Pereira que a Folha não
conseguiu confirmar até a conclusão desta edição.
Ontem, no terceiro dia de
caos nos aeroportos, provocado, segundo a Aeronáutica, pelos controladores do Cindacta-1, em Brasília, os vôos voltaram
a registrar espaçamentos bem
superiores ao padrão para pouso e decolagem, gerando assim
novos atrasos e cancelamentos.
O pico do problema, nesses
três dias, foi entre 15h e 19h30,
o que a Aeronáutica entende
como forma de atingir o ponto
nevrálgico da aviação civil, que
é o Sudeste, especialmente São
Paulo, e com isso obter mais
destaque na imprensa.
Até as 18h30 de ontem,
38,1% dos vôos previstos tiveram atraso superior a uma hora
e 8,2% foram cancelados. Na
quarta-feira, no mesmo horário, havia 25,1% de vôos atrasados e 5,7% de cancelamentos.
Na terça-feira, o pretexto para o que a Aeronáutica qualifica
de operação-padrão foi que os
monitores não estavam nítidos, o que os supervisores e
técnicos não confirmaram.
Na quarta, além disso, houve
uma pane no sistema de comunicação da Embratel. Os controladores negam que estejam
fazendo operação-padrão.
Ontem, o problema adicional
foi a falta de pessoal, agravada
pelo acúmulo de atrasos e cancelamentos da véspera e pela
ausência de um supervisor.
Para o controlador Maurício
Pereira, que foi sargento, mas
hoje é civil e trabalha para a Infraero (a estatal responsável
pela infra-estrutura aeroportuária), a ameaça da Aeronáutica de prender ou até expulsar
cerca de 50 controladores é vazia, porque o sistema não teria
como funcionar sem eles.
"Demite 50 e acha que acabou? Acha que aí o resto do
pessoal sossega? E a segurança? Aí é que o problema vai ficar pior ainda", disse ele, por
telefone, insinuando que a
ameaça da Aeronáutica é blefe,
pois não há profissionais em
condições de assumir os consoles de controle de tráfego.
Pereira disse que a solução é
a desmilitarização do setor e
que, para isso, só a Presidência
da República ou a Casa Civil teriam autoridade para negociar.
E criticou Lula: "O problema
é que o presidente faz de conta
que não é com ele".
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