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Juíza suspeita de ajudar facção é afastada
Foi a primeira medida contra uma autoridade do Judiciário de São Paulo por suspeita de envolvimento com o PCC
Ida Inês Del Cid foi flagrada em conversas telefônicas com acusado de participar de esquema de lavagem de dinheiro dos criminosos
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Suspeita de favorecer pessoas apontadas como integrantes da facção criminosa PCC
(Primeiro Comando da Capital), a juíza Ida Inês Del Cid, da
2ª Vara de Mauá (ABC), foi
afastada do cargo ontem. Trata-se da primeira medida contra uma autoridade do Judiciário paulista por possível ligação
com o grupo criminoso.
O afastamento foi determinado porque a juíza foi flagrada
em conversas telefônicas com
Sidnei Garcia, vice-presidente
da Associação Comercial da cidade e acusado de compor um
grupo de 18 pessoas que usariam, segundo o Ministério Público, 22 postos de combustível
para lavar dinheiro para o PCC.
Conforme a Folha informou
dia 11, o empresário Douglas
Martins do Prado, 38, fez, em
dezembro de 2006, uma série
de denúncias à Corregedoria
Geral de Justiça de São Paulo
sobre a conduta da magistrada
e de Maria Eugênia Pires, também juíza do fórum de Mauá.
Durante seis meses, Prado
não foi interrogado pela Corregedoria. Ele, que pediu o afastamento da juíza "por conduta
em desacordo com o cargo", foi
terça-feira ao TJ e insistiu para
ser ouvido.
Dois dias depois, a saída de
Ida Inês foi anunciada. Na sessão, com decisão unânime, desembargadores do órgão especial se disseram "preocupados
com a atuação do PCC".
O TJ também anunciou, na
mesma notificação publicada
no "Diário Oficial", o desmembramento do processo das duas
juízas. No caso de Ida Inês, que
ficará fora das funções até o fim
das investigações, foi decretado segredo de Justiça.
Na notificação, os nomes das
juízas aparecem somente com
as iniciais.
O suposto envolvimento das
duas juízas com pessoas apontadas como integrantes do PCC
começou a ser investigado
quando o empresário Prado
comprou, no fim de 2005, uma
casa de R$ 600 mil de Gildásio
Siqueira Santos, também acusado de colaborar com a facção
criminosa.
Após a conclusão do negócio,
Santos entrou na Justiça e alegou não ter recebido integralmente o valor do imóvel. Prado, por sua vez, afirma ter feito,
a pedido de Santos, parte dos
pagamentos em contas de terceiros indicados por ele.
Coube a magistrada Maria
Eugênia Pires julgar a causa.
Ela deu ganho a Santos, que
conseguiu ficar com o imóvel.
Prado alega que a juíza não
apreciou as comprovações de
que quitou o imóvel.
Revoltado com o que classifica como golpe, Prado investigou Santos e descobriu a rede
de postos. As informações dele
acabaram na polícia e vários telefones foram grampeados.
Nos grampos para rastrear
Santos, a polícia flagrou conversas de Sidnei Garcia com
Ida Inês.
Grampos
Garcia tratava Ida Inês como
"My Love" e ela devolvia: "palhaço", "trouxa" e "amore". Em
outra gravação, a juíza diz a
Garcia: "Ei...Eu podia estar matando, roubando, me prostituindo. Estou me arrumando".
Embora atuasse em Mauá, a
juíza concedeu, num plantão
que fazia em Santo André, liberdade a um homem preso em
flagrante por porte ilegal de arma. O acusado seria segurança
na loja de carros de Garcia.
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