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CRISE NA SEGURANÇA
Presidente de entidade nacional de comandantes diz que tropas enviaram sinais, que Estados não notaram
Governadores foram insensíveis, diz PM
Jefferson Coppola/Folha Imagem
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Coronel Rui César Melo, comandante-geral da PM de São Paulo |
DA REPORTAGEM LOCAL
Os governadores dos Estados
onde as greves estouraram neste
ano foram insensíveis aos apelos
de seus comandantes sobre o clima de insatisfação observado na
tropa e não se anteciparam, apesar dos sinais de alerta que estão
sendo apresentados desde 97.
Essa é a opinião do coronel Rui
César Melo, 50, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo
e atual presidente do Conselho
Nacional de Comandantes das
PMs e Bombeiros. "É preciso se
antecipar. Não se pode ficar reagindo. É um incentivo para que se
faça mais greves", afirma.
Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha:
Folha - O governo federal tem cobrado rigidez dos Estados. O senhor acha que o caminho contra a
greve é a repressão armada?
Rui César Melo -Não é problema
de repressão armada. Em primeiro lugar, a coisa tem que ser tratada com os comandantes. Os governadores têm de estar sensíveis
às informações que vêm dos comandantes. Eles procuram transmitir o que está ocorrendo. Agora, os comandantes têm limitações para suas atitudes. No máximo, o que podem fazer é conversar e explicar. É preciso adotar
medidas antes da explosão.
Folha - E o senhor acha que está
faltando sensibilidade por parte
dos governadores?
Melo -Acho que falta. Há um distanciamento dos governadores
em relação aos comandantes de
suas polícias. Não estou falando
isso com relação a São Paulo.
Aqui não há esse problema. De
uma maneira geral, o que a gente
observa é isso mesmo.
Folha - Há quem defenda punição
severa aos grevistas, sob pena de
haver mais paralisações...
Melo - É claro. Por isso que eu digo que falta sensibilidade para o
governo. Se o governador se antecipa, conversa com os comandantes, procura se inteirar do que está
acontecendo, ele evita uma greve
e dá força ao comandante. Agora,
quando ele transige nisso e, de repente, ocorre a greve, ele cede e isso é horrível. É péssimo.
Folha - Para o senhor, o que explica as greves?
Melo -Essas movimentações,
que pese a gente não aprove de
maneira nenhuma, estão ligadas a
algumas deficiências nas condições de trabalho dos policiais. Falo de uma forma geral, inclusive
dos policiais civis. Estão relacionadas com a falta de condições e
fundamentalmente à questão salarial, que no Brasil é uma vergonha. Você tem policiais ganhando
cerca de R$ 4.000 por mês e outros
ganhando cerca de R$ 400 por
mês. É uma diferença exorbitante.
Folha - Como?
Melo -Estou falando de base salarial. De um agente civil, por
exemplo, do Distrito Federal, de
um agente de Polícia Federal e de
um agente da Paraíba ou de Alagoas, que ganha R$ 400. As atividades são todas semelhantes.
Tem estresse, tem perigo. Policiais civis e militares têm trabalhado conjuntamente com policiais federais, por exemplo. Ali
um agente da Polícia Federal, correndo o mesmo risco, ganha R$
4.000, e o policial militar e o civil
ganham R$ 800, a base de salário
aqui em São Paulo.
Folha - O senhor é favorável a um
piso nacional?
Melo -Sim. Nós deveríamos ter
um piso salarial nacional para que
se evitasse as tremendas diferenças. São profissionais que executam a mesma tarefa. Alguns correndo um pouco mais de risco do
que outros. Em São Paulo se corre
mais risco que nos outros lugares.
(ALESSANDRO SILVA)
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