São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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VIOLÊNCIA

Desempregado vai para favela com mulher doente e filho de menos de 2 anos

Tráfico expulsa família de casa em conjunto do Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Aterrorizado com as ameaças de traficantes, um trabalhador desempregado abandonou a casa no conjunto Nova Sepetiba (zona oeste do Rio) e se mudou para uma favela com a mulher, que tem câncer, e o filho, um bebê que ainda não completou dois anos.
Na casa, ficaram (e ficarão, porque ele não voltará mais para o conjunto) os móveis, a maior parte das roupas e alimentos.
Ele não se identifica com medo de ser localizado e assassinado. O motivo: foi jurado de morte pelos traficantes do conjunto porque conversava com os policiais militares que patrulhavam o lugar.
Ele decidiu ir embora há três semanas. Deixou para trás a casa própria, após 40 anos em casebres alugados na Baixada Fluminense.
O sonho durou pouco mais de seis meses. Ele trocou Nova Iguaçu (Baixada) pelo conjunto no fim de novembro do ano passado, quando ganhou a casa do Estado. "Pensei que minha vida estava arrumada, depois de muito sofrimento. Tinha casa, emprego e família vivendo dignamente."
Hoje, a situação é bastante diversa. Neste ano, descobriu que a mulher sofre de câncer. Ela está pesando 40 kg. Auxiliar de segurança, ele foi despedido e ainda não arrumou outro emprego.
Antes da mudança, ele chegou a procurar a 36ª DP. Os policiais não fizeram nada, ao contrário dos traficantes, que descobriram o relato. "Eles disseram que, seu ficasse [no conjunto", teria de arcar com as consequências. Mandaram sair até o final de junho."
O tráfico no Nova Sepetiba, diz, tem "bocas" de cocaína e maconha em uma área próxima à vizinha Base Aérea de Santa Cruz, da Aeronáutica. Também há venda de drogas nas "casas coloridas", um dos pontos do conjunto.
Ele diz não saber qual facção controla o tráfico. "Ouço falar no Terceiro Comando e no Comando Vermelho. Não sei qual é, não entendo dessas coisas. Acho que tem dos dois lá. Também não sei quem é o dono do negócio."
O principal bando do tráfico, diz, é da favela Vila Pinheiro, no complexo da Maré (zona norte). Há cerca de 500 ex-moradores da favela no conjunto, uma comunidade conhecida como Uga-Uga.



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