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VIOLÊNCIA
Desempregado vai para favela com mulher doente e filho de menos de 2 anos
Tráfico expulsa família de casa em conjunto do Rio
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Aterrorizado com as ameaças
de traficantes, um trabalhador desempregado abandonou a casa no
conjunto Nova Sepetiba (zona
oeste do Rio) e se mudou para
uma favela com a mulher, que
tem câncer, e o filho, um bebê que
ainda não completou dois anos.
Na casa, ficaram (e ficarão, porque ele não voltará mais para o
conjunto) os móveis, a maior parte das roupas e alimentos.
Ele não se identifica com medo
de ser localizado e assassinado. O
motivo: foi jurado de morte pelos
traficantes do conjunto porque
conversava com os policiais militares que patrulhavam o lugar.
Ele decidiu ir embora há três semanas. Deixou para trás a casa
própria, após 40 anos em casebres
alugados na Baixada Fluminense.
O sonho durou pouco mais de
seis meses. Ele trocou Nova Iguaçu (Baixada) pelo conjunto no fim
de novembro do ano passado,
quando ganhou a casa do Estado.
"Pensei que minha vida estava arrumada, depois de muito sofrimento. Tinha casa, emprego e família vivendo dignamente."
Hoje, a situação é bastante diversa. Neste ano, descobriu que a
mulher sofre de câncer. Ela está
pesando 40 kg. Auxiliar de segurança, ele foi despedido e ainda
não arrumou outro emprego.
Antes da mudança, ele chegou a
procurar a 36ª DP. Os policiais
não fizeram nada, ao contrário
dos traficantes, que descobriram
o relato. "Eles disseram que, seu
ficasse [no conjunto", teria de arcar com as consequências. Mandaram sair até o final de junho."
O tráfico no Nova Sepetiba, diz,
tem "bocas" de cocaína e maconha em uma área próxima à vizinha Base Aérea de Santa Cruz, da
Aeronáutica. Também há venda
de drogas nas "casas coloridas",
um dos pontos do conjunto.
Ele diz não saber qual facção
controla o tráfico. "Ouço falar no
Terceiro Comando e no Comando Vermelho. Não sei qual é, não
entendo dessas coisas. Acho que
tem dos dois lá. Também não sei
quem é o dono do negócio."
O principal bando do tráfico,
diz, é da favela Vila Pinheiro, no
complexo da Maré (zona norte).
Há cerca de 500 ex-moradores da
favela no conjunto, uma comunidade conhecida como Uga-Uga.
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