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HABITAÇÃO
Número de sem-teto em área da Volkswagen saltou de 300 para 3.000 em três dias; empresa estuda medidas jurídicas
Em São Bernardo, vizinhos reforçam invasão
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma invasão que começou na
madrugada de sábado com cerca
de 300 famílias já reunia quase
3.000 ontem em São Bernardo do
Campo, no ABC paulista. A informação é do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, que organizou a tomada da área de
170 mil m2 da Volkswagen.
A empresa ainda estuda que
medidas jurídicas vai tomar para
reaver o controle da área, que estava desocupada desde 1990.
A "explosão demográfica" começou quando carros de som
passaram pelas ruas e vielas da região informando que a área havia
sido invadida e chamando quem
não tivesse moradia a comparecer. "Tem barracos que estão despencando", diz Iracema Mendes
da Silva, a Aninha, do MTST.
Há favelas perto do terreno,
que, no entanto, também fica próximo do apartamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Das 14h às 17h30 de ontem, quase não parou de entrar gente, algumas pessoas a pé e outras em
carros carregados de materiais,
como madeira e pedaços de plástico. Entre os invasores, há quem
more em casas de parentes, desempregados que pagam aluguel
e também sem-teto.
O terreno é todo de terra, e existe só uma pequena casa logo na
entrada, onde agora funcionam a
cozinha coletiva e a sede da organização do acampamento -batizado de Santo Dias, em homenagem a um operário morto em 79.
Lá funcionou de 1981 a 1990
uma fábrica de caminhões da
Volks. Segundo a empresa, os
prédios foram destruídos há cerca
de dois anos, e a prefeitura recebeu uma parte do terreno, onde
hoje existe um piscinão.
A imensa maioria dos abrigos
dos invasores não pode nem ser
chamada de barraco, são apenas
madeiras fincadas no chão, com
um pedaço de plástico preto por
cima. Em muitos, as pessoas ficam direto sobre a terra.
Como não há infra-estrutura,
muitos familiares e amigos se revezam no local. Uns ficam, enquanto outros saem para tomar
banho e comer em algum lugar.
A coordenação do MTST afirmou que pediria à prefeitura água
potável, caçambas de lixo, banheiros químicos e preservativos.
Segundo uma das organizadoras do MTST no local, Camila Alves, a idéia é criar no terreno um
projeto de assentamento urbano,
com uma horta para subsistência,
um espaço para atividades culturais e educativas e uma área de lazer. Se não houver acordo, a intenção é negociar outro terreno.
No local estavam militantes
com camisetas do PT, mas o
MTST disse que não há nenhum
apoio político regular. A prefeitura afirmou que ainda não tem como reconhecer se a invasão está
ligada a algum grupo político.
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