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São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2003

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HABITAÇÃO

Número de sem-teto em área da Volkswagen saltou de 300 para 3.000 em três dias; empresa estuda medidas jurídicas

Em São Bernardo, vizinhos reforçam invasão

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma invasão que começou na madrugada de sábado com cerca de 300 famílias já reunia quase 3.000 ontem em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. A informação é do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, que organizou a tomada da área de 170 mil m2 da Volkswagen.
A empresa ainda estuda que medidas jurídicas vai tomar para reaver o controle da área, que estava desocupada desde 1990.
A "explosão demográfica" começou quando carros de som passaram pelas ruas e vielas da região informando que a área havia sido invadida e chamando quem não tivesse moradia a comparecer. "Tem barracos que estão despencando", diz Iracema Mendes da Silva, a Aninha, do MTST.
Há favelas perto do terreno, que, no entanto, também fica próximo do apartamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Das 14h às 17h30 de ontem, quase não parou de entrar gente, algumas pessoas a pé e outras em carros carregados de materiais, como madeira e pedaços de plástico. Entre os invasores, há quem more em casas de parentes, desempregados que pagam aluguel e também sem-teto.
O terreno é todo de terra, e existe só uma pequena casa logo na entrada, onde agora funcionam a cozinha coletiva e a sede da organização do acampamento -batizado de Santo Dias, em homenagem a um operário morto em 79.
Lá funcionou de 1981 a 1990 uma fábrica de caminhões da Volks. Segundo a empresa, os prédios foram destruídos há cerca de dois anos, e a prefeitura recebeu uma parte do terreno, onde hoje existe um piscinão.
A imensa maioria dos abrigos dos invasores não pode nem ser chamada de barraco, são apenas madeiras fincadas no chão, com um pedaço de plástico preto por cima. Em muitos, as pessoas ficam direto sobre a terra.
Como não há infra-estrutura, muitos familiares e amigos se revezam no local. Uns ficam, enquanto outros saem para tomar banho e comer em algum lugar.
A coordenação do MTST afirmou que pediria à prefeitura água potável, caçambas de lixo, banheiros químicos e preservativos.
Segundo uma das organizadoras do MTST no local, Camila Alves, a idéia é criar no terreno um projeto de assentamento urbano, com uma horta para subsistência, um espaço para atividades culturais e educativas e uma área de lazer. Se não houver acordo, a intenção é negociar outro terreno.
No local estavam militantes com camisetas do PT, mas o MTST disse que não há nenhum apoio político regular. A prefeitura afirmou que ainda não tem como reconhecer se a invasão está ligada a algum grupo político.


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