|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mãe das crianças mortas quer criar abrigo
Maria de Fátima Diogo disse que cuidar de carentes poderá amenizar a perda dos três filhos, mortos a tiros pelo pai
A decoradora disse não odiar o ex-marido, que se suicidou após os crimes, e acreditar que foi "um momento de desespero"
REGIANE SOARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A decoradora Maria de Fátima Diogo, 41, pretende abrir
uma casa para abrigar crianças
e adolescentes carentes como
forma de amenizar a dor pela
perda dos três filhos, mortos a
tiros pelo pai, o microempresário Elk Alves da Silva, 66, que se
suicidou em seguida. "Quero
ser chamada de mãe", disse.
O crime aconteceu na madrugada de quinta para sexta-feira no apartamento onde Karoline, 16, Elk Júnior, 15, e Derek, 5, moravam com o pai, em
Santana de Parnaíba (Grande
São Paulo).
Maria de Fátima já escolheu
o nome para o abrigo: Casa dos
Três Anjos. "A Casa dos Três
Anjos é a razão para eu continuar vivendo. Sem isso, não
tem como eu sobreviver", disse,
em entrevista à Folha.
Ontem, a decoradora esteve
na delegacia da cidade para saber detalhes sobre a morte dos
filhos. Na conversa, o delegado
titular de Santana de Parnaíba,
Luís Roberto Faria Hellmeister, revelou a ela que o ex-marido possivelmente utilizou calmantes para dopar os filhos e
cometer o crime.
No local, a polícia encontrou
uma cartela do tranqüilizante
Lorazepam com ao menos 19
comprimidos faltando.
Hellmeister disse que o caso
já está esclarecido e só falta receber os laudos necroscópicos
e identificar a motivação do
crime. "Acredito que foi a somatória de muitos fatores, como a derrocada econômica, espiritual e sentimental. Ou seja,
o desânimo com a vida."
Na conversa com o delegado,
Maria de Fátima não soube dizer se o ex-marido, de quem estava separada desde março, fazia algum tratamento médico.
Ela revelou que ele, às vezes,
tomava calmante para dormir.
Uma amiga que acompanhava Maria de Fátima, Rita dos
Reis Silva, disse que as crianças
moravam com o pai desde a separação do casal por exigência
de Elk, que chegou a ameaçar
se suicidar caso não tivesse a
guarda dos filhos.
Sem ódio
Apesar de todo o ocorrido,
Maria de Fátima disse ontem
que não tem ódio do ex-marido
e que o crime "foi um momento
de desespero".
Em entrevista no Jornal da
Record, a decoradora disse sentir saudades dos filhos. "Eu não
consigo nem entender o porquê de tudo isso que está acontecendo. Eu acho que os meus
filhos vão chegar e vão me chamar. Eu sinto falta dos meus filhos. Não sei por que fui privada desse direito. Eu queria
meus filhos perto de mim e eu
não tenho mais."
Maria de Fátima disse que
deixou os filhos com o ex-marido porque confiava nele. "Eu
sempre deixei eles junto do Elk
porque o Elk sempre falou que
iria proteger, iria cuidar da educação dos meus filhos. Minha
filha falou "mamãe, eu vou ficar
com o pai porque eu não quero
que ele fique triste. Eu não quero que o papai sofra"."
O delegado sugeriu a ela que
passe a freqüentar a reunião do
grupo Rap (reaproximação de
adolescentes e pais), que ocorre
todas as quartas-feiras na delegacia. Nesses encontros, jovens
usuários de drogas e seus pais
trocam experiências.
Segundo o delegado, Maria
de Fátima está abalada e chorou muito durante a conversa.
Elk tinha quatro filhas de um
casamento anterior. A Folha
entrou em contato com a família, que não quis se manifestar.
As três crianças foram enterradas em Santana de Parnaíba
no domingo de manhã. Elk foi
enterrado no cemitério Campo
Grande, em Santo Amaro (zona
sul de São Paulo). A mãe não
aceitou que todos fossem enterrados juntos.
Texto Anterior: Há 50 anos: Proposta dos EUA ganha força Próximo Texto: Frases Índice
|