São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2006

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Mãe das crianças mortas quer criar abrigo

Maria de Fátima Diogo disse que cuidar de carentes poderá amenizar a perda dos três filhos, mortos a tiros pelo pai

A decoradora disse não odiar o ex-marido, que se suicidou após os crimes, e acreditar que foi "um momento de desespero"


REGIANE SOARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A decoradora Maria de Fátima Diogo, 41, pretende abrir uma casa para abrigar crianças e adolescentes carentes como forma de amenizar a dor pela perda dos três filhos, mortos a tiros pelo pai, o microempresário Elk Alves da Silva, 66, que se suicidou em seguida. "Quero ser chamada de mãe", disse.
O crime aconteceu na madrugada de quinta para sexta-feira no apartamento onde Karoline, 16, Elk Júnior, 15, e Derek, 5, moravam com o pai, em Santana de Parnaíba (Grande São Paulo).
Maria de Fátima já escolheu o nome para o abrigo: Casa dos Três Anjos. "A Casa dos Três Anjos é a razão para eu continuar vivendo. Sem isso, não tem como eu sobreviver", disse, em entrevista à Folha.
Ontem, a decoradora esteve na delegacia da cidade para saber detalhes sobre a morte dos filhos. Na conversa, o delegado titular de Santana de Parnaíba, Luís Roberto Faria Hellmeister, revelou a ela que o ex-marido possivelmente utilizou calmantes para dopar os filhos e cometer o crime.
No local, a polícia encontrou uma cartela do tranqüilizante Lorazepam com ao menos 19 comprimidos faltando.
Hellmeister disse que o caso já está esclarecido e só falta receber os laudos necroscópicos e identificar a motivação do crime. "Acredito que foi a somatória de muitos fatores, como a derrocada econômica, espiritual e sentimental. Ou seja, o desânimo com a vida."
Na conversa com o delegado, Maria de Fátima não soube dizer se o ex-marido, de quem estava separada desde março, fazia algum tratamento médico. Ela revelou que ele, às vezes, tomava calmante para dormir.
Uma amiga que acompanhava Maria de Fátima, Rita dos Reis Silva, disse que as crianças moravam com o pai desde a separação do casal por exigência de Elk, que chegou a ameaçar se suicidar caso não tivesse a guarda dos filhos.

Sem ódio
Apesar de todo o ocorrido, Maria de Fátima disse ontem que não tem ódio do ex-marido e que o crime "foi um momento de desespero".
Em entrevista no Jornal da Record, a decoradora disse sentir saudades dos filhos. "Eu não consigo nem entender o porquê de tudo isso que está acontecendo. Eu acho que os meus filhos vão chegar e vão me chamar. Eu sinto falta dos meus filhos. Não sei por que fui privada desse direito. Eu queria meus filhos perto de mim e eu não tenho mais."
Maria de Fátima disse que deixou os filhos com o ex-marido porque confiava nele. "Eu sempre deixei eles junto do Elk porque o Elk sempre falou que iria proteger, iria cuidar da educação dos meus filhos. Minha filha falou "mamãe, eu vou ficar com o pai porque eu não quero que ele fique triste. Eu não quero que o papai sofra"."
O delegado sugeriu a ela que passe a freqüentar a reunião do grupo Rap (reaproximação de adolescentes e pais), que ocorre todas as quartas-feiras na delegacia. Nesses encontros, jovens usuários de drogas e seus pais trocam experiências.
Segundo o delegado, Maria de Fátima está abalada e chorou muito durante a conversa.
Elk tinha quatro filhas de um casamento anterior. A Folha entrou em contato com a família, que não quis se manifestar.
As três crianças foram enterradas em Santana de Parnaíba no domingo de manhã. Elk foi enterrado no cemitério Campo Grande, em Santo Amaro (zona sul de São Paulo). A mãe não aceitou que todos fossem enterrados juntos.


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