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Supletivos crescem 60%; cursos não são avaliados
Modalidade, que atende alunos fora da idade ideal, não tem diagnósticos de qualidade
Para especialistas, docentes não estão preparados para lidar com a educação de jovens e adultos; nível já possui 4,6 milhões de alunos
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem uma avaliação sistemática da qualidade dos cursos, as
matrículas nos supletivos, agora chamados de educação de jovens e adultos (EJA), cresceram 60,3% nos últimos oito
anos no país. Uma das justificativas para isso é a pressão do
mercado de trabalho. No mesmo período (97 a 2005), o número de alunos no básico regular aumentou apenas 4,75%.
O crescimento ocorreu sem o
acompanhamento de exames
que possam gerar dados sobre
qualidade e nível de aprendizado dos alunos. O sistema regular é avaliado pela União desde
1995 por meio do Saeb.
Para especialistas, o maior
problema dos supletivos é a falta de preparo dos professores
para lidar com um público mais
velho e que trabalha. O próprio
MEC reconhece que é preciso
avançar nesse ponto. "Há espaço para um acompanhamento
mais detalhado", afirmou à Folha o diretor do Departamento
de Educação de Jovens e Adultos do ministério, Timothy Ireland. Ele divide responsabilidades com Estados e municípios.
Os supletivos atendem alunos maiores de 15 anos que não
terminaram o ensino fundamental (até a oitava série) e
com mais de 18 anos que não
concluíram o médio.
Pesquisadores confirmaram
que faltam indicadores para
avaliar os supletivos. Mas, pela
análise das políticas adotadas e
pelo contato com alunos e professores, eles afirmam que o
sistema está com problemas.
"O formato da escola para jovens e adultos não atende às
necessidades básicas de aprendizagem", disse Stela Piconez,
docente da USP que coordena o
Núcleo de Estudos sobre EJA e
de Formação Permanente de
Professores da universidade.
Piconez afirma que a modalidade deveria ser desenhada para um perfil de aluno que é mais
velho e que já trabalha. "Os temas não são relacionados ao
cotidiano do trabalho, e a grade
prevê cinco aulas diárias, o que
é impossível para alguém que já
trabalhou oito horas no dia."
O coordenador-geral da ONG
Ação Educativa, Sérgio Haddad, aponta outro problema.
"Não existe formação de EJA
para os professores. Em muitas
universidades, não há sequer
uma disciplina sobre o tema",
completa Haddad, que estudou
a educação de adultos em seu
mestrado e doutorado na USP.
"O poder público encara o EJA
como um favor, não como um
dever", disse Hebe Tolosa, da
Associação de Pais e Alunos das
Escolas do Estado de SP.
Mesmo sem uma avaliação
sistemática, 4,619 milhões de
estudantes brasileiros estavam
matriculados em supletivos no
ano passado, de acordo com dados mais recentes.
Essa etapa ganha importância principalmente porque cerca de 67 milhões de brasileiros
com mais de 15 anos não terminaram o ensino básico, segundo dados do MEC.
Apesar de as turmas de primeira a oitava série ainda ficarem com 73,5% do total das
matrículas nos supletivos, foi
no ensino médio que ocorreu a
maior taxa de crescimento. O
número de alunos passou de
pouco mais de 390 mil, em
1997, para 1,223 milhão em
2005 (veja quadro).
A procura pode ser explicada
não só pelo menor prazo para
terminar os estudos (enquanto
o ensino médio regular são três
anos, o EJA pode ser feito em
dois ou menos) mas também
pela exigência do mercado de
trabalho. Essa constatação é
confirmada por quem atua na
contratação de profissionais.
"O nível mais baixo de exigência que temos é o ensino médio", afirmou a consultora de
recursos humanos Meire Fujimoto, da Catho (consultoria de
recolocação profissional). A
empresa oferece, hoje, 168 mil
vagas -para nenhuma delas
aceita-se apenas o ensino fundamental. Para quem possui só
o ensino médio, diz Fujimoto,
os salários são em média de R$
500, para funções como vendedor ou para telemarketing.
Haddad e Piconez lembram
ainda que a procura aumentou
porque há hoje mais concluintes no ensino fundamental, que
foi praticamente universalizado na década passada.
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