|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MEIO AMBIENTE
Pesquisador teme que se inicie um círculo vicioso de ressecamento e megaincêndios na região
Seca ameaça Amazônia, diz cientista
MARCELO LEITE
enviado especial a Macapá
Nenhum pesquisador fala mais
da Amazônia como pulmão da
Terra, só como ar condicionado
-o maior do mundo. É um serviço que a floresta presta a este pedaço do planeta, resfriando e
umidificando o clima para 20 milhões de habitantes da região, mas
seu motor pode literalmente
queimar num futuro próximo.
O alerta partiu dos pesquisadores Paulo Moutinho e Daniel
Nepstad, do Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia (Ipam).
Foi feito no Seminário de Consulta Biodiversidade na Amazônia,
que se realiza até sábado sob a
coordenação do Instituto Socioambiental (ISA).
Moutinho coordenou a discussão num dos 12 grupos do seminário, o que tinha por objetivo
identificar áreas prioritárias para
a manutenção das "funções ecológicas" da floresta. Esses "serviços ambientais" incluem efeitos
benéficos como a fixação de gás
carbônico da atmosfera e a manutenção do regime de chuvas.
As áreas mais importantes estão
na parte oriental da Amazônia,
sobretudo no Pará. Abrangem
cerca de um terço da região.
Floresta queimada ou destruída
libera CO2, aumentando o efeito
estufa (um "cobertor" de gases
como o carbônico, que retém calor perto da superfície), e diminui
a evapotranspiração, mecanismo
que devolve água da floresta para
a atmosfera. Esse fenômeno é responsável por grande parte da precipitação na região. Dito de outro
modo: a floresta gera sua própria
chuva, até 50% do total.
"O futuro climático da região
depende da floresta em pé, que faz
o serviço de ar condicionado", diz
Moutinho, 37, biólogo paulista
que mora há dez anos no Pará.
Ele teme que se inicie um círculo vicioso de ressecamento e megaincêndios na região, como o
que assolou Roraima em 1998.
Naquele desastre, 14 mil km2 de
floresta pegaram fogo, uma área
comparável ao desmatamento de
todo um ano. "A paisagem está ficando inflamável", diz Moutinho.
Os principais fatores de ressecamento são climáticos, como as secas causadas pelo El Niño, e a exploração de madeira, que rareia a
cobertura vegetal e expõe o solo à
radiação solar. Qualquer um deles pode iniciar o curto-circuito
que desligaria o condicionador.
Esse risco é mais forte na parte
leste da Amazônia (veja mapa).
Trata-se da região mais sujeita a
secas. Também está entre as que
mais sofreram a ação predatória
das madeireiras e da pecuária.
Para Moutinho, incluir os serviços de áreas florestadas -inclusive as degradadas e reservas extrativistas- permite mudar o patamar do debate de prioridades.
"Tira um pouco a discussão dessa
história de que tem de preservar a
floresta sem gente dentro", diz.
Texto Anterior: Vestibular: FMU encerra inscrições hoje; Unip prorroga prazo da seleção Próximo Texto: Crime ambiental terá pena mais dura Índice
|