São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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CRIME ORGANIZADO

Carro com 30 quilos de explosivos foi localizado em Campinas após prisão da mulher de Geleião, um dos líderes da facção criminosa

PCC planejava explodir a Bovespa, diz polícia

Marcelo Alves/Reuters
Operação da polícia para desativar explosivo que estava em porta-mala de Gol na rodovia Anhanguera


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Trinta quilos de explosivos de alto poder destrutivo abandonados no porta-malas de um carro, no km 91 da rodovia Anhanguera, em Campinas (95 km de SP). Assim terminou ontem, segundo a polícia, um suposto plano do PCC (Primeiro Comando da Capital) de realizar um atentado no prédio da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) às vésperas do segundo turno das eleições.
A ação teria sido ordenada por um dos líderes do PCC, José Márcio Felício, o Geleião, de dentro do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes (589 km da capital). Como a penitenciária possui bloqueador de celular, Petronilha Maria de Carvalho Felício, 51, mulher de Geleião, teria organizado a ação por ordem do marido. Ela foi presa anteontem, quando saía de uma visita a Geleião na cadeia.
O atentado teria sido descoberto no começo da semana passada, quando a Bovespa foi alertada da ação. Segundo o promotor Roberto Porto, do Gaeco (Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado), há um mês a polícia e o Ministério Público monitoram as ações de Petronilha por meio de escutas telefônicas.
Porto disse que as escutas não permitiam saber o dia e a hora do atentado, só que ele iria ocorrer até a próxima sexta-feira. A ação, segundo a polícia, seria um protesto contra a permanência de Geleião e outros líderes do PCC em Presidente Bernardes, que possuiu uma disciplina mais severa em relação aos outros presídios do Estado.
Segundo a polícia, o PCC planejava iniciar uma onda de atentados para desmoralizar o governo. "A Bovespa representa o centro financeiro, como era o World Trade Center", disse Porto. Segundo ele, o atentado do dia 11 de setembro influenciou o PCC, a ponto de Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda, virar gíria para se referir a quem faria os ataques.
"A Bovespa é uma área muito movimentada, e um atentado poderia custar muitas mortes", disse o diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) de São Paulo, Godofredo Bittencourt.
Segundo a polícia, Petronilha recebia ordens de Geleião e as repassava, por telefone, a Nilson Alcântara dos Reis, o Faísca, preso na penitenciária de Iaras (282 km de SP). As conversas entre os dois, que somam quase 20 horas em um período de um mês, são as principais provas da polícia do envolvimento do PCC no caso.
Nessas conversas, segundo a polícia, Petronilha dava ordens, recebia dados das operações e dava parabéns pelos serviços bem executados.
Ela é acusada de ter ordenado a execução de ações como três atentados contra a PM ocorridos nos últimos 15 dias, em Guarujá, São Paulo e Campinas.
O mais grave, em Campinas, provocou a morte do soldado da PM Simão Pedro Ribeiro Queiroz, 43. Ele foi morto com dois tiros de fuzil no último dia 8.
Faísca teria feito contato com quatro pessoas que estão sendo procuradas e que teriam obtido os explosivos em Campinas.
Os explosivos, industriais, têm sua venda controlada pelo Exército e são utilizados na construção civil. Segundo a polícia, o material é do mesmo tipo do utilizado no atentado ao Fórum da Barra Funda, em março deste ano.
Em caso de detonação, a quantidade de explosivos mataria todas as pessoas que estivessem em um raio de 30 metros e seria suficiente para derrubar um prédio.
Segundo o promotor, após a prisão, Petronilha telefonou para integrantes da quadrilha e ordenou que os explosivos fossem abandonados. Na madrugada de ontem, a polícia recebeu um telefonema informando a localização dos mesmos.
O carro, um Gol, foi roubado por volta das 2h30 de ontem do metalúrgico João Cláudio dos Santos, 56, por dois homens, no Jardim do Lago, periferia de Campinas -próximo ao local onde o veículo foi abandonado.
Segundo Bittencourt, o carro serviria para levar o artefato para São Paulo, mas um sistema de corte de combustível interrompeu a viagem na estrada. O veículo foi deixado no acostamento da pista, com o capô aberto e um triângulo de sinalização.


Colaboraram ANA PAULA MARGARIDO e MÁRIO TONOCCHI, da Folha Campinas

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