São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRIME EM PORTO SEGURO

Para defensor de um dos sete estudantes acusados pela morte de garçom, há erros; delegada nega

Advogados tentam anular o flagrante

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Advogados e familiares dos sete estudantes de Brasília acusados de matar o garçom Nelson Simões dos Santos, 39, iniciaram ontem uma batalha jurídica para tentar anular o auto de flagrante e desqualificar o trabalho de investigação da delegada Antonia Valadares Andrade, de Porto Seguro (705 km ao sul de Salvador).
"O auto de prisão em flagrante foi mal elaborado, está cheio de erros primários", disse o advogado Jonas Fontenele, 43, contratado para defender Mauro Coelho de Souza, 19, um dos estudantes acusados de matar o garçom.
No final da tarde de ontem, Fontenele também encaminhou à Justiça de Porto Seguro um pedido de habeas corpus para o seu cliente. "Outros advogados contratados pelas demais famílias adotaram a mesma posição."
O advogado também disse que está trabalhando para transferir um eventual julgamento popular dos acusados para outro município. "Entendemos que o clima de comoção será muito grande em Porto Seguro."
O crime aconteceu no final da noite de quinta-feira. De acordo com a PM, os rapazes (cinco universitários e dois menores) ocupavam duas mesas do restaurante Sabor do Sul e consumiam bebidas compradas em outra barraca.
Santos teria se aproximado e sugerido que os estudantes deixassem o local, já que cerca de 20 clientes estariam aguardando, em pé, vagas nas mesas. Revoltados com o garçom, os sete teriam iniciado um bate-boca e, em seguida, agredido Santos com socos, pontapés e cadeiradas.
Transferido para o Hospital Luís Eduardo Magalhães, o garçom, que trabalhava no estabelecimento havia seis meses, morreu em consequência de traumatismo craniano, segundo laudo assinado pelo legista Paulo Badaró.
A versão do advogado Fontenele é bem diferente. "Houve uma briga generalizada, envolvendo diversos clientes e funcionários do estabelecimento, e não apenas os estudantes, em que todos bateram e todos apanharam."
Para o advogado, o garçom morto foi um dos responsáveis pela briga. "Ele puxou a toalha da mesa e, com esse gesto, atirou um copo de bebida no rosto de um dos estudantes", afirmou.
Além de Mauro Souza, foram presos em flagrante Fernando Ferreira Von Sperling, Victor Tadeu Antunes Araújo, Artur Alencar Ferreira de Melo, Thiago Barroso Marnet (todos com 19 anos, detidos na Delegacia de Proteção ao Turista) e os menores A.P.M. e F.M.R., ambos de 17 anos, que estão em uma sala do Complexo Policial de Porto Seguro.
O Ministério Público informou que a transferência dos dois menores para o complexo atende a todos os requisitos da legislação.
A delegada afirmou que não houve nenhuma irregularidade na prisão dos acusados em flagrante. "Tudo foi muito transparente, dentro da legislação, com a presença dos advogados."

Viúva
A balconista Eronilda Célia dos Santos, 36, mulher do garçom assassinado, disse que seu marido estava "muito feliz" com a comissão de R$ 40 que recebia por noite no restaurante. "Estávamos guardando a metade da comissão para construir uma pequena casinha." Ela recebe R$ 300 por mês como funcionária de uma farmácia.
O advogado Sérgio Eid, 50, que vai trabalhar como assistente de acusação, disse que vai aguardar o encaminhamento dos processos para pedir indenização.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: De classe média, jovens cursaram escola particular
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.