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ASFALTO SELVAGEM
Ser fechado ou ter a vaga de estacionamento roubada são itens citados por motoristas de São Paulo
Estudo revela causas de estresse no trânsito
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Carro pára no meio do cruzamento na praça Charles Muller, na região central de São Paulo |
FABIO SCHIVARTCHE
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na próxima vez que o trânsito
parar completamente, olhe para o
lado. Alguns motoristas estarão
calmamente falando ao celular ou
relaxando com uma música tranqüila. Outros, nervosos, vão botar
a mão na buzina ou virar na contramão para fugir dali rapidinho.
Entre os calminhos pode estar a
estudante Mariel Trabulse, 22,
que tenta adotar uma postura zen
para encarar o estresse. No segundo grupo, talvez encontre o analista de sistemas Cleber de Camargo Campos, 21, que instalou uma
buzina mais potente em seu Corsa
para extravasar.
Em comum, o fato de ambos já
terem passado por situações de
extrema irritação no trânsito da
cidade de São Paulo, cuja frota já
ultrapassa 5 milhões de veículos.
Eles não estão sozinhos. Pesquisa realizada com 500 motoristas
paulistanos no ano passado sugere quais são as principais razões
de estresse e de comportamentos
agressivos ao volante.
Ser "fechado" numa estrada liderou a lista do que mais incomoda (foi motivo de irritação de
96,2% dos entrevistados), seguido
por ter alguém dirigindo muito
próximo ao seu pára-choque traseiro ou com farol alto e ter sua
vaga "roubada" por outro veículo
na espera para estacionar. Esses
itens foram citados por mais de
nove em cada dez motoristas.
Os motoristas se queixam, mas
também admitem cometer seus
"pecados" no trânsito -28,8%
dizem exceder os limites de velocidade, situação que é uma das
principais causas de acidentes. E,
diante de supostos erros dos outros, 37,8% reconhecem reagir
com hostilidade, como gestos e
gritos, e 29,8%, com a buzina.
O resultado dessas entrevistas é
parte da tese de doutorado que a
psicóloga Gislene Maia de Macedo, 35, vai defender na Universidade de São Paulo em novembro.
Professora da Universidade Católica Dom Bosco (MS), discutirá
o tema no 6º Congresso Brasileiro
de Psicologia do Trânsito, a ser
realizado de 10 a 13 de novembro
em Campo Grande.
Para sua pesquisa, ela entrevistou homens e mulheres de diversas faixas etárias, que conduzem
seus veículos no mínimo três vezes por semana. Em suas conclusões, relaciona a agressividade ao
volante a comportamentos de risco dos mesmos motoristas.
"Situações que impedem ou dificultam a mobilidade são as
maiores causadoras de estresse, o
que acaba gerando um comportamento agressivo", afirma.
O resultado das entrevistas revela uma teia de contradições dos
motoristas, que demonstram não
ter consciência das situações de
risco em que acabam envolvidos.
Quase 95% dos condutores dizem se irritar com quem fica muito perto do pára-choque traseiro
de seu veículo, mas 26% admitem
que também costumam "grudar"
no carro da frente para forçá-lo a
andar rápido ou a dar passagem.
O "pecado" no trânsito (violações à lei ou comportamentos
agressivos) que os entrevistados
mais admitiram cometer também
chama a atenção de especialistas:
49% se dizem impacientes com
um motorista lento na faixa da esquerda e, por isso, tentam ultrapassá-lo pela direita.
Um outro resultado das entrevistas indica a falta de consciência
em relação aos riscos de acidentes
viários, que deixam mais de 30
mil mortos por ano no Brasil: 18%
admitem dirigir mesmo sabendo
que ingeriram mais álcool do que
a quantidade permitida.
"São violações graves da lei, mas
que muitas vezes não incomodam
os motoristas porque eles sabem
que fazem algo parecido", diz Horácio Figueira, engenheiro especialista em segurança de tráfego.
Colaborou RICARDO WESTIN, da Reportagem Local
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