São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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Mulheres mostram a cara em eventos de São Paulo

Salão do Automóvel, Mostra de Cinema e Bienal reúnem recatadas e exibidas

Perfil das freqüentadoras varia de acordo com cada um dos três eventos que ocorrem ao mesmo tempo na cidade de São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

O gracejo mais criativo que a estudante de arquitetura Beatriz Fabri ouviu no Salão do Automóvel, onde está fazendo um bico como modelo, foi: "Como eles conseguiram colocar um avião dentro de um carro?"
Se o engraçadinho estivesse na Mostra de Cinema ou na Bienal de Artes Plásticas -outros dois ambientes visitados pela Folha para traçar o perfil de freqüentadoras em eventos em São Paulo-, ele seria relegado ao mais obscuro exílio.
"Meu namorado é inteligente", resume a atriz gaúcha Tainá Müller, 24, para explicar o seu tipo, na festa de inauguração da mostra. O felizardo, 27 anos, é escritor, e, diz ela, "já escreveu três livros".
Na festa, que reuniu na quinta-feira passada cerca de mil pessoas da área na boate The Week (templo gay em noite hetero), Tainá se apresenta.
"Fiz o último filme do Beto Brandt"." É..? ""Cachorro sem Dono". Sou protagonista."
Tainá tem a pele clara, veste um top negro decotado e está um pouco alta de cerveja; isso dá a ela uma aura de "linda, porém desprotegida", a cujo apelo não há intelectual que resista.
"Sou ligadaça em cinema", diz, vergando ligeiramente.

Macho sensível
Ali ao lado, também desacompanhada, está a italiana Manuela Mandler, 31: com 1,78 m, 61 kg e um largo sorriso estilo "mamma mia", Manuela conta que está no Brasil há nove anos, desde que se apaixonou por um paulista e se mudou para cá.
"Agora estou com outro, troquei de brasileiro", diz, já quase sem sotaque, e, por isso mesmo, discretamente misteriosa.
Ao contrário do razoável contingente de desertoras que preferem os homens estrangeiros e dizem "meu namorado é um chef francês", ou "um financista novaiorquino", ou "um conde italiano", Manuela não se arrepende de ter feito o caminho inverso.
"Aqui os homens são femininos, sensíveis e muito machos. A gente vê que eles estão acostumados a se virar em uma porção de situações difíceis, sem perder o humor."
Bom: antes que a média dos brasileiros se anime, ela explica que prefere as exceções.
"Meu tipo são os muito altos, morenos, elegantes", diz ela, eliminando já de saída, como se diz no popular, "toda a torcida do Corinthians".
Um filme bom? "Invasões Bárbaras".
Gosta dos diretores italianos? "Adoro Bertolucci, quando não faz grandes produções, como "O Pequeno Buda'", diz Manuela, que um dia pensou em ser astrofísica, mas, depois de estudar um pouco o assunto, percebeu que não era exatamente o que queria.

A personagem
Justine Otondo, 31, é filha de francês e argentina, trabalha com produção de cinema e cita como filme preferido "Laranja Mecânica". Quer muito ver o novo filme do Cao Hamburger e não perde por nada o ciclo de cinema político italiano.
Se fosse inventada, Justine não seria uma personagem tão perfeita. Ela responde às perguntas com um sorridente desdém; tem os cabelos avermelhados esmaecidos e usa um "vestidinho da Doc Dog" comprado pelo namorado, o ex-diretor da MTV Daniel Benevides, 41: "É ele quem compra minhas roupas. Acho ótimo", diz ela, ao lado de Benevides, igualmente cool.
"Ele se veste superbem", continua Justine, que o conheceu "em um show do Pavement", que ela não sabia quem era e de quem virou fã, no Sesc Pompéia.
Será que a freqüentadora da mostra iria ao Salão do Automóvel? "Vendi meu carro, só ando de táxi e ônibus, tô feliz da vida. Mas iria, sim, para ver os gadgets tecnológicos..."
Uma amiga da reportagem acode. "Gadgets é tranqueirada tecnológica", explica. "Ih, já vi tudo: ela é "geek'"
Geek?
"São os "obcecados no último" por gadgets.."
Ah.
Agora a Folha está na Bienal, à procura de uma freqüentadora que a represente.
Maíra Nascimento, 27, só não quer ser filmada. "Detesto me ver na TV." Ela está com um jeans justo, uma bota por fora dele e um vestido por cima; mochila. Não parece nada demais perguntar a uma produtora de moda se aquilo é roupa de bienal.
"Não, é roupa de aeroporto", responde Maíra, explicando que está vindo de Belo Horizonte, onde mora, para ver a exposição e seguir depois para um evento de moda no Sul.
Formada em artes plásticas, Maíra responde "Como assim? Conceitual?" quando perguntam se o seu trabalho artístico era similar a alguma coisa que ela viu na exposição.
Na hora da foto, a mais bem-humorada das entrevistadas morre de rir em frente à máquina e, quando se tem a idéia de registrá-la olhando uma obra, ela debocha:
"Quer com o dedinho apontando, pra mostrar que eu entendi a mensagem?"
Só para concluir, e ainda na cena do Salão do Automóvel, Beatriz Fabri, "o avião dentro do carro", sai de seu posto a pedidos para a sessão de fotos.
"Ela é alguma coisa ou a puseram aí só pra enfeitar?", pergunta, sinceramente intrigado, um dos sensíveis visitantes do salão. Ele se mostra muito atraído pelo objeto avião.
Por sua vez, Beatriz, 19, parece sinceramente bem intencionada. "Quero comprar um sofá para a minha mãe", ela justifica, se arriscando a pegar um resfriado dentro de um minivestido cheio de fendas.


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