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Mulheres mostram a cara em eventos de São Paulo
Salão do Automóvel, Mostra de Cinema e Bienal reúnem recatadas e exibidas
Perfil das freqüentadoras varia de acordo com cada um dos três eventos que ocorrem ao mesmo tempo na cidade de São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
O gracejo mais criativo que a
estudante de arquitetura Beatriz Fabri ouviu no Salão do Automóvel, onde está fazendo um
bico como modelo, foi: "Como
eles conseguiram colocar um
avião dentro de um carro?"
Se o engraçadinho estivesse
na Mostra de Cinema ou na
Bienal de Artes Plásticas -outros dois ambientes visitados
pela Folha para traçar o perfil
de freqüentadoras em eventos
em São Paulo-, ele seria relegado ao mais obscuro exílio.
"Meu namorado é inteligente", resume a atriz gaúcha Tainá Müller, 24, para explicar o
seu tipo, na festa de inauguração da mostra. O felizardo, 27
anos, é escritor, e, diz ela, "já
escreveu três livros".
Na festa, que reuniu na quinta-feira passada cerca de mil
pessoas da área na boate The
Week (templo gay em noite hetero), Tainá se apresenta.
"Fiz o último filme do Beto
Brandt"." É..? ""Cachorro sem
Dono". Sou protagonista."
Tainá tem a pele clara, veste
um top negro decotado e está
um pouco alta de cerveja; isso
dá a ela uma aura de "linda, porém desprotegida", a cujo apelo
não há intelectual que resista.
"Sou ligadaça em cinema",
diz, vergando ligeiramente.
Macho sensível
Ali ao lado, também desacompanhada, está a italiana
Manuela Mandler, 31: com 1,78
m, 61 kg e um largo sorriso estilo "mamma mia", Manuela
conta que está no Brasil há nove anos, desde que se apaixonou por um paulista e se mudou para cá.
"Agora estou com outro, troquei de brasileiro", diz, já quase
sem sotaque, e, por isso mesmo, discretamente misteriosa.
Ao contrário do razoável
contingente de desertoras que
preferem os homens estrangeiros e dizem "meu namorado é
um chef francês", ou "um financista novaiorquino", ou
"um conde italiano", Manuela
não se arrepende de ter feito o
caminho inverso.
"Aqui os homens são femininos, sensíveis e muito machos.
A gente vê que eles estão acostumados a se virar em uma porção de situações difíceis, sem
perder o humor."
Bom: antes que a média dos
brasileiros se anime, ela explica
que prefere as exceções.
"Meu tipo são os muito altos,
morenos, elegantes", diz ela,
eliminando já de saída, como se
diz no popular, "toda a torcida
do Corinthians".
Um filme bom? "Invasões
Bárbaras".
Gosta dos diretores italianos? "Adoro Bertolucci, quando não faz grandes produções,
como "O Pequeno Buda'", diz
Manuela, que um dia pensou
em ser astrofísica, mas, depois
de estudar um pouco o assunto,
percebeu que não era exatamente o que queria.
A personagem
Justine Otondo, 31, é filha de
francês e argentina, trabalha
com produção de cinema e cita
como filme preferido "Laranja
Mecânica". Quer muito ver o
novo filme do Cao Hamburger
e não perde por nada o ciclo de
cinema político italiano.
Se fosse inventada, Justine
não seria uma personagem tão
perfeita. Ela responde às perguntas com um sorridente desdém; tem os cabelos avermelhados esmaecidos e usa um
"vestidinho da Doc Dog" comprado pelo namorado, o ex-diretor da MTV Daniel Benevides, 41: "É ele quem compra
minhas roupas. Acho ótimo",
diz ela, ao lado de Benevides,
igualmente cool.
"Ele se veste superbem",
continua Justine, que o conheceu "em um show do Pavement", que ela não sabia quem
era e de quem virou fã, no Sesc
Pompéia.
Será que a freqüentadora da
mostra iria ao Salão do Automóvel? "Vendi meu carro, só
ando de táxi e ônibus, tô feliz da
vida. Mas iria, sim, para ver os
gadgets tecnológicos..."
Uma amiga da reportagem
acode. "Gadgets é tranqueirada
tecnológica", explica. "Ih, já vi
tudo: ela é "geek'"
Geek?
"São os "obcecados no último"
por gadgets.."
Ah.
Agora a Folha está na Bienal,
à procura de uma freqüentadora que a represente.
Maíra Nascimento, 27, só
não quer ser filmada. "Detesto
me ver na TV." Ela está com
um jeans justo, uma bota por
fora dele e um vestido por cima; mochila. Não parece nada
demais perguntar a uma produtora de moda se aquilo é roupa de bienal.
"Não, é roupa de aeroporto",
responde Maíra, explicando
que está vindo de Belo Horizonte, onde mora, para ver a
exposição e seguir depois para
um evento de moda no Sul.
Formada em artes plásticas,
Maíra responde "Como assim?
Conceitual?" quando perguntam se o seu trabalho artístico
era similar a alguma coisa que
ela viu na exposição.
Na hora da foto, a mais bem-humorada das entrevistadas
morre de rir em frente à máquina e, quando se tem a idéia
de registrá-la olhando uma
obra, ela debocha:
"Quer com o dedinho apontando, pra mostrar que eu entendi a mensagem?"
Só para concluir, e ainda na
cena do Salão do Automóvel,
Beatriz Fabri, "o avião dentro
do carro", sai de seu posto a pedidos para a sessão de fotos.
"Ela é alguma coisa ou a puseram aí só pra enfeitar?", pergunta, sinceramente intrigado,
um dos sensíveis visitantes do
salão. Ele se mostra muito
atraído pelo objeto avião.
Por sua vez, Beatriz, 19, parece sinceramente bem intencionada. "Quero comprar um sofá
para a minha mãe", ela justifica, se arriscando a pegar um
resfriado dentro de um minivestido cheio de fendas.
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