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PASQUALE CIPRO NETO
"Do mediano ao medíocre"Vai mal o Palestra. Para
tristeza de mestre Clóvis
Rossi e de outros "parmeristas",
já são sete as derrotas seguidas do
alviverde, cuja camisa um dia foi
vestida por ninguém menos que
Ademir da Guia, Luís Pereira e
outros deuses da bola, mas hoje é
envergada (mais no sentido de
"arquear" ou "curvar" do que no
de "vestir" ou "trajar") por meia
dúzia de pernas-de-pau.
Pois foi exatamente o baixo nível técnico do atual elenco do Palmeiras o que levou Seraphim del
Grande (ex-cartola do clube) a dizer, em entrevista a uma emissora
de rádio, que "o time de hoje possui jogadores que vão do mediano
ao medíocre".
E "mediano" é diferente de
"medíocre"? Se valer a etimologia
e o que está nos dicionários, não
é. No "Aurélio", por exemplo, o
primeiro sentido que se dá para
"medíocre" é o da terceira acepção de "mediano" ("Que não é
bom nem mau; médio, medíocre."). O "Houaiss" confirma isso.
Na prática, porém, a coisa não é
bem assim. No uso efetivo -pelo
menos no Brasil-, faz tempo que
a palavra "medíocre" se distanciou da idéia de coisa média para
se aproximar da idéia de coisa
muito ruim, abaixo da média.
Como se vê, não é nada fácil a
vida dos dicionaristas. Se se prendem à etimologia e ao uso estritamente formal, são criticados. Se
não o fazem, são criticados.
Não foi em vão que a última
edição do "Aurélio" ("Novo Aurélio Século XXI") trouxe nas páginas introdutórias esta citação de
Samuel Johnson (crítico literário
e dicionarista inglês do século 18):
"Todos os outros autores podem
aspirar ao elogio; o lexicógrafo só
pode ter esperança de escapar às
críticas, e mesmo essa recompensa negativa tem sido concedida a
muito poucos". Que o diga o querido Mauro Villar, que fez parte
da equipe do "Aurélio" e comandou o monumental "Houaiss".
Voltando ao caso de "medíocre" e "mediano", convém dizer
que, além de sinônimas, essas palavras são cognatas, isto é, têm
raiz comum, tal qual "belo" e "beleza", "pedra" e "pétreo", "pobre"
e "empobrecer", "fera" e "feroz".
Por falar em "fera" e "feroz", é
bom lembrar que, assim como
muitas vezes o tempo e o uso nos
tiram a percepção de que certas
palavras são cognatas, a semelhança formal nos faz crer que são
cognatos vocábulos que nada têm
que ver uns com os outros.
É esse o caso de "feérico" e "fera"/"feroz", separadas semântica
e etimologicamente por larguíssimo oceano. Ao pé da letra, quem
reage feericamente não reage como fera; reage como fada. O adjetivo "feérico" vem do francês "féerique", que, por sua vez, vem do
substantivo "fée" ("fada"). "Feérico" é "o que pertence ao mundo
das fadas ou é próprio das fadas;
mágico, maravilhoso, deslumbrante". O exemplo que o "Aurélio" dá é "iluminação feérica".
Na prática, porém, esse sentido
não "pega". Recentemente, até
um de nossos grandes e cultos colunistas usou "feericamente" com
o sentido de "ferozmente".
Que fazer? O tempo dirá. Por
enquanto, é claro que os lexicógrafos devem privilegiar o significado literal de "feérico". O decorrente da falsa impressão de cognação é outra história. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve
nesta coluna às quintas-feiras
E-mail - inculta@uol.com.br
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