São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2001

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MISÉRIA

18 jovens vivem em tendas na esquina da av. Brasil com a Gabriel Monteiro da Silva; na Faria Lima, 6 amigos dividem canteiro

Sem-teto "loteiam" avenidas da cidade

PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Avenidas Brasil, Brigadeiro Faria Lima e Pedroso de Morais. Ruas Teodoro Sampaio e Gabriel Monteiro da Silva. Nas praças e "ilhas" dessas vias, em áreas ricas da cidade, vivem em barracos improvisados alguns dos 8.704 moradores de rua de São Paulo.
O cálculo dessa população, do ano passado, é da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). A secretaria municipal da Assistência Social estima que já são 10 mil pessoas nessa situação.
Há cinco meses, 18 jovens -5 meninas e 13 meninos- moram em barracos feitos com lonas de plástico na esquina da avenida Brasil com a rua Gabriel Monteiro da Silva (zona oeste). A maioria trabalha nos cruzamentos perto da praça onde vivem. Limpam pára-brisas em troca de R$ 1.
A.S., 17, divide com mais sete pessoas uma das seis tendas improvisadas. Na sua tenda, são apenas três colchões para todos. Moradora de rua há oito anos, ela espera a ajuda da prefeitura. "Eu estou cansada de ser discriminada, de viver apanhando, com fome e com medo de tudo. Queria que alguém olhasse paro nosso problema e entendesse que a gente não vive aqui porque quer", afirma.
Na penteadeira do barraco de K.M.F, 17, há de cremes a bonequinhos de porcelana. Do lado da cama, improvisada, ela guarda seu "rodinho". "Limpando os vidros, dá pra ganhar uns R$ 150 por mês. Com esse dinheiro, eu compro comida e as coisas que gosto, porque sou vaidosa."
Na Brigadeiro Faria Lima (zona oeste), seis amigos -entre eles uma criança- moram há quatro meses na "ilha" que divide a avenida. Um deles, Felipe Silva, 20, diz que não gosta de morar na rua, mas se recusa a ir para um albergue. "Pelo menos aqui, a gente tem mais liberdade e cada um tem as suas coisas", afirma.
Muitos preferem viver sozinhos. É o caso de Raimundo Sobrinho, 63, que mora desde 1994 em um dos canteiros da Pedroso de Morais (zona oeste). Conhecido no bairro como "poeta", passa os dias escrevendo suas "confissões de natureza pessoal". "Eu deixo as pessoas me darem as coisas, mas não gosto. Elas passam, cumprimentam, mas quero mesmo é ficar sozinho."
O secretário da Assistência Social, Evilásio Farias, disse que já está em fase de implantação projeto para retirar das ruas essa população, atacando "o problema nas suas principais causas, a falta de emprego e moradia".
Haverá uma ampliação de mil vagas e a inauguração de dois novos albergues na cidade. Também está previsto no plano, que tem orçamento de R$ 13,5 milhões para 2002, a locação de casas e repúblicas para moradia provisória.


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