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MISÉRIA
18 jovens vivem em tendas na esquina da av. Brasil com a Gabriel Monteiro da Silva; na Faria Lima, 6 amigos dividem canteiro
Sem-teto "loteiam" avenidas da cidade
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Avenidas Brasil, Brigadeiro Faria Lima e Pedroso de Morais.
Ruas Teodoro Sampaio e Gabriel
Monteiro da Silva. Nas praças e
"ilhas" dessas vias, em áreas ricas
da cidade, vivem em barracos improvisados alguns dos 8.704 moradores de rua de São Paulo.
O cálculo dessa população, do
ano passado, é da Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas). A secretaria municipal da
Assistência Social estima que já
são 10 mil pessoas nessa situação.
Há cinco meses, 18 jovens -5
meninas e 13 meninos- moram
em barracos feitos com lonas de
plástico na esquina da avenida
Brasil com a rua Gabriel Monteiro
da Silva (zona oeste). A maioria
trabalha nos cruzamentos perto
da praça onde vivem. Limpam
pára-brisas em troca de R$ 1.
A.S., 17, divide com mais sete
pessoas uma das seis tendas improvisadas. Na sua tenda, são apenas três colchões para todos. Moradora de rua há oito anos, ela espera a ajuda da prefeitura. "Eu estou cansada de ser discriminada,
de viver apanhando, com fome e
com medo de tudo. Queria que alguém olhasse paro nosso problema e entendesse que a gente não
vive aqui porque quer", afirma.
Na penteadeira do barraco de
K.M.F, 17, há de cremes a bonequinhos de porcelana. Do lado da
cama, improvisada, ela guarda
seu "rodinho". "Limpando os vidros, dá pra ganhar uns R$ 150
por mês. Com esse dinheiro, eu
compro comida e as coisas que
gosto, porque sou vaidosa."
Na Brigadeiro Faria Lima (zona
oeste), seis amigos -entre eles
uma criança- moram há quatro
meses na "ilha" que divide a avenida. Um deles, Felipe Silva, 20,
diz que não gosta de morar na
rua, mas se recusa a ir para um albergue. "Pelo menos aqui, a gente
tem mais liberdade e cada um tem
as suas coisas", afirma.
Muitos preferem viver sozinhos. É o caso de Raimundo Sobrinho, 63, que mora desde 1994
em um dos canteiros da Pedroso
de Morais (zona oeste). Conhecido no bairro como "poeta", passa
os dias escrevendo suas "confissões de natureza pessoal". "Eu
deixo as pessoas me darem as coisas, mas não gosto. Elas passam,
cumprimentam, mas quero mesmo é ficar sozinho."
O secretário da Assistência Social, Evilásio Farias, disse que já
está em fase de implantação projeto para retirar das ruas essa população, atacando "o problema
nas suas principais causas, a falta
de emprego e moradia".
Haverá uma ampliação de mil
vagas e a inauguração de dois novos albergues na cidade. Também
está previsto no plano, que tem
orçamento de R$ 13,5 milhões para 2002, a locação de casas e repúblicas para moradia provisória.
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