UOL


São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

Estratégia adotada foi abrir as portas do estabelecimento para oferecer atividades à comunidade

Escola na BA reduz violência e se torna exemplo para o Bird

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

No topo de uma ladeira, cercada por uma favela por todos os lados e localizada em um dos bairros mais violentos de Salvador, a Escola Estadual Professora Maria Anita encontrou uma fórmula para reduzir a criminalidade dentro e fora dos seus muros.
Com programas simples voltados para os seus 1.500 alunos e para a comunidade de Periperi (35 km do centro de Salvador), o estabelecimento praticamente eliminou a evasão escolar e acabou com pichações, destruições de carteiras e mesas e as constantes brigas dentro da própria escola.
"Antigamente, a escola cumpria apenas a sua obrigação educacional. Depois que constatamos as irregularidades, passamos a funcionar como um verdadeiro shopping center, oferecendo alternativas de lazer e cultura não apenas para os alunos, mas também para a comunidade em geral", disse a diretora Heronita Silva Passos, 52.
Devido ao sucesso do programa implantado, a escola baiana participou há quase um mês, a convite do Bird (Banco Mundial), do 3º Seminário Internacional de Intercâmbios de Experiências de Educação para a Paz, realizado em Bogotá, na Colômbia.

Atividades
Sem deixar de lado o aspecto educacional -o estabelecimento funciona das 7h às 21h40-, a Escola Estadual Professora Maria Anita percebeu que a violência na comunidade não diminuía com os métodos tradicionais de ensino. "Então resolvemos abrir a escola para outras atividades, como batizados, casamentos, pregações religiosas, campeonatos esportivos, festas e danças", explica a diretora Heronita Passos.
Com isso, a barreira que separava a escola da comunidade -um muro de quase 2,5 m de altura- deixou de existir.
"O nosso portão fica aberto o tempo todo. Quem precisar de quadra e das dependências da escola é só pedir que a gente atende", acrescentou a diretora.
Segundo Passos, os próprios moradores da comunidade contribuem para a conservação do estabelecimento educacional.
"É comum as pessoas varrerem, fazerem pequenos reparos e pintarem a escola nas férias ou nos feriados. Na verdade, as pessoas se sentem valorizadas e querem nos retribuir de qualquer maneira."

"É meu espaço"
Suspenso e advertido 23 vezes em apenas um ano, o estudante A., 14, disse que a prática esportiva contribuiu para a sua mudança de comportamento. "Antes, eu era um verdadeiro marginal, só queria brigar e destruir. Agora, a escola é o meu campo, o meu espaço, a minha vida."
Matriculada no primeiro ano do ensino médio, E., 15, disse que o projeto implantado pela escola mudou a sua maneira de encarar a vida. "Os projetos de combate e prevenção à violência trabalham com a inclusão do aluno." Na semana passada, os parentes da estudante fizeram uma festa surpresa, dentro da escola, para comemorar os seus 15 anos.
O estudante E., 13, tem a mesma opinião de sua colega. "Antigamente, a escola era toda pichada com palavrões. Agora, o nosso ambiente é saudável e maravilhoso", diz o aluno.
Até 2001, pelo menos 300 ex-alunos dessa escola haviam sido presos, e outros 20 foram assassinados nos últimos oito anos, de acordo com a diretora.
"Há dois anos, não temos mais registro de nenhum ex-aluno ou aluno envolvido em criminalidade", afirma ela.
Menos de um mês depois de mostrar a sua experiência para os colombianos, a escola baiana já recebeu mais dois convites. "Os governos da Bolívia e do Peru também querem conhecer o nosso trabalho", disse a diretora.



Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Acidente: Chuva derruba árvore e provoca alagamento
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.