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Masp improvisa segurança com vigias sem qualificação
Museu é vigiado por funcionários contratados como orientadores de público
Presidente do Masp diz que sistema existe há mais de 20 anos; para promotor, falta de experiência dos funcionários provocou erros primários
Sidnei Lopes/Folha Imagem
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Carros de polícia em frente ao Masp, que teve obras furtadas |
GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O acervo do Masp (Museu de
Arte de São Paulo), considerado o mais importante da América Latina, é vigiado por funcionários contratados como
orientadores de público, sem
formação em segurança ou registro na Polícia Federal.
A fragilidade do sistema de
vigilância foi revelada anteontem, quando dois quadros dos
pintores Pablo Picasso e Candido Portinari foram furtados do
acervo em apenas três minutos.
Os ladrões usaram um pé-de-cabra e um macaco hidráulico
para invadir o Masp. Nenhum
dos funcionários que fazia a segurança diz ter percebido o furto. Eles não usam armas e não
têm curso na área.
"Não é possível que as pessoas responsáveis por essa exposição sejam tão amadoras no
quesito segurança", afirmou o
promotor Arthur Pinto Lemos
Júnior, do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Combate
ao Crime Organizado), do Ministério Público, designado para acompanhar o caso.
O presidente do Masp, Júlio
Neves, admitiu ontem que
orientadores de público -que,
por exemplo, são usados para
inibir a aproximação de visitantes dos quadros durante os horários de exposição- também
têm a função de atuar como segurança e que esse sistema
existe há mais de 20 anos. Para
ele, não há problema no acúmulo das duas tarefas.
Anteontem, quando esse
desvio de função não era conhecido, a assessoria do Masp
divulgou nota no qual afirmava
que o uso de vigilantes em sistema de ronda é a forma mais
mais eficiente de segurança das
obras. Melhor, inclusive, que
alarmes e sensores, de que o
museu não dispõe.
O promotor classifica essa situação como um absurdo. "Eles
estavam designados para desempenhar uma função para a
qual não tinham capacidade alguma. Todos os funcionários
são pessoas que sequer tinham
curso de vigilância. Não tinham
qualquer experiência para agir
numa situação como essa",
afirmou Lemos Júnior.
À Folha, um dos orientadores de público usados como vigilantes, que não quis se identificar, afirmou que não recebeu
nenhum curso na área de segurança. Ele disse que foi desviado de função sem nenhuma
orientação. Afirmou também
que a responsabilidade desse
desvio não é dos funcionários,
que estariam sendo expostos
pela investigação policial.
Até ontem, 13 funcionários
foram ouvidos pela Polícia Civil. Nove deles eram orientadores que também desempenham a função de segurança.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de
Segurança Privada de São Paulo, os funcionários do museu
usados para guardar o acervo
não podem sequer ser chamados de vigilantes. De acordo
com o sindicato, a função exige
um curso de capacitação em segurança, mesmo se ele não trabalhar armado.
A legislação brasileira também exige que a empresa, se
quiser ter seu próprio corpo de
seguranças, faça um registro na
Polícia Federal, responsável
por fiscalizar o setor. O Masp
não tem esse registro na PF.
Luz apagada
Segundo o promotor do Gaeco, a falta de experiência em segurança dos funcionários provocou erros primários.
Um dele prejudicou o que poderia ser uma das provas decisivas e mais rápidas para esclarecer a identidade dos criminosos: as imagens do circuito interno de televisão.
De acordo com Lemos Júnior, os funcionários afirmaram que eram orientados pela
administração do museu a apagar as luzes à noite por medida
de economia. O presidente do
Masp nega a orientação.
O sistema de câmeras não
tem infravermelho. Na madrugada de anteontem, as imagens
captadas dos três ladrões dentro do Masp não ficaram nítidas, o que prejudicou a investigação policial.
"Vai ser muito difícil identificar essas pessoas agora", disse o
promotor. Também não foram
encontrados vestígios de impressões digitais porque os três
ladrões usavam luvas.
Os documentos da investigação também serão enviados para a Promotoria da Cidadania
de São Paulo. O órgão pode pedir à Justiça, por exemplo, a interdição das exposições até que
seja montado um sistema adequado de segurança. Segundo o
promotor, houve reforço da segurança após o crime.
Colaboraram TEREZA NOVAES E MARIO CESAR CARVALHO, da Reportagem Local
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