São Paulo, sábado, 22 de dezembro de 2007

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Masp improvisa segurança com vigias sem qualificação

Museu é vigiado por funcionários contratados como orientadores de público

Presidente do Masp diz que sistema existe há mais de 20 anos; para promotor, falta de experiência dos funcionários provocou erros primários

Sidnei Lopes/Folha Imagem
Carros de polícia em frente ao Masp, que teve obras furtadas


GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O acervo do Masp (Museu de Arte de São Paulo), considerado o mais importante da América Latina, é vigiado por funcionários contratados como orientadores de público, sem formação em segurança ou registro na Polícia Federal.
A fragilidade do sistema de vigilância foi revelada anteontem, quando dois quadros dos pintores Pablo Picasso e Candido Portinari foram furtados do acervo em apenas três minutos.
Os ladrões usaram um pé-de-cabra e um macaco hidráulico para invadir o Masp. Nenhum dos funcionários que fazia a segurança diz ter percebido o furto. Eles não usam armas e não têm curso na área.
"Não é possível que as pessoas responsáveis por essa exposição sejam tão amadoras no quesito segurança", afirmou o promotor Arthur Pinto Lemos Júnior, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, designado para acompanhar o caso.
O presidente do Masp, Júlio Neves, admitiu ontem que orientadores de público -que, por exemplo, são usados para inibir a aproximação de visitantes dos quadros durante os horários de exposição- também têm a função de atuar como segurança e que esse sistema existe há mais de 20 anos. Para ele, não há problema no acúmulo das duas tarefas.
Anteontem, quando esse desvio de função não era conhecido, a assessoria do Masp divulgou nota no qual afirmava que o uso de vigilantes em sistema de ronda é a forma mais mais eficiente de segurança das obras. Melhor, inclusive, que alarmes e sensores, de que o museu não dispõe.
O promotor classifica essa situação como um absurdo. "Eles estavam designados para desempenhar uma função para a qual não tinham capacidade alguma. Todos os funcionários são pessoas que sequer tinham curso de vigilância. Não tinham qualquer experiência para agir numa situação como essa", afirmou Lemos Júnior.
À Folha, um dos orientadores de público usados como vigilantes, que não quis se identificar, afirmou que não recebeu nenhum curso na área de segurança. Ele disse que foi desviado de função sem nenhuma orientação. Afirmou também que a responsabilidade desse desvio não é dos funcionários, que estariam sendo expostos pela investigação policial.
Até ontem, 13 funcionários foram ouvidos pela Polícia Civil. Nove deles eram orientadores que também desempenham a função de segurança.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Segurança Privada de São Paulo, os funcionários do museu usados para guardar o acervo não podem sequer ser chamados de vigilantes. De acordo com o sindicato, a função exige um curso de capacitação em segurança, mesmo se ele não trabalhar armado.
A legislação brasileira também exige que a empresa, se quiser ter seu próprio corpo de seguranças, faça um registro na Polícia Federal, responsável por fiscalizar o setor. O Masp não tem esse registro na PF.

Luz apagada
Segundo o promotor do Gaeco, a falta de experiência em segurança dos funcionários provocou erros primários.
Um dele prejudicou o que poderia ser uma das provas decisivas e mais rápidas para esclarecer a identidade dos criminosos: as imagens do circuito interno de televisão.
De acordo com Lemos Júnior, os funcionários afirmaram que eram orientados pela administração do museu a apagar as luzes à noite por medida de economia. O presidente do Masp nega a orientação.
O sistema de câmeras não tem infravermelho. Na madrugada de anteontem, as imagens captadas dos três ladrões dentro do Masp não ficaram nítidas, o que prejudicou a investigação policial.
"Vai ser muito difícil identificar essas pessoas agora", disse o promotor. Também não foram encontrados vestígios de impressões digitais porque os três ladrões usavam luvas.
Os documentos da investigação também serão enviados para a Promotoria da Cidadania de São Paulo. O órgão pode pedir à Justiça, por exemplo, a interdição das exposições até que seja montado um sistema adequado de segurança. Segundo o promotor, houve reforço da segurança após o crime.


Colaboraram TEREZA NOVAES E MARIO CESAR CARVALHO, da Reportagem Local


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