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Prefeitura vai exigir transparência da gestão do Masp
Dona do prédio, administração vai exigir mudanças na eleição para presidência do museu, hoje feita por um grupo secreto
Como a cessão do edifício por comodato acaba no próximo ano, prefeitura
vai aproveitar a renovação para impor alterações
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Masp funciona de forma similar a uma sociedade secreta.
O presidente do museu é eleito
a cada dois anos por um grupo
de pessoas cujos nomes são
mantidos em sigilo -o estatuto
não prevê a divulgação. Os eleitores, chamados de sócios, são
indicados por cinco sócios
-daí, a tendência de o presidente se perpetuar no cargo.
A Prefeitura de São Paulo,
dona do prédio do Masp, quer
mudar essa situação. Vai usar o
vencimento da cessão do edifício no próximo ano para exigir
transparência na gestão. O prédio de Lina Bo Bardi foi construído com recursos da prefeitura e entregue em 1968 a uma
entidade de direito privado,
que é dona das obras de arte. O
comodato, válido até 2008, pode ser renovado ou não.
A prefeitura sabe que não
tem condições políticas de retomar o prédio, mas vai aproveitar a renovação do comodato para tentar impor algumas
contrapartidas. A principal delas é a aplicação da legislação
das OSs (organizações sociais),
que prevê a publicidade da gestão. A prefeitura dá cerca de R$
1,2 milhão ao ano para o museu
e alega não saber como esse dinheiro é gasto.
O grupo secreto que elege o
presidente foi inventado nos
anos 1950 por Assis Chateaubriand, o criador do Masp. Há
também um conselho, cuja
composição é conhecida, mas
essa instância tem um poder limitado; só sugere diretrizes.
O arquiteto Júlio Neves se
mantém na presidência do
Masp desde 1994, quando venceu o empresário José Mindlin
por um voto de diferença.
Desde então, Neves foi reeleito por um grupo que ninguém sabe ao certo por quem é
composto. Os poucos nomes
conhecidos dos chamados sócios são de amigos de Neves:
Paulo Neves, filho do arquiteto,
os publicitários João Dória Jr. e
Nizan Guanaes, o cardiologista
Adib Jatene e o galerista Renato Magalhães Gouveia. O Masp
não confirma os nomes.
Neves foi eleito há 13 anos
com a promessa de trazer dinheiro privado para o Masp.
Arquiteto bem-sucedido, ele
propagandeava que usaria sua
rede de conhecidos, sobretudo
empresários e políticos, para tirar o museu da situação combalida que passava após a saída de
Pietro Maria Bardi, o curador
que comprou a coleção espetacular do museu no pós-guerra.
O plano de Neves só foi bem
sucedido na criação de uma reserva técnica, onde são guardadas as obras que não são expostas. O arquiteto também conseguiu reformar o prédio.
Mas Neves foi criticado por
desfigurar a forma de exposição criada por Lina Bo Bardi, a
qual prescindia de paredes e
era elogiada internacionalmente como uma nova forma
de museologia.
Além disso, a luz do museu
foi cortada, um telefone foi desligado por falta de pagamento e
a dívida com o INSS chegou a
R$ 4 milhões, razão pela qual
duas obras foram penhoradas.
O público minguou, as exposições de qualidade tornaram-se cada vez mais escassas e o
museu passou a acumular prejuízos.
Neves apresentou o que chamava de "a salvação" do Masp: a
construção de uma torre de
cerca de 120 metros de altura
ao lado do prédio, a qual receberia o nome de "Masp Vivo"
-o projeto era patrocinado pela operadora de celular.
Em outubro de 2005, o patrimônio histórico da prefeitura
vetou a torre por considerar
que ela desfigurava o prédio de
Lina Bo Bardi, um bem tombado. Neves apresentou um novo
projeto, só de reforma do edifício vizinho, que foi aprovado.
Para quem acha que o furto
de um Picasso e de um Portinari pode fragilizar a situação do
presidente, recomenda-se uma
olhada no que ocorreu nas últimas eleições, em 2006: não havia adversários contra Neves.
Os tucanos pressionam por
mudanças, mas não conseguiram apresentar um candidato.
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