São Paulo, sábado, 22 de dezembro de 2007

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Prefeitura vai exigir transparência da gestão do Masp

Dona do prédio, administração vai exigir mudanças na eleição para presidência do museu, hoje feita por um grupo secreto

Como a cessão do edifício por comodato acaba no próximo ano, prefeitura vai aproveitar a renovação para impor alterações

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Masp funciona de forma similar a uma sociedade secreta. O presidente do museu é eleito a cada dois anos por um grupo de pessoas cujos nomes são mantidos em sigilo -o estatuto não prevê a divulgação. Os eleitores, chamados de sócios, são indicados por cinco sócios -daí, a tendência de o presidente se perpetuar no cargo.
A Prefeitura de São Paulo, dona do prédio do Masp, quer mudar essa situação. Vai usar o vencimento da cessão do edifício no próximo ano para exigir transparência na gestão. O prédio de Lina Bo Bardi foi construído com recursos da prefeitura e entregue em 1968 a uma entidade de direito privado, que é dona das obras de arte. O comodato, válido até 2008, pode ser renovado ou não.
A prefeitura sabe que não tem condições políticas de retomar o prédio, mas vai aproveitar a renovação do comodato para tentar impor algumas contrapartidas. A principal delas é a aplicação da legislação das OSs (organizações sociais), que prevê a publicidade da gestão. A prefeitura dá cerca de R$ 1,2 milhão ao ano para o museu e alega não saber como esse dinheiro é gasto.
O grupo secreto que elege o presidente foi inventado nos anos 1950 por Assis Chateaubriand, o criador do Masp. Há também um conselho, cuja composição é conhecida, mas essa instância tem um poder limitado; só sugere diretrizes.
O arquiteto Júlio Neves se mantém na presidência do Masp desde 1994, quando venceu o empresário José Mindlin por um voto de diferença.
Desde então, Neves foi reeleito por um grupo que ninguém sabe ao certo por quem é composto. Os poucos nomes conhecidos dos chamados sócios são de amigos de Neves: Paulo Neves, filho do arquiteto, os publicitários João Dória Jr. e Nizan Guanaes, o cardiologista Adib Jatene e o galerista Renato Magalhães Gouveia. O Masp não confirma os nomes.
Neves foi eleito há 13 anos com a promessa de trazer dinheiro privado para o Masp. Arquiteto bem-sucedido, ele propagandeava que usaria sua rede de conhecidos, sobretudo empresários e políticos, para tirar o museu da situação combalida que passava após a saída de Pietro Maria Bardi, o curador que comprou a coleção espetacular do museu no pós-guerra.
O plano de Neves só foi bem sucedido na criação de uma reserva técnica, onde são guardadas as obras que não são expostas. O arquiteto também conseguiu reformar o prédio.
Mas Neves foi criticado por desfigurar a forma de exposição criada por Lina Bo Bardi, a qual prescindia de paredes e era elogiada internacionalmente como uma nova forma de museologia.
Além disso, a luz do museu foi cortada, um telefone foi desligado por falta de pagamento e a dívida com o INSS chegou a R$ 4 milhões, razão pela qual duas obras foram penhoradas.
O público minguou, as exposições de qualidade tornaram-se cada vez mais escassas e o museu passou a acumular prejuízos.
Neves apresentou o que chamava de "a salvação" do Masp: a construção de uma torre de cerca de 120 metros de altura ao lado do prédio, a qual receberia o nome de "Masp Vivo" -o projeto era patrocinado pela operadora de celular.
Em outubro de 2005, o patrimônio histórico da prefeitura vetou a torre por considerar que ela desfigurava o prédio de Lina Bo Bardi, um bem tombado. Neves apresentou um novo projeto, só de reforma do edifício vizinho, que foi aprovado.
Para quem acha que o furto de um Picasso e de um Portinari pode fragilizar a situação do presidente, recomenda-se uma olhada no que ocorreu nas últimas eleições, em 2006: não havia adversários contra Neves. Os tucanos pressionam por mudanças, mas não conseguiram apresentar um candidato.


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