São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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VIOLÊNCIA

Em protesto, moradores estenderam os corpos em auto-estrada; PM do Rio afirma que rapazes eram ligados ao tráfico

Operação na Rocinha deixa 3 jovens mortos

RENATA VICTAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Três jovens morreram na madrugada de ontem durante uma operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) na favela da Rocinha, em São Conrado (zona sul). Outro morador e um policial saíram feridos.
Revoltados, os moradores estenderam os corpos na auto-estrada Lagoa-Barra (que passa ao lado da favela) no início da manhã e jogaram pedras nos carros que circulavam pelo local. A manifestação, que chegou a reunir cerca de 300 pessoas, durou uma hora e só acabou com o reforço do policiamento no local.
Segundo a polícia, as mortes aconteceram durante confronto entre 15 policiais e um grupo de traficantes do qual fariam parte os três mortos. Moradores contestaram essa versão e disseram que os policiais já entraram na favela atirando, sem que houvesse reação.
Parentes dos três mortos -de 17, 15 e 13 anos- afirmaram que eles eram estudantes e trabalhadores de uma feira no Jardim Botânico (zona sul).
Inconformado, D.M., que ajudou a colocar o corpo do filho de 17 anos na auto-estrada, disse não ter mais forças para viver. "Fui avisado por amigos que meu filho estava morto. Foi um choque e só pensei em protestar. Peguei o corpo no colo e levei para a rua. A cidade inteira precisava ver a covardia que fizeram com meu filho. Não sei mais o que fazer da vida."

Denúncia de invasão
O comandante do 23º BPM (Leblon, zona sul), tenente-coronel Jorge Braga, disse que a ação foi motivada por uma denúncia indicando que a favela seria invadida por traficantes de uma facção rival. Ele disse que, junto com os corpos dos jovens, foram encontrados radiotransmissores e morteiros, o que comprovaria o envolvimento deles com o tráfico.
O morador Marcelo Rodrigues da Silva, 16, e o soldado Willian Gomes também foram atingidos, mas não correm risco de morte.
Para o subsecretário de Inteligência Operacional da Secretaria de Segurança Pública, Paulo Souto, o confronto fugiu ao controle. "Os policiais foram recebidos a bala, e um deles foi baleado. O confronto ficou sem controle, e a quantidade de vítimas poderia ter sido maior. Em casos assim é preciso estabelecer domínio."
Segundo o presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Willian Oliveira, os jovens tinham acabado de sair de um baile funk quando os policiais chegaram. "Eles foram assassinados de uma forma covarde. Fui avisado de que o Bope subiria, mas para dar segurança, fazer policiamento. Foi uma brutalidade", afirmou Oliveira, que pretende levar o caso ao secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho.
Na manhã de ontem, policiais do Regimento de Polícia Montada de Campo Grande (zona oeste) encontraram três corpos carbonizados não-identificados.


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