São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Geograficamente privilegiada, capital se transforma em alternativa médica para Estados do Norte e Centro-Oeste
Goiânia vira pólo regional de medicina

AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial a Goiânia

Goiânia, a capital do cerrado, está conquistando no Centro-Oeste e Norte do país o lugar que São Paulo e Rio sempre ocuparam no cenário nacional. Na medicina, essa demarcação de território vem se acentuando nos últimos anos.
Na última década, uma dezena de serviços, institutos e profissionais médicos locais se projetaram. Nada que os grandes centros do Sudeste e Sul não estejam oferecendo. Mas bastante para uma região muitas vezes relegada ao papel de sombra da Capital Federal.
Os especialistas estão vendo neste fato o início de um processo de interiorização da medicina.
Nas capitais do Sul e Sudeste já sobram médicos. Nas clínicas e hospitais ao longo da avenida Paulista -onde se concentram centros médicos de SP- há mais equipamentos de alta tecnologia do que na metade norte do país.
``Estamos promovendo a interiorização da medicina'', afirma Marcos Ávila, 42, um mineiro de Uberlândia que está à frente do CBCO, Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos. ``A posição geográfica de Goiânia nos favorece.''
O Hospital Neurológico de Goiânia optou por uma hotelaria simples em troca de equipamentos caros e profissionais com títulos no exterior. ``Somos um dos quatro centros credenciados pelo Ministério da Saúde para cirurgias de epilepsias'', diz Orlando Arruda, 65, diretor do instituto e primeiro a introduzir a neurologia e a neurocirurgia no Estado de Goiás.
``Se você consegue reunir bons serviços e bons profissionais num centro bem localizado, com certeza atrairá boa clientela'', diz Julian Czapski, da Federação Internacional de Hospitais e do Instituto de Planejamento Estratégico em Saúde. ``Há uma tendência cada vez maior da criação de serviços eficientes no interior do país.''

Fila de espera
É isso que estaria acontecendo com Goiânia. Para os hospitais públicos, o aumento da ``clientela'' significa tantos doentes que a fila de espera pode chegar a meses. ``Cerca de 30% das nossas internações são pacientes de Estados do Centro-Oeste e do Norte'', diz o secretário goiano da Saúde, Carlos Mendes. O número vale para centros de referências regionais como o Hospital de Doenças Tropicais, o Hospital de Urgências de Goiás e o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás.
O crescimento da cidade está trazendo de volta a maioria de seus profissionais. ``Cerca de 80% dos nossos médicos são filhos da terra que saíram para estudar, se especializaram e estão retornando'', diz Ibsen Coutinho, presidente da Associação Médica de Goiás e vice da Associação Médica Brasileira.
Goiânia tem hoje 2.700 médicos para 1 milhão de habitantes.


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã