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Gabriel Villela estréia no mundo da moda
JACKSON ARAUJO
free-lance para a Folha
O diretor de teatro Gabriel Villela, 37, é mineiro de Carmo do Rio
Claro. Seu mais recente trabalho,
``O Sonho'', de Strindberg, está
em cartaz até amanhã no teatro Sesi de São Paulo. Conheça as opiniões do encenador sobre moda e
saiba como é o trabalho que ele faz
para a marca mineira Patachou,
que desfila amanhã, às 16h30, na
sala Café, do MorumbiFashion
Brasil.
Folha - Como é este trabalho para a Patachou?
Gabriel Villela - Tem um dado
surpresa que eu não vou contar.
Mas antes de tudo ele foi pensado a
partir da cartela de cores da coleção, que é inspirada nas procissões
e liturgias religiosas de rua de cidades como Ouro Preto. Em comum
a isso tem a estética do barroco,
que trabalho no teatro. A Patachou
não quer uma concepção teatral,
mas uma coisa que fizesse sentido
para apresentar a coleção. Uma
verdade cultural. O que vai acontecer é um desfile extremamente
simples, em que as modelos vão
desfilar em cima de serragem e flores características das procissões.
Folha - Como sua estética está
agregada a este trabalho?
Villela - Sobretudo este condicionamento à cultura mineira, este
conceito de diferenciar mineirice,
tudo o que é pejorativo, da mineiridade, que é a indústria cultural
das raízes. O que acho mais bonito
é a Patachou buscar a referência
cromática dentro do Brasil, numa
manifestação que acontece nas
ruas. A moda dela é uma moda de
rua e, de repente, poder tirar tudo
do chão é maravilhoso. O trabalho
é delicado, artesanal, carinhoso.
Tento reproduzir no chão, na serragem, as cores da cartela.
Folha - Você se importa com a
moda?
Villela - Se eu disser que não,
estou sendo hipócrita. Na moda,
estão implícitas as tendências
comportamentais e psicológicas
da sociedade. Como artista, se eu
não observar isso, acabo ficando
defasado. Nela, tem todos os arquétipos do mundo. A moda é cíclica e dinâmica. E o fato de ela ser
dinâmica é porque o homem muda de cara a cada estação. Eu não
sei me vestir. Só uso botinas e calça
jeans. Admiro os estilistas, pois
são parabólicas de tudo o que está
acontecendo com o homem. Saí da
Patachou na primeira reunião em
frequência com o mundo. A moda
não é fútil como se pensa por aí. Às
vezes ela veste uma caixa d'água
vazia -o que é que a gente pode
fazer? Mas às vezes veste um tonel
de carvalho com o melhor malte
escocês. Aí sim ela tem conteúdo.
Os estilistas são tentáculos de sensibilidade que captam a evolução
do homem.
Folha - Que roupa você está vestindo agora?
Villela - Você quer saber mesmo? (risos) Estou na cama, de cueca Calvin Klein.
Folha - Você acha que existe preconceito da chamada elite intelectual em relação à moda?
Villela - Não sei, pois não faço
parte dela. Posso até ser um produto dela. A elite intelectual é insuportável a qualquer tema. Como
nunca liguei para ela... Mas há uma
discriminação, sim. No MorumbiFashion, por exemplo, quando fui
ver a sala do desfile, disse para uma
pessoa da organização que eu era
mineiro. E ela perguntou: ``Cadê o
pão de queijo?'' Ele não é intelectual, mas também tem preconceito. Por outro lado, a intelectualidade tem capacidade de entender
estes tentáculos que, por sua vez,
alegorizam, materializam e personificam as tendências psicológicas
do ser humano.
Folha - Você acredita em moda
brasileira?
Villela - Acredito em tudo o que
é brasileiro. Mais que isso: acredito
que o Brasil está na moda. Lamentavelmente, está na moda não só
pelo lado maravilhoso, mas também pelo seu lado trágico. O Brasil
vai deixar de ser modismo e vai ser
sinônimo de modernismo para todo o mundo.
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