São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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Morador agride engenheiro ligado a construtora e entrevista vira pancadaria

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

A entrevista coletiva dos representantes da construtora Sersan, responsável pela construção do prédio que desabou parcialmente na Barra da Tijuca, acabou em pancadaria.
Um morador agrediu o engenheiro Sergio Murilo Domingues, que se disse ex-diretor da empresa.
A entrevista seria o primeiro pronunciamento da construtora sobre o acidente e começou às 17h, mais de 12 horas depois do desabamento.
Ela foi organizada em um salão de recreação do prédio onde mora Domingues, próximo ao que desmoronou.
O edifício, no número 270 da mesma rua do condomínio Palace, também foi construído pela Sersan.

Advogado
Além de Domingues, participava da entrevista o advogado Antonio Lourenço, que disse ter sido contratado ontem para resolver os problemas dos moradores que ficaram desabrigados.
Lourenço já havia trabalhado para a empresa e participou de uma reunião com os moradores na época da constituição do condomínio Palace.
Antes mesmo de a entrevista começar, houve muita confusão porque vários moradores queriam estar presentes e a assessoria de imprensa da construtora tentou convencê-los a sair. Eles acabaram ficando.
Lourenço começou a falar. Disse que os moradores tinham conhecimento de que o prédio estava em construção e que não tinha "Habite-se" (licença da prefeitura para ocupação).
Disse também que a empresa havia autorizado os proprietários dos apartamentos a vistoriar seus imóveis para avaliar as condições de habitabilidade, mas afirmou desconhecer que tenha sido autorizada a ocupação dos apartamentos.
A partir daí, os moradores presentes começaram a se exaltar e dizer que o advogado mentia.

Confusão
Quando Domingues, que havia sido apresentado como engenheiro da empresa, disse que não trabalhava mais para ela, o morador Rui Feital correu de trás de onde estavam os jornalistas e passou a agredi-lo.
Seguiu-se uma grande confusão. Marcelo Reis, marido de Fátima, uma das pessoas que desapareceram sob os escombros, chamou os representantes da Sersan de assassinos e gritava: "Quem vai trazer de volta a minha mulher?".
Após a confusão, Domingues tentou continuar falando, de pé. Ele chegou a dizer que os moradores seriam ressarcidos dos prejuízos.
Enquanto ele falava, os moradores começaram novamente a se agrupar à sua volta e dizer que ele tinha que ir embora para não apanhar mais.
Eles reclamaram também a presença do deputado federal Sérgio Naya (PPB-MG), dono da construtora. A família do deputado afirma que não sabe de seu paradeiro (leia texto abaixo).
Domingues dirigiu-se aos elevadores e não mais falou. Só quando ele já estava entrando no elevador chegaram dois policiais militares para tentar acalmar os ânimos.
Logo em seguida, chegaram dois homens com armamentos pesados, que se identificaram como policiais civis. Mas a confusão já havia acabado.



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