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EDUCAÇÃO
Queda na arrecadação de impostos faz universidades reduzirem despesas com contratação e manutenção
Estaduais iniciam ano letivo com cortes
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
As universidades estaduais de
São Paulo -USP, Unicamp e
Unesp-, começaram o ano letivo,
ontem, em clima de corte de gastos
com contratação de professores e
manutenção dos campi.
Os cortes foram provocados pela
queda na arrecadação do ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços), principal
fonte de renda das universidades.
A USP (Universidade de São
Paulo), a maior do Brasil, com 53
mil alunos, suspendeu por tempo
indeterminado a contratação de
professores -só repõe os casos
emergenciais- e cortou 70% dos
R$ 6 milhões previstos para construção e manutenção.
A reitoria da universidade vai
anunciar esclarecer a extensão das
medidas esta semana, mas algumas unidades estão se adiantando.
No caso da vigilância, a maioria
das faculdades terá de cortar cerca
de 30%. Elas também terão de reduzir despesas com água, luz e telefone. Na FEA (Faculdade de Economia e Administração), há quatro postos de vigia. A faculdade
pretende cortar um dos postos.
A unidade também estuda fazer
um "rodízio" de faxina. "Teremos
de reescalonar o trabalho, para
economizar material e profissional", diz o contador Valdemir Silva, do setor financeiro da FEA.
O Instituto de Psicologia vai atrasar a conclusão dos novos blocos,
prevista para este ano. Enquanto
isso, parte do instituto funciona
em um bloco provisório.
Na Unesp (Universidade Estadual Paulista), a situação não é diferente. Cerca de 200 concursos
para contratação de professores
estão parados. A verba para manutenção sofreu corte de 67%.
"O represamento das contratações implica problemas, mas temos de fazer isso para garantir o
equilíbrio orçamentário", diz o
reitor da Unesp, Antonio Manoel
dos Santos Silva.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) "congelou"
95% do orçamento para contratações. A medida não as suspende,
mas dificulta, por exemplo, a reposição de profissionais que tenham
deixado a universidade, que perdeu, por exemplo, 144 professores
desde 94.
A instituição cortou parte do
subsídio da refeição oferecida no
restaurante para os estudantes. O
preço subiu de R$ 1,50 para R$ 2.
Mesmo assim, o déficit se mantém
na ordem de R$ 45 milhões.
Arrecadação
Juntas, as três universidades
paulistas recebem 9,57% da parcela da arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) repassada ao Estado de São Paulo (75% do total).
O tributo é recolhido sobre as transações de compra e venda de mercadorias e produtos e, portanto,
está ligado ao ritmo de atividade
econômica -quanto menos se
vende, menor a arrecadação.
Em 98, o Estado arrecadou R$
17,1 bilhões com ICMS -3,5% menor em relação a 97. Com isso, os
recursos disponíveis para as universidades também diminuíram.
A crise é agravada porque as folhas de pagamento incluem os salários dos professores e funcionários aposentados. Entre 80% e 90%
dos recursos são gastos com salários e aposentadorias.
"Com esse nível de comprometimento, pode-se cortar muito pouco", diz Luís Carlos Guedes Pinto,
pró-reitor de Desenvolvimento da
Unicamp.
O presidente do Cruesp (Conselho dos Reitores das Universidades
do Estado de São Paulo) e reitor da
Unicamp, Hermano Tavares, defende a mudança desse sistema e
propõe a criação de um fundo de
aposentadoria para as três universidades ou a inclusão dos inativos
das universidades no sistema previdenciário do Estado.
Economia
Com os cortes, a Unesp espera
economizar R$ 3 milhões, que permitiria o funcionamento da universidade por dois meses. Haverá
uma reavaliação em abril.
A suspensão de contratações na
instituição ocorre em um contexto
em que há falta de docentes, principalmente por causa do grande
número de aposentadorias. A
Unesp tem hoje 3.260 professores,235 a menos que em 95.
O resultado é a sobrecarga dos
profissionais que ficam na instituição. No Faculdade de Ciências e
Letras do campus de Assis, os professores se revezam para suprir o
déficit de cinco docentes.
"A cada semestre um ou dois docentes assume mais de uma disciplina. Há professores que chegam
a dar 16 horas de aula por semana,
sem contar o tempo de pesquisa e
orientação", diz José Luís Félix, 37,
professor de língua e literatura.
Colaborou
Carla Conte, da Reportagem Local.
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