São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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AVIAÇÃO

BRA diz que água na pista dificultou pouso da aeronave, que tinha 115 passageiros e ficou a menos de 5 metros de cair em avenida

Avião derrapa e causa pânico em Congonhas

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

VICTOR RAMOS
DA REDAÇÃO

Um avião da BRA com 115 passageiros a bordo perdeu o controle na aterrissagem ontem à tarde no aeroporto de Congonhas (zona sul de São Paulo), quando a pista estava molhada devido à chuva. A aeronave atravessou um canteiro da pista principal e parou a menos de cinco metros de cair na avenida Washington Luís. Ninguém ficou ferido.
Os passageiros do vôo -que partiu de Recife- relataram momentos de pânico no interior da aeronave. Uma mulher precisou ser levada ao hospital em razão do nervosismo. O DAC (Departamento de Aviação Civil), a Infraero (empresa que administra os aeroportos) e a BRA investigam as causas do acidente.
A companhia afirmou que, ao tocar o solo, o avião sofreu uma aquaplanagem (quando o pneu perde o contato com a pista devido à água). Por isso, o comandante fez um ziguezague pela pista. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, esse é um procedimento comum em situações como a ocorrida ontem, porque aumenta o espaço de frenagem.
Dois pilotos ouvidos pela Folha em Congonhas, porém, afirmaram que, quando há aquaplanagem, o piloto perde o controle da aeronave. Segundo eles, o ziguezague pode ter ocorrido devido a esse descontrole.

Gritos
A coordenadora de marketing Erica Codeço de Castro, 21, que estava no vôo, afirmou que "o avião foi quicando" ao longo da pista. "Foi um pânico só." De acordo com Castro, o susto permaneceu durante a saída da aeronave, feita por meio de um escorregador inflável usado em situações de emergência. "Saímos caminhando com muito medo de o avião explodir", afirmou.
O advogado Toni Rabelo, 33, disse que os problemas já começaram em Salvador, onde o avião fez uma escala e atrasou cerca de 50 minutos. Na capital paulista, porém, os problemas foram maiores. "Quando chegamos, o comandante avisou que a fila para pouso era grande e que o avião demoraria um pouco para descer. Depois, o avião pousou na chuva, e o comandante perdeu o tempo certo, porque começou o pouso só no meio da pista", disse.
"Houve pânico, muitos gritos e choro. Foi tudo muito rápido. Neste aeroporto, eu não desço mais", afirmou Rabelo.
O susto levou a empresária Laura Mangi, 40, a se lembrar do acidente da TAM, em outubro de 1996, quando morreram 99 pessoas. "Felizmente, hoje o episódio não teve um fim triste."
O problema chegou a assustar também comerciantes da região. "Ouvi um barulho estranho. Quando me virei, vi o avião levantando fumaça e com uma bola de fogo no trem de pouso", disse Eduardo de Souza Pinto, 52, gerente de uma borracharia na Washington Luís -em frente ao ponto que a aeronave parou.

Reclamações
O presidente da BRA, Humberto Folegatti, reclamou das condições do aeroporto. "A pista tem problemas. Inclusive está se aventando a possibilidade de Congonhas vir a ser fechado para reformas. Quando chove, aquaplana." A Infraero afirmou que a pista suporta chuvas intensas.
A presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Moema, Lygia Horta, reclama que o tráfego no aeroporto está muito intenso. "Isso aumenta o barulho na região e a possibilidade de acidentes." Ela afirma que o problema poderia ser resolvido com a proibição de acesso a aviões particulares. "Eles deveriam ir para o [aeroporto] Campo de Marte. Em Congonhas, tomam o espaço das aeronaves", disse.
O movimento em Congonhas cresceu no ano passado. De janeiro a setembro, houve um acréscimo de mais de 10 mil passageiros por dia em relação ao mesmo período de 2004. O salto médio foi de 36 mil para 46 mil.


Colaborou LUÍSA BRITO, da Reportagem Local

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