São Paulo, terça, 23 de março de 1999
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SAÚDE
Comprimido que age como anticoncepcional de emergência chega ao mercado brasileiro com versão própria
Ministério aprova pílula do dia seguinte

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

O Ministério da Saúde aprovou no último dia 11 a primeira pílula contraceptiva de emergência a ser comercializada no país. Trata-se de um envelope com dois comprimidos que devem ser tomados nas horas seguintes à relação e cuja dosagem aumentada atua como "pílula do dia seguinte".
É indicada para "incidentes" e "descuidos", como o rompimento da camisinha, uma eventual relação desprotegida ou indesejada, como nos casos de estupro.
A "pílula do dia seguinte", na verdade, já é usada há mais de 20 anos pelos médicos aumentando-se em até quatro vezes as dosagens das pílulas comuns.
A facilidade, agora, estaria no acesso a uma pílula que já vem com as dosagens adequadas para uma emergência. A pílula, que deve chegar ao mercado em três meses com o nome de Postinor-2, é produzida pelo laboratório Aché.
Cada comprimido contém 0,75 miligramas de levonorgestrel, um hormônio sintético com efeitos semelhantes aos da progesterona e que está presente na maioria das pílulas comercializadas. A quantidade da substância presente corresponde ao de cinco pílulas.

Alerta
A preocupação dos médicos está no uso que será feito do Postinor-2 e de outras pílulas de emergência que surgirão no mercado. A pílula não deverá ser carregada na bolsa para resolver descuidos, alertam os especialistas.
"Este tipo de comprimido ou conduta não deve ser utilizado como anticoncepcional de rotina", alerta Nelson Vitiello, presidente da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana.
"A recomendação é que o preservativo seja sempre usado e que a pílula, como o nome diz, seja utilizada apenas como emergência", afirma Juan Diaz, médico do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Unicamp e consultor do Population Council para a América Latina.
Os contraceptivos de emergência atuam provocando alterações na parede do útero. Estas modificações fazem com que o óvulo, mesmo fecundado, não consiga se fixar, sendo eliminado em seguida.

Eficácia
De acordo com os estudos publicados, a pílula tem eficácia de 95% quando tomada nas primeiras 24 horas, caindo para 85% quando usada entre a 24ª e a 48ª hora. Quando usada entre 48 horas e 72 horas, a eficácia cai para 58%.
Segundo Diaz, muitos estudos utilizando dosagens altas de hormônio já foram realizados, garantindo segurança ao método.
Em setembro do ano passado, o FDA, órgão do governo americano que controla remédios e alimentos, liberou o uso de contraceptivos de altas dosagens como método para evitar a gravidez. Em 1997, o Ministério da Saúde autorizou essa prática nos serviços públicos para casos de estupro.
A Unifesp, Universidade Federal de São Paulo, adota altas dosagens por períodos de três a cinco dias, acompanhadas de tratamentos preventivos contra DSTs e Aids.
"Todos os métodos que permitem interromper a gravidez mais cedo e com menores riscos -quando ela de fato não é desejada-, são um avanço em matéria de saúde pública", diz Abner Augusto Lobão Neto, coordenador do programa de pré-natal personalizado da Unifesp. Segundo o médico, o Brasil registra cerca de 1 milhão de partos de adolescentes por ano, com um número incalculável de gravidez indesejada.
Como outras pílulas de dosagem, o primeiro comprimido de Postinor-2 deve ser tomado logo que o "incidente" for notado. O segundo, 12 horas depois.


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