São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2001

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Beira-Mar teria comandado tortura

DA SUCURSAL DO RIO

Em março do ano passado, o governo e o Ministério Público do Rio divulgaram uma fita em que o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, supostamente comanda a tortura e a morte de Michel Anderson do Nascimento, desaparecido desde agosto de 1999, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense).
Pelos diálogos, a vítima teve as duas orelhas, os dois pés e as duas mãos arrancados e teria sido obrigado a comer as orelhas.
A fita foi gravada pela Polícia Federal, com autorização judicial, a partir da intercepção de um telefone celular utilizado por Fernandinho Beira-Mar.
A gravação, de acordo com o Ministério Público, foi realizada em agosto de 1999. Ela foi submetida a perícia da Polícia Federal, que atestou não existir montagem. Não foi feita perícia para identificação de voz, mas a polícia afirma estar segura de que é Fernandinho Beira-Mar quem fala, baseada em comparações com outras gravações.

Agonia
São cerca de dez minutos de gravação, com descrição detalhada da agonia vivida por Nascimento. O Ministério Público alega que o crime foi vingança de Beira-Mar, pois a vítima teria se envolvido com uma ex-namorada do traficante, Joelma Carlos de Oliveira, também desaparecida.
Foram dois telefonemas sucessivos. Para a polícia, Beira-Mar ligava para um celular onde o homem estava sendo torturado.
Segundo o Ministério Público, há indícios de que três pessoas participaram da tortura. O crime teria acontecido em Duque de Caxias, já que várias vezes eles se referem ao Duque, como é conhecido o hospital da cidade.
No primeiro telefonema, a voz que seria de Beira-Mar pergunta se ele havia comido as duas orelhas e manda que coloquem a vítima ao telefone. "Orelha é gostoso?", pergunta. O torturado afirma que lhe arrancaram a orelha direita e parte da esquerda e que lhe cortaram também os pés.
Sem citar o nome da mulher, a voz pergunta quantas vezes eles tiveram relações sexuais. O torturado responde que somente uma vez. A voz determina então que continuem a tortura, "bem devagarinho", e afirma que voltará a ligar em seguida.
Na segunda gravação, Nascimento afirma que já lhe haviam cortado as mãos. "Está doendo muito?", pergunta o torturador. "Não estou sentindo nada", respondeu a vítima. Em seguida, manda que o matem e que desapareçam com o corpo. No fundo, são ouvidos cinco tiros. O corpo nunca foi localizado.


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