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URBANIDADE
O agricultor da cidade
OPINIÕES
Na Grécia, Platão. Marcou para sempre o pensamento ocidental ao separar o corpo da alma. Mas via o corpo como "prisão" da alma. Em São Paulo, índios. No perímetro urbano vivem duas comunidades, uma no Jaraguá e outra na zona sul. Kaká Werá Jecupé vem de lá, dirige uma ONG para divulgar a cultura índia, é pajé. Já para ele o corpo é "templo" do espírito.
(VINCENZO SCARPELLINI)
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
O hobby de Hans Dieter
Temp é criar hortas comunitárias na periferia da zona
leste de São Paulo; seu prazer está em ver brotarem legumes e
verduras onde antes havia lixo.
Mas não imaginava que o passatempo, que não tinha nenhum
intuito comercial, fosse fazê-lo
mudar de emprego e levar famílias a gastar menos dinheiro para se alimentar e, ao mesmo
tempo, a recuperar áreas degradadas. No hobby, ele põe em prática o que aprendeu (e tinha deixado de usar) na Alemanha, onde estudou técnicas de agropecuária e política ambiental. "Vi
que na Alemanha todos sabem
cultivar seu alimentos. Por que
não no Brasil?", indaga Hans.
Nas horas vagas, saía à procura de terrenos abandonados, entulhados de lixo. Fazia, então,
uma proposta ao dono: manteria gratuitamente a área limpa
desde que, em troca, pudesse cultivar a horta. Com a autorização, recrutava jovens para ajudá-lo na plantação. Não era difícil fazer o recrutamento: muitas
daqueles famílias tinham vindo
do campo. "No começo, era difícil, precisei usar até terra sem
cheiro, havia moradores que reclamavam da terra adubada.
Mas, quando viram a produção,
ficaram todos surpresos."
A informação sobre um certo
sujeito com nome alemão e suas
hortas circulou na Secretaria
Municipal do Verde e do Meio
Ambiente. Até que acabaram sabendo que ele era um funcionário municipal, lotado na Secretaria de Relações Internacionais,
bem distante de qualquer aroma
de hortaliças -mais distante
ainda dos adubos.
O secretário do Meio Ambiente, Adriano Diogo, tirou Hans
das etiquetas diplomáticas e
convidou-o a disseminar experiências de agricultura urbana.
"Vamos investir em agricultura
urbana, em conjunto com centros comunitários e escolas",
promete Diogo. Os cursos serão
nos núcleos de educação ambiental, espalhados nos parques.
Nas suas experiências, Hans
espalhou sementes e colheu
aprendizado. Um dos aprendizes dele, por exemplo, resolveu
aplicar seus conhecimentos numa escola municipal da periferia
- a horta acabou por enriquecer a merenda escolar. "Foi um
dos maiores orgulhos que já tive", comemora Hans, para
quem disseminar a agricultura
urbana é só uma volta às origens. Gaúcho, nasceu no campo,
onde seus pais tinham um sítio
-o que um dia foi uma necessidade de sobrevivência, virou
hobby e, agora, política pública.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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