São Paulo, sábado, 23 de abril de 2005

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SAÚDE NA UTI

Rio reassume unidades; mutirão e hospitais de campanha continuam

União encerra intervenção, mas mantém ações no Rio

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O Ministério da Saúde devolveu ontem à Prefeitura do Rio a gestão dos hospitais Miguel Couto (zona sul) e Souza Aguiar (centro), encerrando formalmente o período de 41 dias de intervenção, mas decidiu manter por tempo indeterminado os mutirões de cirurgias e o funcionamento dos hospitais de campanha.
Na avaliação do ministro Humberto Costa, a situação de calamidade pública que motivou a ação do governo federal na cidade não foi superada, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal contrária à intervenção, anunciada na quarta-feira. Daí a estratégia de uma retirada negociada.
Uma primeira reunião do secretário de Atenção à Saúde do ministério, Jorge Solla, com Ronaldo Cezar Coelho, secretário municipal, está marcada para segunda-feira, no Rio. Costa anunciou que a União manterá sob vigilância a situação da saúde no Rio e nas cidades da região metropolitana.
Na primeira entrevista desde a decisão do STF, anunciada quase 48 horas antes, Humberto Costa insistiu em que o governo não se julga derrotado. "O que fizemos ao longo de 41 dias mostra que somos mais eficientes e capazes do que a prefeitura havia se mostrado até então", afirmou. Costa negou, no entanto, que a popularidade da intervenção tivesse sido aferida em pesquisa de opinião contratada pelo governo.
Um balanço da intervenção contabiliza a contratação temporária de 871 profissionais, o aluguel de equipamentos, compras emergenciais de medicamentos e materiais hospitalares.
O relatório sobre a situação encontrada em março destacou emergências, salas de cirurgia, leitos de UTI e enfermarias fechados, além de desabastecimento e falta de equipamentos. A existência de mais de 14 mil pacientes na fila para cirurgias justificou a manutenção de mutirões "até a conclusão das cirurgias cadastradas", disse Humberto Costa.
Mas, mesmo após a intervenção, o Ministério da Saúde não conseguiu reativar salas de cirurgia e equipamentos de raio-X fora de uso no Souza Aguiar. Antes da intervenção, só dois dos seis aparelhos de raio-X funcionavam no hospital. Ontem, os quatro continuavam defeituosos. Não houve a recuperação das salas de cirurgia desativadas. Das dez salas para cirurgias, quatro seguiam fechadas. Na semana passada quebrou o único tomógrafo do hospital.
A situação do Souza Aguiar e do Miguel Couto será avaliada a partir de segunda, disse ontem o secretário Ronaldo Cezar Coelho.
Cezar Coelho afirmou que a retomada deve ocorrer em até dez dias, após o fim das auditorias. "As auditorias vão ser acompanhadas pelo Tribunal de Contas do Município. Estamos preocupados com a situação patrimonial dos hospitais", disse.
O ministro Humberto Costa reagiu à notícia. "Os aparelhos de raio-X que funcionam lá fomos nós que colocamos. Não é possível que o secretário [Ronaldo Cezar Coelho] quisesse que consertássemos em 41 dias o que ele deixou estragar durante meses. Esperamos que a prefeitura faça com que as unidades não voltem à situação crítica", insistiu.
No Souza Aguiar, a carência pode ter sido agravada pela expectativa que a intervenção gerou. O número de pacientes que costumam procurar o setor de pronto-atendimento, segundo a direção do Souza Aguiar, passou na semana seguinte à da intervenção de 480 por dia para cerca de 900.


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