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Ônibus mudam rota e horário todos os dias
Divulgadas timidamente, alterações de itinerário, por motivos como obras na rua ou pouca demanda, confundem usuários em SP
Em 2009, mudanças de horário de partida do ônibus foram em média 13 ao dia; "Coleciono protocolos de reclamação", diz passageira
Adriano Vizoni/Folha Imagem
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Passageiros aguardam em ponto na avenida Nove de Julho; relatório mostra que há, em média, três mudanças em itinerários de ônibus por dia na cidade de São Paulo
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRESSA TAFFAREL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A universitária Julia Alcassa,
19, desistiu neste ano do transporte coletivo e aderiu ao automóvel para ir à faculdade. A decisão de contribuir com os engarrafamentos do trânsito paulistano foi tomada ao saber que,
de uma hora para outra, a linha
de ônibus que lhe deixava perto
de casa havia sido extinta.
A estudante do Mackenzie só
não ficou plantada à espera do
coletivo graças ao alerta de uma
amiga -que também só soube
porque ouviu a conversa de
uma outra passageira do ônibus que viajava da praça Ramos
ao parque Continental e que informava a mudança com uma
folha sulfite colada na janela.
"Se ela não tivesse me avisado, ficaria no ponto esperando", conta Julia, que desistiu do
transporte diante da necessidade de pegar duas conduções.
Um relatório da SPTrans
(empresa municipal que cuida
do setor) mostra que, em média, há quase três mudanças de
itinerário e 13 nos horários de
partida dos ônibus por dia.
Do total de 1.347 linhas, 8%
foram inclusive canceladas no
ano passado -na maioria das
vezes, substituídas por outras,
mas com diferenças de percurso que sempre afetam a rotina
de uma parcela dos usuários.
Os pedidos de alteração podem partir do poder público ou
das concessionárias do transporte coletivo, mas dependem
sempre de autorização da prefeitura. Os motivos vão de uma
obra viária no caminho até
pouca demanda no trajeto.
Mesmo quando tecnicamente justificáveis, as mudanças
constantes criam incertezas
para os passageiros, já que a divulgação costuma ser tímida.
"O passageiro fica que nem
bobo esperando um ônibus
sem saber que ele não vai chegar", diz Saad Mazloum, promotor do Patrimônio Público e
Social, que criou um blog
(www.onibus.blog.br) para
reunir as diversas queixas dos
usuários, com a intenção de ingressar com uma ação na Justiça por danos morais coletivos e
improbidade administrativa.
A gestão Gilberto Kassab
(DEM) alega que essa quantidade de mudanças nas linhas é
normal e visa melhorá-las.
"O usuário tinha de receber
os avisos de qualquer mudança
em cada ponto, com pelo menos duas semanas de antecedência. Hoje ele não é tratado
com respeito e, por isso, só se
afasta do transporte coletivo",
avalia Horácio Augusto Figueira, mestre em engenharia de
transportes pela USP.
A pesquisadora Kathia Cesna, que percorre a cidade de
ônibus para um trabalho em
vários bairros, conta que coleciona protocolos de reclamações na SPTrans. Já são mais
de 20 -e incluem desde as tradicionais queixas sobre atrasos
nos ônibus até relatos de baratas dentro dos coletivos.
"Quando acho que algo está
errado, reclamo mesmo. As
pessoas me dizem que "é normal ficar 40 minutos nesse
ponto", mas discordo."
De todas as reclamações, Kathia diz que apenas uma foi
atendida. "Um dos ônibus que
demorava mais de 20 minutos
para passar agora demora menos de dez", afirma.
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