São Paulo, quarta-feira, 23 de maio de 2001

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PUC

Alunos vêem incoerência em trabalho de mestrado; capitão liderou repressão a protesto contra a Alca

Pressão faz PM adiar defesa de tese

ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O temor de um confronto com universitários levou o capitão da Polícia Militar Francisco Wanderlei Rohrer, 47, aluno da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a adiar por duas semanas a defesa de sua dissertação de mestrado em psicologia social.
Aconselhado pela direção do curso, Rohrer decidiu, na última sexta-feira, adiar a defesa, marcada para anteontem. Ele afirmou ontem à Folha que já foi marcada nova data: 14h do próximo dia 4.
Os estudantes do comitê PUC-SP de Ação Global contra o Capitalismo já avisaram que estarão presentes, com representantes da USP, com a mesma estratégia de anteontem: faixas, cartazes e pessoas manchadas de vermelho, utilizando gaze e esparadrapo.
Eles protestam contra a violência da polícia e contra o que classificam de incoerência na tese de Rohrer, que comandou a ação da PM contra manifestantes na avenida Paulista, no último dia 20, durante um protesto contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a globalização.
O protesto terminou em pancadaria, com dois policiais e pelo menos dez manifestantes feridos.
"Não é pessoal contra o capitão, mas contra a truculência da PM e a incoerência entre a prática do oficial e a tese dele", disse Leonardo Pinho, 21, aluno de ciências sociais e integrante do comitê.
"Identidade do Policial Comunitário: Metamorfose e Emancipação" é o título da dissertação, em que o capitão discute a ação da PM, relata avanços no respeito aos direitos humanos com a implantação do policiamento comunitário e aponta a necessidade de uma polícia cada vez mais democrática, cidadã e menos violenta.
Em reunião, ontem, com a direção da pós-graduação, os alunos se comprometeram a fazer um protesto silencioso, sem atrapalhar a apresentação do trabalho. Por lei, o acesso ao evento é livre.
Eles pedem a reprovação do capitão e querem entregar à banca examinadora fotos do confronto na avenida Paulista e um dossiê sobre a violência policial.
"Entendemos que ele rompeu com o objeto de estudo. Sendo comandante da operação, a tese é uma incoerência", disse Pinho.
Rohrer admite que comandou o batalhão no começo da manifestação, mas se exime de culpa pela pancadaria. Segunde o capitão, depois que levou uma pedrada e foi levado ao hospital, a tropa de choque assumiu. Os estudantes dizem que o choque chegou apenas no final do protesto.
"O equívoco é misturar uma pesquisa acadêmica que estuda transformações da PM com uma ação do grupamento", afirmou o professor Antonio Ciampa, orientador de Rohrer.



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