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SEGURANÇA
José Márcio Felício, o Geleião, delatou os ex-companheiros à Justiça e revelou a estrutura da facção criminosa
PCC tem 2.000 "funcionários", diz ex-líder
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de o governo ter isolado
os principais líderes e de a polícia
já ter anunciado a sua falência, no
ano passado, o PCC (Primeiro
Comando da Capital) conta hoje
com um exército de 2.000 pessoas
trabalhando para ele nas ruas.
A afirmação é do fundador e ex-líder da facção criminosa José
Márcio Felício, o Geleião. Jurado
de morte por membros da facção,
ele aceitou delatar os ex-comparsas em troca de proteção para ele e
para a sua mulher, Petronilha Felício, e diminuição de pena.
A contabilidade de Geleião não
surpreendeu o Ministério Público. Para o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo
de Atuação Especial de Combate
ao Crime Organizado), a maioria
das 2.000 pessoas citadas pelo ex-líder do PCC é formada por mensageiros que abastecem a facção
de informações. Desse grupo, cerca de cem pessoas fariam operações e formariam o braço armado
da facção fora das cadeias.
Informações de Geleião, consideradas confiáveis pela polícia,
embasaram, em novembro passado, a denúncia por crime de formação de quadrilha contra 14 líderes do PCC. Entre eles, o líder
máximo Marcos Willians Camacho, o Marcola. Na época, a polícia afirmou que o PCC era uma
organização criminosa "falida e
desmantelada".
Ontem, Geleião confirmou as
acusações à Justiça, na quarta audiência no Estado de São Paulo
que contou com sistema de videoconferência, segundo a assessoria
do Tribunal de Justiça.
Por meio de uma câmera, os ex-comparsas ouviram e viram Geleião identificar lideranças e delatar operações para arrecadar dinheiro, assassinatos e atentados
contra prédios públicos.
Onze acusados, algemados em
uma sala do CRP de Presidente
Bernardes, no interior paulista,
assistiram ao depoimento, realizado no fórum da Barra Funda
(zona oeste de SP). Em Presidente
Bernardes estão os principais líderes da facção. Outros três presos acompanharam a audiência
do CDP Belém (zona leste de SP).
A delação de Geleião ajudou a
polícia a identificar e isolar os líderes do PCC e descobrir as formas de ação do grupo. Uma nova
condenação por formação de
quadrilha também impede uma
possível concessão de benefícios.
"O PCC continua atuante, só
que mudou de perfil. Deixou os
atentados para investir no tráfico,
em operações que dêem lucro",
afirmou o promotor.
Segundo ele, a facção controla
hoje cerca de 90% da população
carcerária do Estado de São Paulo. "Ou o preso faz parte do PCC
ou é influenciado por ele."
O secretário da Administração
Penitenciária, Nagashi Furukawa,
que foi ao fórum da Barra Funda
para assistir ao depoimento de
Geleião, negou que o PCC esteja
falido. "Nunca disse que a facção
estava falida. Mas os atentados
cessaram. A operação desencadeada pelo depoimento do Geleião foi um golpe na organização", afirmou o secretário.
Ironia e risos
Entre os 14 presos que assistiram ao depoimento do fundador
do PCC, Marcola foi o que mostrou maior agitação. Em Presidente Bernardes, algemado na
ponta da mesa, em frente ao sequestrador Wanderson Nilton de
Paula Lima, o Andinho, ele reagia
com risos e caretas às afirmações
de Geleião.
Por seis vezes, telefonou para a
sua advogada -a audiência por
videoconferência permite esse tipo de contato entre advogado e
cliente-, para passar instruções.
Também fazia comentários para
os outros dez presos, que ironizavam a fala de Geleião.
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