UOL


São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

José Márcio Felício, o Geleião, delatou os ex-companheiros à Justiça e revelou a estrutura da facção criminosa

PCC tem 2.000 "funcionários", diz ex-líder

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de o governo ter isolado os principais líderes e de a polícia já ter anunciado a sua falência, no ano passado, o PCC (Primeiro Comando da Capital) conta hoje com um exército de 2.000 pessoas trabalhando para ele nas ruas.
A afirmação é do fundador e ex-líder da facção criminosa José Márcio Felício, o Geleião. Jurado de morte por membros da facção, ele aceitou delatar os ex-comparsas em troca de proteção para ele e para a sua mulher, Petronilha Felício, e diminuição de pena.
A contabilidade de Geleião não surpreendeu o Ministério Público. Para o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), a maioria das 2.000 pessoas citadas pelo ex-líder do PCC é formada por mensageiros que abastecem a facção de informações. Desse grupo, cerca de cem pessoas fariam operações e formariam o braço armado da facção fora das cadeias.
Informações de Geleião, consideradas confiáveis pela polícia, embasaram, em novembro passado, a denúncia por crime de formação de quadrilha contra 14 líderes do PCC. Entre eles, o líder máximo Marcos Willians Camacho, o Marcola. Na época, a polícia afirmou que o PCC era uma organização criminosa "falida e desmantelada".
Ontem, Geleião confirmou as acusações à Justiça, na quarta audiência no Estado de São Paulo que contou com sistema de videoconferência, segundo a assessoria do Tribunal de Justiça.
Por meio de uma câmera, os ex-comparsas ouviram e viram Geleião identificar lideranças e delatar operações para arrecadar dinheiro, assassinatos e atentados contra prédios públicos.
Onze acusados, algemados em uma sala do CRP de Presidente Bernardes, no interior paulista, assistiram ao depoimento, realizado no fórum da Barra Funda (zona oeste de SP). Em Presidente Bernardes estão os principais líderes da facção. Outros três presos acompanharam a audiência do CDP Belém (zona leste de SP).
A delação de Geleião ajudou a polícia a identificar e isolar os líderes do PCC e descobrir as formas de ação do grupo. Uma nova condenação por formação de quadrilha também impede uma possível concessão de benefícios.
"O PCC continua atuante, só que mudou de perfil. Deixou os atentados para investir no tráfico, em operações que dêem lucro", afirmou o promotor.
Segundo ele, a facção controla hoje cerca de 90% da população carcerária do Estado de São Paulo. "Ou o preso faz parte do PCC ou é influenciado por ele."
O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, que foi ao fórum da Barra Funda para assistir ao depoimento de Geleião, negou que o PCC esteja falido. "Nunca disse que a facção estava falida. Mas os atentados cessaram. A operação desencadeada pelo depoimento do Geleião foi um golpe na organização", afirmou o secretário.

Ironia e risos
Entre os 14 presos que assistiram ao depoimento do fundador do PCC, Marcola foi o que mostrou maior agitação. Em Presidente Bernardes, algemado na ponta da mesa, em frente ao sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, ele reagia com risos e caretas às afirmações de Geleião.
Por seis vezes, telefonou para a sua advogada -a audiência por videoconferência permite esse tipo de contato entre advogado e cliente-, para passar instruções. Também fazia comentários para os outros dez presos, que ironizavam a fala de Geleião.


Próximo Texto: Para advogados, videoconferência é ilegal
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.