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FÓRUM NACIONAL
Secretário de Segurança Pública afirmou no Rio que ocorre um "genocídio" de jovens negros no país
Para Soares, polícia usa "kit assassino"
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, disse ontem, no Rio, que a polícia criou um estereótipo para os
jovens moradores de favelas mortos por policiais. "O morto jovem
é sempre um traficante em confronto com a polícia. O kit assassino está sempre pronto para colocar na vítima uma arma e um
pouco de droga para reproduzir
sempre a mesma história."
A declaração de Soares arrancou aplausos dos moradores do
morro do Borel (zona norte), com
quem esteve reunido à tarde,
acompanhado do secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda. As lideranças comunitárias responsabilizam policiais militares pela morte de quatro moradores, em 17 de abril.
Na sexta-feira passada, Soares
havia dito que os policiais brasileiros são "profissionais da barbárie". Em carta à Folha, publicada
na segunda-feira, ele disse que errou ao fazer a generalização.
Ontem pela manhã, no Fórum
Nacional, organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, o
secretário havia declarado que
"há de fato em curso um genocídio" no Brasil. "A vítima letal tem
endereço, gênero, cor e idade. Estamos falando do jovem do sexo
masculino, negro, que tem entre
15 e 24 anos." Ele defendeu a punição dos policiais corruptos, para "separar o joio do trigo, em nome dos bons policiais".
"Muitas vezes as autoridades
usam os maus policiais porque
eles produzem efeitos. O resultado é a barbárie que avança, um
punhado de tóxicos e armas
apreendidas que traduzem entendimentos e negociações com o
crime", afirmou Soares.
Ao mencionar o "genocídio" de
jovens, o secretário se referia às
estatísticas que demonstram uma
concentração de mortes por causas violentas na faixa etária entre
15 e 24 anos. Segundo ele, o perfil
da população brasileira já apresenta um déficit só verificado nas
sociedades em guerra.
A taxa de homicídios de jovens
entre 15 a 24 anos chegou, em
1999, a 48,5 mil por 100 mil habitantes. Dez anos antes, em 1989, a
taxa era de 35,9 por 100 mil.
Nilmário Miranda anunciou
que a comissão especial do Conselho de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana criada anteontem terá o objetivo de "limpar o
nome e resgatar a honra das pessoas que morreram" no Borel.
Ele disse confiar nas investigações conduzidas pelas polícias estaduais (Civil e Militar). Os moradores sustentam que os mortos
eram trabalhadores, sem ligação
com o tráfico de drogas.
Segundo o corregedor-geral das
Polícias, João Luís Pinaud, o governo do Rio abriu no dia 9 sindicância para investigar os PMs. É
uma versão diferente da apresentada por ele à Folha na segunda-feira. Pinaud havia dito que a apuração da matança estava a cargo
da Corregedoria da PM. A Corregedoria das Polícias, segundo ele,
estava apenas "acompanhando a
Corregedoria da PM".
Soares anunciou a liberação de
R$ 1 milhão para a Corregedoria
das Polícias do Rio. Ele disse que a
brutalidade e a corrupção policial
são duas faces da mesma moeda.
"Não há eficiência policial sem
respeito aos direitos humanos
nem direitos humanos sem eficiência policial."
No Borel, líderes comunitários
reclamaram de um PM que policiava o morro durante a visita. O
policial teria participado da incursão que resultou na chacina.
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