UOL


São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FÓRUM NACIONAL

Secretário de Segurança Pública afirmou no Rio que ocorre um "genocídio" de jovens negros no país

Para Soares, polícia usa "kit assassino"

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, disse ontem, no Rio, que a polícia criou um estereótipo para os jovens moradores de favelas mortos por policiais. "O morto jovem é sempre um traficante em confronto com a polícia. O kit assassino está sempre pronto para colocar na vítima uma arma e um pouco de droga para reproduzir sempre a mesma história."
A declaração de Soares arrancou aplausos dos moradores do morro do Borel (zona norte), com quem esteve reunido à tarde, acompanhado do secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda. As lideranças comunitárias responsabilizam policiais militares pela morte de quatro moradores, em 17 de abril.
Na sexta-feira passada, Soares havia dito que os policiais brasileiros são "profissionais da barbárie". Em carta à Folha, publicada na segunda-feira, ele disse que errou ao fazer a generalização.
Ontem pela manhã, no Fórum Nacional, organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, o secretário havia declarado que "há de fato em curso um genocídio" no Brasil. "A vítima letal tem endereço, gênero, cor e idade. Estamos falando do jovem do sexo masculino, negro, que tem entre 15 e 24 anos." Ele defendeu a punição dos policiais corruptos, para "separar o joio do trigo, em nome dos bons policiais".
"Muitas vezes as autoridades usam os maus policiais porque eles produzem efeitos. O resultado é a barbárie que avança, um punhado de tóxicos e armas apreendidas que traduzem entendimentos e negociações com o crime", afirmou Soares.
Ao mencionar o "genocídio" de jovens, o secretário se referia às estatísticas que demonstram uma concentração de mortes por causas violentas na faixa etária entre 15 e 24 anos. Segundo ele, o perfil da população brasileira já apresenta um déficit só verificado nas sociedades em guerra.
A taxa de homicídios de jovens entre 15 a 24 anos chegou, em 1999, a 48,5 mil por 100 mil habitantes. Dez anos antes, em 1989, a taxa era de 35,9 por 100 mil.
Nilmário Miranda anunciou que a comissão especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana criada anteontem terá o objetivo de "limpar o nome e resgatar a honra das pessoas que morreram" no Borel.
Ele disse confiar nas investigações conduzidas pelas polícias estaduais (Civil e Militar). Os moradores sustentam que os mortos eram trabalhadores, sem ligação com o tráfico de drogas.
Segundo o corregedor-geral das Polícias, João Luís Pinaud, o governo do Rio abriu no dia 9 sindicância para investigar os PMs. É uma versão diferente da apresentada por ele à Folha na segunda-feira. Pinaud havia dito que a apuração da matança estava a cargo da Corregedoria da PM. A Corregedoria das Polícias, segundo ele, estava apenas "acompanhando a Corregedoria da PM".
Soares anunciou a liberação de R$ 1 milhão para a Corregedoria das Polícias do Rio. Ele disse que a brutalidade e a corrupção policial são duas faces da mesma moeda. "Não há eficiência policial sem respeito aos direitos humanos nem direitos humanos sem eficiência policial."
No Borel, líderes comunitários reclamaram de um PM que policiava o morro durante a visita. O policial teria participado da incursão que resultou na chacina.


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Ministro critica órgão criado no governo de FHC
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.