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A cada dia, um professor se licencia por dois anos
Desde janeiro, 194 se afastaram da rede estadual por problemas de saúde
Índice é o maior entre os servidores; problemas nas cordas vocais, na coluna e psicológicos são os mais recorrentes
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O professor de história
Carlos, 42, fala sozinho às vezes. Seu coração, conta, dispara sem motivo aparente.
"Não conseguia controlar os
alunos. Queria passar o conteúdo, poucos me ouviam.
Foi me dando uma angústia.
Fiquei nervoso."
Não era assim. "Eu era
bem calmo", afirma, referindo-se ao período anterior a
2004, quando entrou como
docente temporário na rede
de ensino paulista.
Aprovado um ano depois
em concurso, foi considerado apto a dar aulas, na zona
sul da capital. Passados três
anos, obteve uma licença
médica, que se renova até
hoje, sob o diagnóstico de
disforia -ansiedade, depressão e inquietude.
Carlos espera nova perícia.
Quer se tornar readaptado
-situação de servidores com
graves problemas de saúde,
que ficam ao menos dois
anos afastados da sala de aula. Fazem atividades administrativas na secretaria e na
biblioteca, por exemplo.
De janeiro até a última sexta-feira, 194 docentes (mais
de um por dia) da rede paulista foram readaptados,
aponta levantamento da Folha no "Diário Oficial".
Pelos cálculos da professora Maria de Lourdes de
Moraes Pezzuol, que fez uma
pesquisa financiada pela Secretaria da Educação, 8% de
todos os professores da rede
estão readaptados.
Os casos mais recorrentes
são problemas nas cordas
vocais, na coluna e psicológicos. A autora do estudo é
ela própria uma professora
readaptada.
Entre os servidores da
Educação, o índice desse tipo de afastamento é maior
que dos demais: 79% dos
readaptados trabalham nas
escolas, categoria que soma
53% do funcionalismo.
POR QUE ADOECEM
Pesquisadores apontam
duas razões para tantas licenças. A primeira é a concepção da escola, que requer
para as aulas estudantes
quietos e enfileirados.
"Isso não existe mais. Esta
geração é muito ativa. O professor se vê frustrado dia a
dia por não conseguir a atenção deles", diz o sociólogo
Rudá Ricci, que faz pesquisas
com educadores de redes públicas do país, inclusive no
município de São Paulo.
A outra razão são as condições de trabalho. Em geral,
os professores dão aulas em
classes com mais de 35 alunos, possuem muitas turmas
e poucos recursos (não há,
por exemplo, microfone).
Estudo divulgado na semana passada pelo Instituto
Braudel e pelo programa Fulbright mostra que os docentes paulistas têm condições
piores que os de Nova York.
Têm carga maior (33 horas
semanais em sala, ante 25) e
possuem mais alunos por sala (35 e 26, respectivamente).
Colaborou ELISANGELA BEZERRA
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