São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2004

Próximo Texto | Índice

URBANISMO

Proposta de zoneamento permite regularizar alguns tipos de comércio em área residencial, desde que exigências sejam atendidas

Lojas irregulares são anistiadas em nova lei

AMARÍLIS LAGE
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Alvo de polêmica desde o final dos anos 90, o comércio em situação ilegal em algumas vias que cortam áreas residenciais, como a avenida Pacaembu e a alameda Gabriel Monteiro da Silva, deve ganhar uma regularização definitiva quando for aprovada na Câmara Municipal a lei que define os planos diretores regionais e altera o zoneamento da cidade.
A regularização desses imóveis -alvo de outro projeto, aprovado na Câmara em 2003, e de uma batalha judicial que terminou com a anulação da anistia-, porém, vai depender de sua adequação a uma série de condições, em razão de alterações feitas pelo vereador Nabil Bonduki (PT) na proposta original da prefeitura. E nem todos os tipos de comércio serão liberados, destaca o petista.
Segundo Bonduki, que é relator do projeto, a lei deverá exigir que os comerciantes dêem um tratamento diferenciado às vias, com plantio de árvores, redução de anúncios publicitários, uniformização de calçadas e adequação da taxa de permeabilização do solo.
"É uma exigência para fazer com que o corredor no meio de uma zona exclusivamente residencial não seja uma cicatriz na paisagem", disse o vereador.
O projeto tramita na Câmara em regime de urgência e deve passar pela segunda e última votação no início da próxima semana. Na primeira votação, realizada na última quinta-feira, a proposta foi aprovada por 36 votos. Nove vereadores foram contra.
O projeto define tanto o novo zoneamento na cidade como os planos diretores regionais das 31 subprefeituras, estabelecendo o que é ou não permitido em cada área da cidade.
O presidente da Associação de Comerciantes do Pacaembu, Edson Drukier, comemora a possibilidade de adequar os empreendimentos à legislação e defende o financiamento das adaptações. "Nós somos os primeiros a querer que a avenida tenha outra cara, fique mais bonita."
Segundo Drukier, a proposta de Bonduki lembra um projeto apresentado pela associação em 2001, que previa uma reforma paisagística na avenida Pacaembu. Orçada em R$ 7,8 milhões, a reforma seria paga pelos comerciantes. "Mas ninguém quis investir sem a garantia de que ficaríamos lá."

Críticas
O arquiteto e urbanista Cândido Malta, presidente da Sociedade dos Amigos dos Jardins Europa e Paulistano (Sajep), critica, entre outros pontos, o que qualifica de "anistia disfarçada" para o comércio irregular.
Segundo Malta, um dos artigos do projeto aprovado em primeira votação, o 109, retoma a anistia concedida no ano passado e depois revogada pela Justiça.
Isso porque, de acordo com o urbanista, esse artigo autoriza que todos os comércios irregulares nos antigos corredores de uso especial -alvo da anistia- sejam enquadrados em um novo zoneamento. Assim, ocorre essa "anistia disfarçada", afirma Malta, que é autor de vários pontos da lei de zoneamento em vigor.
A medida foi aprovada na Câmara em junho do ano passado, mas, 17 dias depois, foi suspensa pelo Tribunal de Justiça. Na época, o desembargador Sérgio Augusto Nigro Conceição, considerou a lei municipal inconstitucional, pois teria "clara intenção de conferir privilégios a indivíduos determinados".
A mudança beneficiaria comerciantes irregulares das avenidas Sumaré, Europa, Brasil, Indianópolis e República do Líbano, além das ruas Colômbia e João Lourenço e a alameda Gabriel Monteiro da Silva. Esses estabelecimentos começaram a se instalar em áreas proibidas a partir da década de 90, por falta de fiscalização.


Próximo Texto: Tamanho seguirá como critério para o funcionamento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.