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SAÚDE
Depois de ação de ONGs e do Ministério Público local, governo do Estado tirou do ar dois dos três anúncios veiculados
Campanha contra Aids é suspensa em SC
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo do Estado de Santa
Catarina retirou ontem do ar dois
dos três anúncios sobre prevenção à Aids que vinham sendo veiculados pelas TVs abertas da região. As ONGs do Estado consideraram que a campanha tirava as
esperanças dos portadores de
HIV/Aids e que, ao amedrontar as
pessoas, em nada contribuía para
a prevenção da epidemia.
Uma representação para a retirada dos filmes foi encaminhada
ao Ministério Público, que anteontem se reuniu com representantes do governo e ONGs. Segundo nota da Secretaria de Estado da Saúde, o próprio secretário
Luiz Eduardo Cherem diz que "a
questão está sendo revista, uma
vez que a filosofia (...) é buscar
parcerias para conter o avanço da
Aids no Estado".
Um dos filmes retirados mostra
um pai junto aos porta-retratos
dos filhos e da mulher, deixando a
cada um parte do espólio. Para a
mulher, ele diz que, além da casa e
do apartamento na praia, deixa
também o vírus da Aids. O outro
filme retirado mostra uma menina contando seus sonhos profissionais ao longo dos anos, até que,
aos 19 anos, morre de Aids.
Na representação ao Ministério
Público, a Faça (Fundação Açoriana para o Controle da Aids) diz
que "muitos pacientes" estariam
deixando de tomar a medicação
depois de ver a campanha.
O terceiro filme, que continua
no ar, mostra um jovem que se
prepara para a "balada" e que vai
ouvindo, pela secretária eletrônica, os convites de três garotas.
Quando fecha a porta e sai de casa, a quarta das "namoradas" liga
para contar-lhe que descobriu ser
portadora do vírus da Aids.
ONGs se reúnem hoje para decidir sobre a continuidade ou não
deste filme. "Pode-se dizer que ele
não fere os direitos humanos,
mas, ao criticar promiscuidade e
múltiplos parceiros, torna-se uma
peça moralista que não contribui
para a prevenção", diz Sandro
Sardá, da Faça. "O importante seria chamar a atenção para o sexo
seguro, com preservativo."
Na quinta-feira, representantes
do governo e das várias partes envolvidas se reúnem para decidir o
destino desta e de outras campanhas. Iraci Batista da Silva, do
programa estadual de Aids, disse
que a intenção é que as próximas
campanhas sejam compartilhadas com as ONGs. Na reunião de
amanhã, o governo ficou de informar os gastos da campanha, até
agora desconhecidos.
Desde 1994, a Coordenação Nacional de DST-Aids substituiu a
política de campanhas que assustam e relacionam a doença com a
morte por outras que incentivam
a solidariedade e a prevenção.
Apesar de o número de casos
notificados estar caindo em todo
o país, é nos Estados do Sul que
essa queda é menor. É lá também
que as infecções por uso de droga
injetável têm maior peso e, conseqüentemente, os casos vêm crescendo mais rapidamente entre as
mulheres casadas.
A preocupação das campanhas,
segundo a Secretaria da Saúde,
era justamente a de inverter essa
tendência. Alertado pelas ONGs,
o governo prometeu rever a filosofia de prevenção.
Em Santa Catarina, estão cinco
das dez cidades brasileiras com
maior incidência. Por exemplo,
Itajaí, a campeã delas, tem 93,5 casos por 100 mil habitantes, quando a média nacional é de 12,8. A
preocupação das ONGs é que
campanhas que apenas assustam
acabem afastando as pessoas em
risco dos serviços de saúde, especialmente a população de usuários de drogas injetáveis.
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