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SAÚDE BUCAL
Pesquisa do IBGE mostra que quase 20% dos brasileiros nunca foi ao dentista; governo corta investimentos
Mortes por câncer de boca crescem 50%
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os óbitos de mulheres decorrentes de câncer de boca aumentaram pelo menos 50% em 20
anos no Brasil. Entre os homens
(as maiores vítimas), o crescimento foi de 21%.
A estimativa total das mortes
feita pelo Inca (Instituto Nacional
do Câncer) mostra que houve um
acréscimo de 6,9% apenas entre
97 e este ano.
Especialistas ouvidos pela Folha
dizem que muitas dessas mortes
poderiam ser evitadas com políticas públicas de promoção da saúde bucal e com visitas regulares ao
dentista. Isso permitiria o diagnóstico precoce da doença e aumentaria a possibilidade de sucesso do tratamento.
A pesquisa Acesso e Utilização
de Serviços de Saúde do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), relativa ao ano de
98, mostra que quase 20% dos
brasileiros nunca sentaram em
uma cadeira de dentista. A maioria dessas pessoas ganha até dois
salários mínimos.
Problema
O oncologista Luiz Paulo Kowalski, especialista em câncer bucal do Hospital do Câncer, diz que
o Brasil tem uma das maiores incidências da doença no mundo.
Para se ter uma idéia do que isso
representa, o Estado de São Paulo,
que concentra a maioria das mortes do país, é o terceiro no ranking
mundial. Só perde para Índia e
França (onde o câncer de garganta também é considerado câncer
bucal para fins estatísticos).
Para Kowalski, o governo federal tem uma participação "reduzida" na promoção da saúde bucal
do país.
Acompanhamento dos gastos
do governo nessa área confirmam
isso. Até a década de 80, essa área
recebia cerca de 10% dos recursos
para atendimento ambulatorial.
Em 98, esse percentual caiu para
5,24%.
O cirurgião-dentista Marco Antônio Manfredini, ex-coordenador dos programas de saúde bucal de São Paulo e Santos, diz que
os programas de saúde bucal perderam sua fonte específica de financiamento e deixaram de ser
prioridade com a criação do Piso
de Atenção Básica -a forma pela
qual o SUS (Sistema Único de
Saúde) financia serviços considerados essenciais.
O efeito disso no Estado de São
Paulo, segundo ele, foi a redução
da cobertura nos serviços de prevenção. Em 97, 23% da população
recebia atendimento preventivo.
Em 98, apenas 20%.
O maior problema disso, diz
Kowalski, do HC, é que a população mais vulnerável ao câncer bucal é formada por homens com
idade superior a 18 anos, consumidores de álcool e cigarro.
"Essa é a população que menos
vai a médicos e dentistas", diz ele.
A única forma de fazer os homens procurarem um médico ou
um dentista no momento em que
identificam alguma ferida na boca, segundo Kowalski, é acostumá-los desde cedo a ir ao dentista
e a cuidar da higiene bucal.
Nesse ponto, diz Manfredini, o
problema é a oferta e a qualidade
dos serviços odontológicos prestados à população mais pobre.
O serviço mais oferecido para
adolescentes (a partir dos 12 anos)
e adultos ainda é a extração.
O efeito da falta de eficácia dos
serviços públicos odontológicos é
perverso: essa população compõe
a maioria dos doentes de câncer.
Muitos casos chegam a ser causados pela inadaptação de próteses (dentaduras). Elas provocam
feridas na gengiva que podem
evoluir para a doença.
Hábitos
Levantamento recente do HC
mostra que, dos pacientes com
câncer bucal que chegam ao hospital, 50% levaram três meses para procurar um médico ou um
dentista, apesar de terem uma ferida incômoda na boca.
Os médicos creditam o atraso à
negligência do paciente e à falta de
oferta de médicos na periferia das
cidades brasileiras.
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