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ESTATÍSTICA OFICIAL
Para pesquisador da Unicamp, IBGE considera atividade caseira de 900 mil crianças como ocupação
Brasil infla dados de trabalho infantil, mostra estudo
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O trabalho infantil caiu no Brasil
em 99, segundo a Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios) divulgada na quinta-feira.
Mas ele já era menor do que dizem as estatísticas oficiais.
Apesar de esse ser um dos temas
mais sensíveis para o governo no
cenário internacional, a metodologia do IBGE aumenta o número
de crianças trabalhadoras no país.
Em 1998, o Brasil tinha 3 milhões de crianças com menos de
16 anos trabalhando, e não 3,9 milhões como dizia a Pnad daquele
ano. Essa é a conclusão de um estudo feito por um dos principais
especialistas brasileiros em economia agrícola, o professor da
Unicamp José Graziano da Silva.
O "paper" será apresentado no
Congresso Mundial de Sociologia
Rural, no próximo dia 30.
Graziano demonstra que o método empregado pelo IBGE para
classificar pessoas como "ocupadas", por ser muito amplo, infla
os dados sobre trabalho infantil.
Essas 900 mil crianças pseudo-trabalhadoras, segundo ele, "são,
em geral, filhos de famílias pobres
que vivem da atividade agrícola e
que desempenham tarefas como
cuidar de animais e da horta".
Graziano ressalta que essas não
são atividades que impeçam as
crianças de ir à escola nem são tão
estafantes quanto trabalhar oito
horas por dia em uma carvoaria.
O lado urbano disso é aquele(a)
garoto(a) que, por exemplo, cuida
do irmão mais novo.
No estudo, ele reprocessou os
microdados da Pnad de 98 segundo o conceito de ocupação do
próprio IBGE até 92 (pretende fazer o mesmo com os dados de 99).
Para a Pnad, após a alteração
metodológica, é economicamente
ativa qualquer pessoa com 10
anos ou mais de idade engajada
em qualquer tipo de trabalho, remunerado ou não, por pelo menos uma hora semanal (8 minutos
e 34 segundos por dia) na semana
em que foi feita a pesquisa.
"Quem vai pescar uma hora por
semana é classificado como ocupado para auto-subsistência",
exemplifica Graziano. O outro lado dessa moeda, porém, é que as
estatísticas de desemprego tendem a ficar subestimadas, porque
adultos que não têm ocupações
reais nem produzem renda acabam sendo computados como
trabalhadores ocupados.
Apesar da tendência de queda
do trabalho infantil apresentada
nos últimos anos e da superestimação das estatísticas oficiais, o
problema é mais restrito ao campo e à atividade agrícola, mostra o
estudo da Unicamp.
A maior diferença entre os dados oficiais e os reprocessados é
entre as crianças com menos de 10
anos de idade que moram em
áreas rurais: 108 mil contra 294
mil do IBGE. A tendência se repete nas outras faixas etárias, resultando que, na verdade, de cada 3
crianças de áreas rurais designadas como trabalhadoras pelo IBGE, apenas 1 se enquadraria nessa
definição se fossem usados os parâmetros pelo Pnad até 92.
As outras duas crianças, ressalta
Graziano, gastam menos de 15
horas semanais (cerca de duas horas/dia) com atividades familiares
sem remuneração.
O segmento menos afetado pelo
reprocessamento dos dados, entretanto, é um que é ignorado pelo IBGE na divulgação dos dados
de trabalho infantil - 14 a 15
anos. A legislação proíbe o trabalho, salvo em condições excepcionais, para crianças com menos de
16 anos, mas os dados da Pnad se
limitam às crianças até 14 anos.
Na faixa de 14 a 15 anos, a Pnad
98 mostrava 1,770 milhão de trabalhadores mirins, dos quais 972
mil de áreas urbanas e, em 88%
dos casos, envolvidos em atividades não-agrícolas. Revistos pelo
estudo, esses números caíram para 1,567 milhão no total, dos quais
902 mil morando em cidades.
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