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ANÁLISE
Necessidade de informação
MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
Até aqui apenas um em cada
dez brasileiros considera-se
bem informado sobre o projeto
de Estatuto de Igualdade Racial
em tramitação no Congresso.
Trata-se de uma informação
relevante da pesquisa Datafolha e que aponta para a necessidade da ampliação do debate
sobre o tema junto à sociedade.
Sempre que investiga questões de interesse público que
não sejam de amplo conhecimento da população, o Datafolha colhe o grau de informação
auto-atribuído pelos entrevistados sobre o tema e, na pergunta seguinte, faz uma breve
explicação para que opinem sobre o assunto. Nesta pesquisa, a
pergunta aplicada foi a seguinte: "Um dos pontos do projeto
prevê que, no mínimo, 20% das
vagas em universidades públicas e particulares sejam reservadas para pessoas negras e
descendentes de negros, independentemente das notas obtidas no vestibular em relação
aos que não são negros. Você é a
favor ou contra as cotas, isto é,
que sejam reservadas vagas para negros e descendentes de negros nas universidades?"
A essa primeira pergunta específica, 65% dos eleitores brasileiros respondem de forma
favorável, 25% são contrários e
9% são indiferentes ou não sabem opinar. Esses números devem ser analisados como reflexo desse instante em que o grau
de informação sobre o assunto
é significativamente baixo.
Por isso, para uma análise
isenta, é importante destacar
também as respostas daqueles
que já se consideram bem informados -representados,
nesse momento, por apenas 9%
dos eleitores. Nesse segmento,
a rejeição ao projeto sobe para
40% -15 pontos acima da média. Também entre os que têm
nível superior de escolaridade
e, conseqüentemente, mais
acesso à informação, a taxa dos
que são contrários ao projeto
sobe para 52%. Mesmo os que
se declaram negros e têm nível
superior mostram-se divididos
ao responder a essa questão.
Em seguida, os pesquisadores apresentaram alguns conceitos para os entrevistados demonstrarem o grau de concordância com cada um. Nota-se aí
que a ampla maioria (78%) concorda, mesmo que em parte,
que "as vagas nas universidades
devem ser ocupadas pelos melhores alunos, independentemente da cor, raça ou condição
social", e um número ainda
maior (87%) está de acordo que
"deveriam ser criadas cotas nas
universidades para pessoas pobres e de baixa renda, independentemente da raça".
Essa aparente incoerência
com a primeira pergunta indica
que os brasileiros desejam uma
maior inclusão dos mais pobres, sejam negros ou não, nas
universidades, concordam inicialmente com a proposta das
cotas, mas valorizam também o
mérito do desempenho escolar.
A pesquisa demonstra que a
falta de informação é terreno
fértil para se trabalhar os conceitos do tema. A maneira como esses conceitos serão comunicados e debatidos, principalmente nos veículos de comunicação, será determinante
a partir daqui no posicionamento dos brasileiros sobre a
questão. É papel das pesquisas
acompanhar e revelar eventuais mudanças nesse cenário.
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