São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE / PEDIATRIA

Presença do pai adia o fim da amamentação do bebê

Em casais separados, dobra chance de criança parar de mamar antes de seis meses

Pai com alto grau de escolaridade também influencia negativamente o período de aleitamento materno

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A importância do aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida do recém-nascido é algo amplamente reconhecido pelas famílias. O que pouco se conhecia era a influência que a figura paterna exerce no período de amamentação do bebê. Os pais são, sim, fundamentais para que a criança não largue o peito antes dos seis meses recomendados pela Organização Mundial da Saúde.
Estudos realizados pela Universidade Federal de Minas Gerais, pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas e pela Unicamp confirmam que a presença do pai é um fator que influencia no período que o bebê está em amamentação.
Os pesquisadores mineiros entrevistaram 450 famílias e concluíram que, se o pai não mora na mesma casa do bebê, a chance de a criança parar de mamar no seio antes dos seis meses é o dobro da de uma que mora com os pais. O fato de a mãe trabalhar fora não exerceu influência relevante.
A explicação para isso é que a presença do pai dá mais segurança para a mulher. A ausência dele influenciaria no psicológico da mãe, interferindo na produção do alimento. "Sem leite, a mãe não consegue amamentar e tende a desistir da amamentação exclusiva", disse o pediatra Francisco Silveira, um dos autores do estudo.
Outro fator que chamou atenção na pesquisa foi o grau de escolaridade do pai. Nas casas onde o pai tinha mais formação, as crianças também desmamavam mais rápido. A justificativa para isso, segundo Silveira, foi a influência dos produtos industrializados.
"Existe uma tendência dos pais de acharem que o leite materno é fraco e que não está sustentando o bebê. Com mais condições, eles acabam levando para casa outros tipos de alimentos, influenciando negativamente no tempo da amamentação", disse Silveira.
O pediatra Marcus Renato de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em amamentação, concorda com os resultados da pesquisa. Segundo ele, que há três anos realiza campanhas de valorização do cuidado paterno, é necessário que o pai esteja envolvido em todos os momentos da gestação.
"Muitos pais não sabem as vantagens da amamentação e podem reagir inadequadamente, tendo ciúmes do bebê, por exemplo. E o pai é muito importante nesse período. Ele não pode dar de mamar, mas pode ajudar a mãe de outras formas, trocando a fralda do bebê, fazendo a criança dormir."
Segundo Carvalho, o fato de a mãe ter de voltar a trabalhar depois de quatro meses não influencia no desmame precoce do bebê. Segundo o Ministério da Saúde, a média nacional de amamentação exclusiva no peito é de 38,8 dias.
Roberto Tozzi, pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, disse que o pai é o responsável pelo equilíbrio da família. "Se ele está por perto, a mãe se sente mais segura. Sem ele, a mãe pode ficar mais ansiosa e isso interfere diretamente na produção do leite", afirmou.
Para a ginecologista e obstetra Carolina Carvalho, da Unifesp, a participação do pai é uma forma de "integração" da família. "Quanto mais o homem colaborar, mais fácil será para a mulher amamentar."


Texto Anterior: Críticas a cotas são "cegueira social", afirma ministra
Próximo Texto: Perguntas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.