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Sonhos colocam passado em dia
Durante o sono é possível a cada indivíduo cultivar seu próprio universo de desejos, medos e bizarrices
Pesquisador afirma que
sonhos podem ter evoluídos
nos mamíferos como forma
de gerar simulações de
futuros possíveis
MARIANNE PIEMONTE
DA REVISTA
Santos, dragões, borboletas
douradas, monstros alienígenas, você e/ou o Brad Pitt e/ou
a Angelina Jolie sem roupa,
quem sabe dividindo a cama?
Existe um lugar onde tudo isso
pode acontecer, às vezes ao
mesmo tempo. Bem-vindo ao
mundo dos sonhos, o infinito
particular em que cada um cultiva seu próprio universo de desejos, medos, bizarrices e taras.
Para começar, é bom frisar
que não existe sonho sem o sonhador -e isso não é uma frase
de efeito. Ela significa que o sonho só pode ser avaliado a partir do histórico de quem o teve e
desautoriza qualquer tentativa
de interpretação generalista.
"Sonhos são o produto da reverberação fragmentária de
memórias durante o sono. Seu
conteúdo é derivado do contexto emocional do sonhador, que
determina quais memórias são
marcantes e portanto reverberam mais", diz o neurocientista
brasileiro Sidarta Ribeiro, docente da Universidade de Duke,
Carolina do Norte, nos EUA.
Mas, como a singularidade
individual também é construída com engrenagens do coletivo, o repertório onírico da humanidade acaba compartilhando muitas convergências. "Cada grupo tem seus símbolos.
Grande parte desses símbolos é
apreendida ao longo da vida,
através de práticas culturais comuns à coletividade, mas outra
advém de instintos, de representações mentais inatas derivadas de configurações neurais
geneticamente codificadas",
diz o neurocientista.
É isso que forma o chamado
inconsciente coletivo, termo
cunhado pelo psicanalista Carl
Gustav Jung (1875-1961) na esteira dos estudos iniciados por
seu mentor, Sigmund Freud
(1856-1939). O pai da psicanálise lançou em 1899 o "Livro dos
Sonhos", no qual rejeita o caráter premonitório dos sonhos,
vigente desde o primórdios, e
defende a tese de que eles são
na verdade a representação dos
desejos reprimidos.
A teoria freudiana foi fortemente rechaçada pela ciência
durante boa parte do século 20,
mas o panorama mudou.
A razão da mudança é a descoberta de que, durante os sonhos, os circuitos cerebrais relacionados à busca e à obtenção
de recompensas são ativados.
"Isso provavelmente ocorre
porque a função dos sonhos é
simular estratégias de comportamento que levem à obtenção
de recompensas. Nesse sentido, a idéia de que os sonhos refletem desejos reprimidos não
é absurda para a neurociência",
afirma Sidarta Ribeiro.
O pesquisador diz que é provável que os sonhos tenham
evoluído em mamíferos com a
função de gerar simulações de
futuros possíveis com base na
experiência passada.
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