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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/GOVERNO
Diretores tentaram afastar Anac da crise
Em entrevistas, presidente e diretora eximiram a agência de responsabilidade sobre a crise aérea e o acidente da TAM
Embora Denise Abreu tenha dito que Anac reduziu vôos em Congonhas, agência leiloou novos vôos no aeroporto após queda do Boeing da Gol
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em suas primeiras declarações públicas após a maior tragédia aérea do país, a diretora
da Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil), Denise Abreu, e
o presidente, Milton Zuanazzi,
foram imprecisos sobre as atribuições da agência.
Em entrevistas publicadas
ontem pela Folha, tanto Abreu
quanto Zuanazzi procuraram
afastar da Anac não apenas alguma responsabilidade sobre o
acidente do vôo 3054 da TAM
como também pelo caos aéreo
vivido no país desde a queda do
Boeing da Gol em setembro do
ano passado.
Um exemplo: Abreu disse
que a Anac vinha "reduzindo os
vôos desde a crise do apagão".
Na prática, porém, a Anac leiloou novos vôos em Congonhas
no dia 8 de novembro, 40 dias
depois da queda do vôo 1907.
Mais: cedendo à pressão das
companhias aéreas, a agência
lutava na Justiça para distribuir os espaços e rotas não utilizados pela Varig.
O diretor-presidente da
agência foi além e reclamou
mais uma vez que vem recebendo cobranças pela melhoria
do sistema aéreo. "Não consigo
entender essa pressão sobre a
Anac, como se fosse sua a responsabilidade de tomar decisões, quando não é."
A legislação, neste caso, é categórica. "Cabe à Anac adotar
as medidas para o atendimento
do interesse público e para o
desenvolvimento e fomento da
aviação civil, da infra-estrutura
aeronáutica e aeroportuária",
diz o artigo 8º da lei 11.812, de
2005, que criou a agência.
O curioso é que, pela legislação em vigor, o papel maior da
Anac é manter a segurança e o
pleno funcionamento do sistema. A Anac começou a funcionar na prática no ano passado:
no período, houve falência da
Varig, queda do vôo 1907 matando 154 pessoas, caos nos aeroportos, overbooking no Natal, motim de controladores e,
finalmente, o acidente da TAM.
Nos bastidores, tanto governo quanto representantes de
empresas criticam a diretoria
da Anac por falta de conhecimento técnico. Também há reclamações de que os cinco diretores cedem demais aos pontos de vista das companhias aéreas, que deveriam fiscalizar.
Na entrevista, Zuanazzi e
Abreu também venderam a
idéia de que a medalha do Mérito Santos Dumont, que receberam na sexta-feira, seria uma
decisão da Aeronáutica. Eles
poderiam, porém, se ausentar
ou pedir a entrega em uma cerimônia fechada em outro dia.
Sobre o acidente em si, os
dois diretores da Anac disseram que a agência não tinha
"competência" para investigar
e que o reversor da turbina do
Airbus operava com base nas
configurações do fabricante.
A lei que cria a Anac, porém,
estabelece que a agência faz
parte do Sipaer (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). A legislação também deixa a cargo da Anac a fixação de "padrões mínimos de segurança de vôo".
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