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"Sou nóia mesmo, e daí?", grita mulher ao deixar pensão
DA REPORTAGEM LOCAL
A operação de ontem na cracolândia não inibiu o consumo
de drogas na região. Ao lado dos
postos usados por policiais e
agentes de saúde, viciados
acendiam seus cachimbos.
No final da manhã, um grupo
de policiais militares abriu a
pequena porta no número 125
da rua Helvétia e entrou no
imóvel. Não demorou e um deles voltou, com a arma na mão,
para pedir reforço. "Tá todo
mundo usando droga aqui!"
As pessoas foram sendo retiradas. Entre elas, duas mulheres. Uma gritava que aquela
ação era absurda. Outra, mais
alterada, não escondia: "Sou
nóia mesmo, e daí?".
Elas seguiram rumos diferentes. Horas depois, a primeira mulher estava na praça Princesa Isabel, ali perto, com uma
mala na mão. Dizia não ter para
onde ir. Foi abordada por agentes de saúde. Dispôs-se a ir até
um posto de saúde a fim de tratar da ferida na mão esquerda.
Tentaria ainda uma vaga no albergue. Com menos de 30 anos,
ela disse que usa crack, sim,
"mas não toda hora".
A outra mulher, que na abordagem policial já não escondia
sua condição de viciada, preferiu não dar bola para a operação. Na rua de trás da pensão
onde estava, horas depois, ela já
acendia o cachimbo com uma
nova pedra de crack. Não aparentava ter mais de 30 anos.
A ação da polícia nem sempre
agrada aos agentes, que têm de
convencer os moradores de rua
e viciados a se tratar.
Agentes ouvidos pela Folha
disseram que fica mais difícil
trabalhar em dia de operação.
Ontem, houve até desentendimento. O delegado Aldo Galeano, que comanda a Polícia
Civil no centro, chegou a falar
em "internação compulsória"
de viciados. O secretário da
Saúde, Januário Montone, se
irritou: "Delegado não tem que
falar de internação".
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