São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009

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POLA NACHMANOVICZ (1924-2009)

A sobrevivente que tentou esquecer Auschwitz

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo o bairro -conta a filha Sara- conhecia Pola Nachmanovicz, a senhora simpática que parava para conversar com quem quer que fosse pelas ruas de Higienópolis, região central de SP.
Mas nem os amigos do bairro nem os filhos conheceram exatamente sua história, porque ela e o marido, desde que chegaram ao Brasil no fim dos anos 40, decidiram esquecer o passado.
Nascida na Polônia, perdeu toda a família durante a Segunda Guerra (1939-45), com exceção do pai, que havia se mudado para o Brasil antes do conflito -ele arrumaria as coisas por aqui para depois trazer a família.
Judia, foi mandada para o campo de concentração de Auschwitz. Com o fim da guerra, casou-se na Alemanha e passou três meses na França antes de vir ao Brasil.
Em SP, seu pai havia montado uma loja de roupas.
O casal, então, seguiu os mesmos passos: quando as coisas melhoraram, abriram o próprio estabelecimento na rua José Paulino. Trabalharam ali por longos anos, até que o marido começou a ficar doente -eles alugaram a loja e se aposentaram.
A filha lembra que falar da guerra em casa era um tabu.
Quando o assunto surgia, seu pai, que tinha a numeração de prisioneiro marcada na pele, costumava chorar. Pola, com seu forte sotaque, pedia para a deixarem quieta.
Viúva desde 2003, morreu segunda, aos 85, após sofrer uma parada cardíaca. Teve duas filhas e quatro netos.

coluna.obituario@uol.com.br


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