|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLA NACHMANOVICZ (1924-2009)
A sobrevivente que tentou esquecer Auschwitz
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo o bairro -conta a filha Sara- conhecia Pola
Nachmanovicz, a senhora
simpática que parava para
conversar com quem quer
que fosse pelas ruas de Higienópolis, região central de SP.
Mas nem os amigos do
bairro nem os filhos conheceram exatamente sua história, porque ela e o marido,
desde que chegaram ao Brasil no fim dos anos 40, decidiram esquecer o passado.
Nascida na Polônia, perdeu toda a família durante a
Segunda Guerra (1939-45),
com exceção do pai, que havia se mudado para o Brasil
antes do conflito -ele arrumaria as coisas por aqui para
depois trazer a família.
Judia, foi mandada para o
campo de concentração de
Auschwitz. Com o fim da
guerra, casou-se na Alemanha e passou três meses na
França antes de vir ao Brasil.
Em SP, seu pai havia montado uma loja de roupas.
O casal, então, seguiu os
mesmos passos: quando as
coisas melhoraram, abriram
o próprio estabelecimento
na rua José Paulino. Trabalharam ali por longos anos,
até que o marido começou a
ficar doente -eles alugaram
a loja e se aposentaram.
A filha lembra que falar da
guerra em casa era um tabu.
Quando o assunto surgia, seu
pai, que tinha a numeração
de prisioneiro marcada na
pele, costumava chorar. Pola,
com seu forte sotaque, pedia
para a deixarem quieta.
Viúva desde 2003, morreu
segunda, aos 85, após sofrer
uma parada cardíaca. Teve
duas filhas e quatro netos.
coluna.obituario@uol.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Naufrágio: Dono e comandante de barco são indiciados Índice
|