São Paulo, quinta, 23 de julho de 1998

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REMÉDIOS FALSOS
Ex-balconista acusa cinco comerciantes de comprar a Microvlar do vendedor Abílio de Oliveira
Balconista aponta pivô do derrame de pílula

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

A principal testemunha do inquérito que apura o furto de pílulas de teste do anticoncepcional Microvlar da Schering do Brasil, o ex-balconista de farmácia Flávio de Oliveira, 34, denunciou o próprio tio, Jair de Oliveira, como um dos receptadores das pílulas.
A Folha apurou o teor do depoimento de Flávio. Ele afirmou que o representante da distribuidora Farmed, em Mauá, Abílio Antonio de Oliveira, vendeu a Microvlar de teste por preço até 40% inferior ao da distribuidora para pelo menos cinco farmácias de Mauá, entre elas a Jair Farma, de propriedade de seu tio, Jair de Oliveira.
O representante da Farmed vendia o Microvlar "por fora", sem o conhecimento da distribuidora, mas Flávio, no depoimento, disse não saber como o vendedor obteve o produto.
O ex-balconista, que agora trabalha como caldereiro, teme represálias desde a acareação, realizada quarta-feira passada, e já tem combinado um esquema de proteção policial que pode vir a ser acionado a qualquer momento.
Quando foi à acareação, Flávio recebeu escolta de policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais), da Polícia Civil. Para proteger o filho, de 8 anos, ele teria confidenciado a amigos que mandou o menino para o interior.
Flávio afirmou à polícia que soube da venda ilícita da Microvlar quando "fez bico" nas drogarias Camila, de Herivelto Mestriner, e Gaspar, de Ana Maria Rodrigues de Lima, mulher de José Wilson Vitoriano, proprietário da farmácia João Varin.
As pílulas falsas foram postas no mercado, segundo Flávio, entre janeiro e abril deste ano. Em fevereiro, quando trabalhava na drogaria Camila, Flávio afirma que estava na farmácia quando Abílio Oliveira veio cobrar "o dinheiro da Microvlar" de Mestriner.
Na Gaspar, em abril, Flávio viu as cartelas da Microvlar de teste no expositor da farmácia. Ele acredita que a farmácia João Varin também obteve a pílula da mesma forma, pois Vitoriano fazia as compras da Varin pela Gaspar.
Flávio afirmou no depoimento que foi o próprio Abílio quem lhe disse que a Jair Farma e também a Droga Assis, de Antonio Marino, estariam entre seus "clientes".
Os comerciantes já negaram as acusações de Flávio à polícia. Segundo seus depoimentos, o ex-balconista é movido por inveja.
Eles foram procurados pela reportagem da Folha, mas não quiseram falar sobre as acusações de Flávio (leia próximo texto).

Aviso
Segundo o depoimento do ex-balconista, Abílio Antonio de Oliveira chegou a avisar que o único problema que havia nas cartelas da Microvlar que vendia por fora era que o número de lote não havia sido impresso normalmente.
As cartelas da Microvlar de teste são identificáveis por uma sequência de quatro zeros, seguida dos números 1 ou 2 repetidos 11 vezes.
As embalagens, por sua vez, têm algarismos, de 0 a 9, repetidos 15 vezes, no lugar do número de lote e da data de fabricação.
Flávio afirmou à polícia que os comerciantes de Mauá aceitaram o medicamento mesmo após a ressalva do vendedor e usaram isso para barganhar descontos maiores na compra ilícita.
Entretanto, Flávio disse acreditar que os comerciantes compraram a Microvlar ilicitamente sem saber que as pílulas não faziam efeito (leia matéria abaixo).
A Folha apurou que a polícia localizou Flávio no início deste mês por intermédio de uma carta anônima. A carta dizia que Abílio vendeu a Microvlar em Mauá e que o ex-balconista seria testemunha.



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