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REMÉDIOS FALSOS
Ex-balconista acusa cinco comerciantes de comprar a Microvlar do vendedor Abílio de Oliveira
Balconista aponta pivô do derrame de pílula
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local
A principal testemunha do inquérito que apura o furto de pílulas de teste do anticoncepcional
Microvlar da Schering do Brasil, o
ex-balconista de farmácia Flávio
de Oliveira, 34, denunciou o próprio tio, Jair de Oliveira, como um
dos receptadores das pílulas.
A Folha apurou o teor do depoimento de Flávio. Ele afirmou que
o representante da distribuidora
Farmed, em Mauá, Abílio Antonio
de Oliveira, vendeu a Microvlar de
teste por preço até 40% inferior ao
da distribuidora para pelo menos
cinco farmácias de Mauá, entre
elas a Jair Farma, de propriedade
de seu tio, Jair de Oliveira.
O representante da Farmed vendia o Microvlar "por fora", sem o
conhecimento da distribuidora,
mas Flávio, no depoimento, disse
não saber como o vendedor obteve o produto.
O ex-balconista, que agora trabalha como caldereiro, teme represálias desde a acareação, realizada quarta-feira passada, e já tem
combinado um esquema de proteção policial que pode vir a ser acionado a qualquer momento.
Quando foi à acareação, Flávio
recebeu escolta de policiais do
GOE (Grupo de Operações Especiais), da Polícia Civil. Para proteger o filho, de 8 anos, ele teria confidenciado a amigos que mandou
o menino para o interior.
Flávio afirmou à polícia que soube da venda ilícita da Microvlar
quando "fez bico" nas drogarias
Camila, de Herivelto Mestriner, e
Gaspar, de Ana Maria Rodrigues
de Lima, mulher de José Wilson
Vitoriano, proprietário da farmácia João Varin.
As pílulas falsas foram postas no
mercado, segundo Flávio, entre
janeiro e abril deste ano. Em fevereiro, quando trabalhava na drogaria Camila, Flávio afirma que estava na farmácia quando Abílio
Oliveira veio cobrar "o dinheiro
da Microvlar" de Mestriner.
Na Gaspar, em abril, Flávio viu
as cartelas da Microvlar de teste no
expositor da farmácia. Ele acredita
que a farmácia João Varin também obteve a pílula da mesma forma, pois Vitoriano fazia as compras da Varin pela Gaspar.
Flávio afirmou no depoimento
que foi o próprio Abílio quem lhe
disse que a Jair Farma e também a
Droga Assis, de Antonio Marino,
estariam entre seus "clientes".
Os comerciantes já negaram as
acusações de Flávio à polícia. Segundo seus depoimentos, o
ex-balconista é movido por inveja.
Eles foram procurados pela reportagem da Folha, mas não quiseram falar sobre as acusações de
Flávio (leia próximo texto).
Aviso
Segundo o depoimento do
ex-balconista, Abílio Antonio de
Oliveira chegou a avisar que o único problema que havia nas cartelas
da Microvlar que vendia por fora
era que o número de lote não havia sido impresso normalmente.
As cartelas da Microvlar de teste
são identificáveis por uma sequência de quatro zeros, seguida
dos números 1 ou 2 repetidos 11
vezes.
As embalagens, por sua vez, têm
algarismos, de 0 a 9, repetidos 15
vezes, no lugar do número de lote
e da data de fabricação.
Flávio afirmou à polícia que os
comerciantes de Mauá aceitaram
o medicamento mesmo após a ressalva do vendedor e usaram isso
para barganhar descontos maiores
na compra ilícita.
Entretanto, Flávio disse acreditar que os comerciantes compraram a Microvlar ilicitamente sem
saber que as pílulas não faziam
efeito (leia matéria abaixo).
A Folha apurou que a polícia localizou Flávio no início deste mês
por intermédio de uma carta anônima. A carta dizia que Abílio vendeu a Microvlar em Mauá e que o
ex-balconista seria testemunha.
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