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SAÚDE
Nelfinavir, do laboratório suíço Roche, que integra o coquetel de combate ao HIV, passará a ser produzido no Rio
Brasil quebra patente de remédio anti-Aids
DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro decidiu
quebrar a patente do nelfinavir,
medicamento que integra a lista
de 12 itens do coquetel anti-Aids,
depois de frustradas as negociações com o laboratório suíço Roche para reduzir seu preço.
É a primeira vez que o governo
brasileiro quebra a patente de um
medicamento. Nelfinavir é o princípio ativo do remédio comercializado com o nome de Viracept.
O remédio deve começar a ser
produzido a partir do início do
ano que vem pelo laboratório Far-Manguinhos, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio, segundo anunciou o ministro da
Saúde, José Serra. A expectativa
do ministro é que o preço caia em
torno de 50%. O Far-Manguinhos
não confirma esse prazo.
O Ministério da Saúde gasta cerca de US$ 88 milhões (R$ 220 milhões) por ano com a compra do
medicamento. O valor significa
um quarto dos gastos com os 12
medicamentos do coquetel anti-Aids -US$ 310 milhões anuais.
Para produzir o remédio no
país, o governo brasileiro vai usar
o artigo 71 da Lei de Patentes, que
prevê a licença compulsória em
casos de emergência, segundo
Serra. O governo alega que ficaria
difícil manter a distribuição gratuita com o alto custo do medicamento importado. Cada cápsula
de nelfinavir custa US$ 1,07.
Segundo o Ministério da Saúde,
25 mil pacientes no Brasil, dos 100
mil que recebem o coquetel anti-Aids, precisam tomar o nelfinavir.
"Está configurada uma situação
de emergência. Não vou parar de
dar o medicamento para as pessoas. O preço é que define a possibilidade de atendimento. Dinheiro não é clara de ovo, que a gente
bate e cresce", disse Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência
da República no próximo ano.
A licença compulsória não é exclusiva. Além do Far-Manguinhos, outros laboratórios poderão fabricar o medicamento, desde que se habilitem para isso.
O ministro afirmou que o governo brasileiro pagará royalties
(taxa pelo uso da patente do produto) à Roche. "Não somos contra patente, mas contra abuso."
Em fevereiro, o Brasil ameaçou
quebrar a patente de dois remédios anti-Aids: efavirenz, do laboratório norte-americano Merck
Sharp & Dohme, e nelfinavir.
Após negociações, Merck Sharp
& Dohme e governo brasileiro
chegaram a um acordo. A redução dos preços permitiu uma economia de R$ 80 milhões por ano.
"Infelizmente, o laboratório Roche não teve a mesma compreensão do Merck [Sharp & Dohme"",
afirmou Serra. Se o laboratório
ceder e baixar o preço, o governo
brasileiro poderá rever a decisão.
Serra afirmou que também está
negociando com o laboratório
Novartis, que detém a patente do
remédio Glivec, usado no tratamento de leucemia. Ele afirmou
que o laboratório está cobrando
US$ 2.400 por mês por paciente.
Far-Manguinhos
A diretora do laboratório Far-Manguinhos, Eloan Pinheiro, não
quis falar em prazos para o início
da produção do nelfinavir.
Ela afirmou que o processo de
cópia do remédio está concluído e
que o próximo passo será encaminhá-lo para teste de equivalência e aguardar a licença compulsória para fabricação.
"Na equivalência farmacêutica,
o remédio passou, mas eu quero
que ele tenha a mesma absorção
que o do dono da patente."
Segundo Eloan, o processo para
comprovar a equivalência deve
demorar quatro meses. "Pode ser
que a concessão da licença compulsória para fabricação demore
ainda mais, pois a Roche ainda
pode recorrer."
O Far-Manguinhos fabrica sete
dos 12 remédios que compõem o
coquetel contra a Aids.
Colaborou a Sucursal do Rio
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