|
Próximo Texto | Índice
Inquérito investiga se há ligação entre PCC e petistas
Em conversa telefônica sobre os ataques de maio, presos afirmam que os alvos são "políticos, qualquer um, menos do PT"
Escutas foram feitas com
autorização da Justiça;
diretório estadual do
partido em SP não quis se
manifestar sobre o assunto
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Com base em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça,
a polícia de São Paulo abriu inquérito para investigar se existe ligação entre presidiários do
PCC (Primeiro Comando da
Capital) e militantes do PT.
A investigação foi motivada
por um grampo telefônico feito
na noite de 12 de maio deste
ano -data do início da primeira
onda de ataques do PCC- no
qual presidiários foram flagrados ordenando os ataques.
As gravações telefônicas, obtidas pela Folha, mostram diversas conversas entre dois
presos -Magrelo e Moringa.
Após manifestarem dúvidas
sobre os alvos, Magrelo disse
que ligou para outros membros
do grupo criminoso e recebeu
deles a seguinte ordem: "Prioridade: azul [agentes penitenciários], acima do azul, políticos, qualquer um, menos do
PT, entendeu, irmão?"
Em outro trecho, Magrelo
deixa claro que o alvo preferencial seriam políticos do PSDB.
"Civil, funcionários e diretores
do partido P-S-D-B."
As gravações foram feitas por
uma autoridade da região oeste
do Estado e entregues recentemente ao atual secretário da
Administração Penitenciária,
Antonio Ferreira Pinto, que,
por sua vez, repassou ao da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.
Saulo, que foi nomeado para
o cargo pelo hoje presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB),
determinou que o chefe da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, investigasse as escutas.
A Folha apurou que o governador Cláudio Lembo (PFL)
foi avisado à época pelo então
secretário da Administração
Penitenciária, Nagashi Furukawa, sobre a ordem do PCC
para atacar políticos tucanos,
mas optou por não fazer alarde
com a notícia. Deputados do
PSDB foram, então, avisados
por delegados, já na manhã de
13 de maio, sobre o grampo, e a
segurança deles foi reforçada.
Segundo o Ministério Público de São Paulo, Anderson de
Jesus Parro, 29, o Moringa, é
hoje um dos principais chefes
do PCC e está no CRP (Centro
de Readaptação Penitenciária)
de Presidente Bernardes (589
km de SP), onde vigora o RDD.
RDD é um regime de isolamento no qual o preso fica 22
horas trancado, sem direito a
TV, jornais ou visita íntima. O
sistema foi criado pelo PSDB
em 2001 e motivou manifesto
do PCC transmitido pela Globo
para libertar um repórter seqüestrado pela facção.
A polícia acredita que Magrelo seja Rone Clayton Garcia,
preso na cela 502 da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Nos próximos dias, Moringa e Magrelo serão interrogados por policiais do Deic (Departamento de Investigações
sobre o Crime Organizado).
Campanha política
Delegados e policiais do Denarc (departamento de narcóticos) dizem que o grampo com
a ordem dos homens do PCC
para "matar todos os políticos,
menos os do PT" seria mantido
em segredo até as vésperas das
eleições de outubro.
As gravações, ainda segundo
esses policiais, serviriam como
uma espécie de "carta na manga" para as candidaturas tucanas de Geraldo Alckmin (Presidência) e José Serra (Governo
de SP). Seriam usadas pelo partido, de acordo com os policiais,
no caso de as candidaturas sofrerem desgastes por conta da
crise na segurança pública.
O presidente do PSDB-SP,
deputado Sidney Beraldo, disse, após ler parte das transcrições do grampo, que, por ele,
"isso não será utilizado na campanha política" e que "seria
uma irresponsabilidade acusar
o PT de ligação com o PCC".
Para Beraldo, os membros do
grupo criminoso têm "simpatia" pelos petistas porque eles,
quase sempre, estão à frente
dos movimentos de defesa dos
direitos humanos.
Em depoimento à CPI do
Tráfico de Armas, Furukawa,
afastado da secretaria após os
ataques do PCC, deu um cunho
político aos ataques da facção.
Disse ter obtido informações
do serviço secreto da Secretaria
da Segurança Pública de que as
rebeliões e os ataques de maio
feitos pelo PCC tinham o objetivo de prejudicar Alckmin.
O presidente estadual do PT,
Paulo Frateschi, foi procurado
pela Folha no começo de julho
-quando a reportagem recebeu as fitas- e novamente ontem -quando o jornal soube da
abertura do inquérito, mas não
comentou o assunto. Sua assessoria disse que ele só falaria se
a reportagem respondesse a sete perguntas, entre elas, uma
sobre a fonte da informação.
Colaboraram CONRADO CORSALETTE , do Painel, e JOSÉ ALBERTO BOMBIG , da Reportagem
Local
Próximo Texto: Gilberto Dimenstein: Feliz aniversário Índice
|