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Procuradoria aciona Google para abrir dados do Orkut
Ministério Público Federal quer informações de internautas suspeitos de pedofilia
Ação pede indenização de R$ 130 milhões por danos morais coletivos; ONG
já recebeu 105.971 denúncias de crimes virtuais
REGIANE SOARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Ministério Público Federal
de São Paulo entrou ontem
com ação civil pública contra a
Google Brasil Internet Ltda.
para que a empresa cumpra 38
ordens judiciais e abra os dados
dos internautas suspeitos de
veicular páginas e comunidades de pedofilia e de racismo no
site de relacionamento Orkut.
A ação foi ajuizada na Justiça
Federal de São Paulo.
O procurador Sérgio Suiama
pediu na ação que as informações sejam fornecidas por meio
de liminar, sob pena de multa
diária de R$ 200 mil por ordem
descumprida.
Os dados dos criadores dos
perfis e das comunidades criminosas são necessários para
identificação dos usuários brasileiros do serviço Google que
divulgam imagens de pornografia infantil ou manifestações de ódio contra negros ou
judeus, por exemplo.
Segundo o procurador, 70%
dos usuários do Orkut são brasileiros, o que representa mais
de 20 milhões de pessoas.
A ONG Safernet Brasil, que
trabalha em parceria com o Ministério Público Federal, já recebeu 105.971 denúncias de crimes virtuais entre 30 de janeiro
e ontem. A maioria é de pornografia infantil praticada por
usuários do Orkut. A entidade
estima que já foram divulgadas
pelo site 40 mil imagens de
crianças e adolescentes sendo
explorados sexualmente.
Na ação, o procurador pede
ainda que a Google Brasil pague
indenização de R$ 130 milhões
por danos morais coletivos,
uma vez que a empresa prejudicou as investigações. Segundo o
procurador, o valor equivale a
1% da receita bruta do grupo
Google em 2005. O valor deverá ser revertido ao Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente.
Caso o desrespeito às ordens
judiciais persista, o Ministério
Público Federal pede que a
Google Brasil seja dissolvida.
Mesmo se for acatada, essa decisão não deverá acabar com os
serviços de busca ou com o Orkut, pois são prestados pela
Google Inc, com sede nos EUA.
Segundo o procurador, a
Google Brasil havia declarado à
Justiça que não tem como fornecer as informações porque
somente a Google Inc. possui
os dados. Suiama, porém, lembra que o mesmo pedido feito
pela Justiça Federal às concorrentes americanas Microsoft e
Yahoo foram acatados, apesar
de também terem os dados hospedados fisicamente nos EUA.
"A questão não é onde estão
os dados, mas quem tem acesso
a eles. E é uma decisão política
da empresa americana [Google
Inc.] de não conceder isso à filial brasileira", disse Suiama.
Além disso, o procurador
lembrou que o Google já foi
obrigado a fornecer dados sobre uma página criada no Orkut
com ataques a uma personalidade brasileira após ela ter entrado com ação na Justiça.
"Não é possível você ter uma
filial de um provedor americano instalado no Brasil que se recusa a cumprir a legislação brasileira e a fornecer os dados, assegurando, com isso, a impunidade desses criminosos."
O Ministério Público Federal
já instaurou 52 procedimentos
para investigar crimes virtuais
e identificar seus autores. Em
38 deles a Justiça já autorizou a
quebra de sigilo, mas a empresa
não cumpriu a decisão. Em seis
novos pedidos, a Justiça ainda
não se manifestou.
A Google constituiu um procurador no país para atender
especificamente as ordens judiciais brasileiras. Porém, nos
seis casos em que houve solicitação direta ao procurador,
Suiama diz que os dados apresentados foram insuficientes
para identificar os criminosos.
O procurador lembrou que o
governo chinês impôs controle
ao Google antes mesmo de a
empresa ingressar no país. No
serviço de busca, por exemplo,
algumas informações são censuradas antes de serem divulgadas no site. Já nos EUA há
uma lei federal que obriga todos os provedores a notificar os
casos de pornografia infantil a
uma ONG que atende crianças
desaparecidas e abusadas.
O presidente da Safernet,
Thiago Tavares, disse que a melhor maneira para se combater
a pornografia infantil na internet é a orientação por parte dos
pais, pois o "Orkut não fiscaliza
o cumprimento de suas próprias regras".
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