São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Petrobras terá de remover famílias de "lixão"

Ao menos 84 famílias construíram casas sobre área onde estatal depositava derivados de petróleo em São Sebastião, no litoral norte

Cetesb calcula que será preciso retirar 6.470 toneladas de resíduos e solo contaminados; poluentes atingiram lençol freático

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Petrobras terá que remover pelo menos 84 famílias que construíram suas casas sobre um lixão químico formado por derivados de petróleo depositados pela estatal há mais de 20 anos em uma área do bairro Itatinga, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo.
Além de tornar obrigatória a retirada dos moradores, os poluentes atingiram o lençol freático, e o uso de água de poços está proibido na região do Itatinga, um bairro popular a menos de 1 km dos tanques de armazenamento da Petrobras.
Pelas análises, os poluentes atingiram o polígono compreendido pelas ruas Tancredo Neves, Júlio Prestes de Albuquerque e Benedito Pedro dos Santos e a avenida Itatinga.
A área contaminada, de 15 mil m2, que fica a cerca de 800 metros do mar, foi descoberta em 2006, quando um morador encontrou manchas de óleo ao escavar o terreno para reformar e ampliar sua casa.
Segundo moradores, por volta do início da década de 1980 caminhões chegavam ao bairro carregados com resíduos de petróleo, incluindo os retirados após vazamentos no Tebar (Terminal Marítimo Almirante Barroso), o maior do país.
Depois da descoberta das manchas de óleo no terreno do vizinho, outros moradores da região passaram a investigar por conta própria, e a contaminação foi então confirmada. Até agora, 17 famílias foram retiradas do bairro.
No início, a suspeita era que o foco contaminado fosse bem menor, de 200 m 2, chamado de "área vermelha", mas em julho um relatório da Cetesb (agência ambiental de São Paulo) confirmou que o despejo havia alcançado um terreno maior.
O local é formado por dois terrenos com uma pequena elevação, que são separados por uma região de várzea, onde existe um córrego, que também deve estar comprometido.
O curso-d'água da área contaminada é um dos afluentes do córrego Mãe Izabel, que deságua na baía do Araçá, principal ecossistema de mangue do canal de São Sebastião.
"O mangue faz parte do ciclo de vida de peixes, crustáceos e moluscos. Tem uma cadeia biológica enorme ali", afirma o ambientalista e advogado Eduardo Hipolito do Rego, suplente do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente).
Os resíduos foram despejados pela Petrobras há duas décadas em um terreno a cerca de 1 km dos tanques da empresa, ao lado do Tebar (Terminal Marítimo Almirante Barroso).
Segundo a Cetesb, as análises realizadas até agora apontaram que será necessário retirar do bairro 6.470 toneladas de resíduos e solo contaminados -peso igual ao de 8.000 Fuscas.
O secretário do Meio Ambiente de São Sebastião, Téo Balieiro, disse que somente com mais investigações será possível apontar a área afetada.
"Há dificuldades, pois será preciso demolir casas para investigar. Algumas não querem negociar e entraram na Justiça contra a Petrobras", diz.

Saúde
Em agosto de 2006, a Petrobras realizou uma análise no ar, em 62 casas da área de maior risco, em dois outros pontos do bairro e em outros seis no centro de São Sebastião, que descartou a presença de agentes químicos (como benzeno, tolueno e xileno).
De acordo com a estatal, também foram feitos exames laboratoriais, no Brasil e na Itália, que afastaram a possibilidade de efeitos na saúde humana.


Texto Anterior: Foco: Curvas mal projetadas também causam acidente em rodovia, diz estudo
Próximo Texto: Outro lado: Em nota, empresa diz que testes mostram que contaminação não afetou saúde de moradores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.