São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Foco

Longe de Pequim, Brasil tenta ouro em olimpíadas internacionais de ciências

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao longo das últimas semanas, duas dezenas de adolescentes vestiram a camisa do Brasil em olimpíadas internacionais. Nada a ver com as disputas em Pequim. Em vez de força física, tiveram de mostrar conhecimento nas Olimpíadas de Química, em Budapeste (Hungria), de Física, em Hanói (Vietnã), de Matemática, em Madrid (Espanha), e de Biologia, em Mumbai (Índia).
As olimpíadas internacionais de ciências são disputadas por estudantes de nível secundário (ensino médio) de todo o mundo. Eles têm entre 16 e 18 anos e se submetem a exames escritos e experimentos práticos.
As provas são aplicadas normalmente em julho e em agosto, meses de férias escolares em parte dos países do hemisfério Norte.
Longe de ser potência, o Brasil conquistou neste ano sete medalhas de prata e seis de bronze. Por ora, nada de ouro. Mas há esperança. Estão em curso neste momento as Olimpíadas de Astronomia e Astrofísica, em Bandung (Indonésia), e de Informática, no Cairo (Egito).
"Competir foi uma mistura de nervosismo com emoção", diz Guilherme Victal, 16, de São Paulo, que chegou do Vietnã trazendo uma medalha de prata, título até então inédito para o Brasil na Olimpíada Internacional de Física. "Foi uma experiência interessante também porque nunca tinha me imaginado em Hanói."
Para representar o país no exterior, os estudantes precisam passar pelas olimpíadas brasileiras, que envolvem escolas de todo o tipo. Antes de viajarem para o exterior, os vencedores fazem treinamento intensivo com professores universitários.
Como reflexo da famigerada educação nacional, os alunos da rede pública quase nunca passam das "eliminatórias". Às quatro olimpíadas deste ano -já encerradas- o Brasil enviou apenas alunos de colégio particular.
Segundo Rubens Oda, vice-coordenador da Olimpíada Brasileira de Biologia, 70% dos inscritos nas "eliminatórias" nacionais são da rede pública. "Mas não passam de jeito nenhum", diz.
"A escola pública não tem dinheiro, não tem laboratório. Você já sabe o resultado", afirma Sérgio Maia Melo, da coordenação da Olimpíada Brasileira de Química.
Fã ardorosa da química orgânica, Thaís Macedo, 17, ganhou prata na Hungria. "Não quer dizer que sou melhor do que ninguém. Apenas tive oportunidades", diz. Os colégios particulares em que ela estudou, em Fortaleza, sempre ofereceram atividades extras de ciências. "Estudei duro também. Eu só saía de casa uma vez por semana, para ir à missa."
Com o currículo ostentando vitórias em edições passadas da Olimpíada Brasileira de Química, Thaís conseguiu ser aceita no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, uma das instituições de ensino superior mais prestigiosas do mundo.
Os colégios particulares ficam de olho nos vencedores. Henrique Pondé, 18, medalhista na Olimpíada Brasileira e na Internacional de Matemática, deixou a família em Salvador no início do ano para concluir os estudos em São Paulo. Aceitou a bolsa de estudos oferecida por uma grande escola da cidade.
As olimpíadas brasileiras e a viagem dos competidores para o exterior são, na maioria das vezes, custeadas pelo governo. No início do mês, os ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia abriram edital oferecendo R$ 1,5 milhão às entidades que quiserem se responsabilizar pelas competições científicas.


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